Chegando às lojas no dia 20 de junho de 2014, o primeiro volume das duas caixas de Blu-rays lançadas pela Bandai Visual compilou 55 episódios do seriado televisivo. Além dos capítulos remasterizados em alta resolução, o volume veio acompanhado de uma publicação especial de 24 páginas. Contendo uma enciclopédia ilustrada dos personagens, o livreto trouxe ilustrações exclusivas da mestra Michi Himeno e a sinopse dos episódios ínsitos na caixa.

   A publicação também brindou os fãs com a filmografia dos primeiros 55 episódios da série clássica e com duas entrevistas imperdíveis — os bate-papos com o senhor Takao Koyama, o roteirista-chefe do seriado, e com o célebre diretor e produtor Kōzō Morishita, que concebeu os elementos das cenas de ação do anime.

 Linhas Gerais da História

 

Saga da Guerra Galáctica (do episódio 1 ao 7)

   Dizem que os “cavaleiros”, os combatentes da esperança, sempre aparecem quando o mal assola este mundo. A Fundação Graude despachou órfãos a todos os rincões do mundo em prol da formação desses guerreiros. Um deles, Seiya, foi mandado para o Santuário, na Grécia, o berço dos cavaleiros.

   Ao fim de 6 anos de um rigoroso treinamento, ele bateu Cassios, outro aspirante a cavaleiro, conquistando a armadura de Pégaso e o título de cavaleiro de bronze. Se voltasse com a armadura, poderia rever a irmã mais velha, de quem foi separado…

   Acreditando nisso, Seiya regressou a seu país natal; contudo, o homem que lhe prometera o reencontro com a irmã, Mitsumasa Kido, presidente da Fundação Graude, já havia deixado este mundo.

   A sucessora de Mitsumasa, Saori Kido, demanda sua participação na Guerra Galáctica, onde deverá combater seus colegas cavaleiros. Ela diz que a armadura de ouro da constelação de Sagitário, que fulgura no cume da hierarquia das armaduras, será dada ao vencedor do torneio.   

Vindo da Sibéria para derrotar Seiya e ganhar a armadura dourada, Hyoga ridiculariza Hidra

   A princípio, Seiya se recusa a lutar; contudo, condicionando sua participação à reunião com a irmã, pactuada com Saori, ele decide entrar na Guerra Galáctica. Pégaso continua a vencer, passando por Geki de Urso e Shiryu de Dragão.    

   Alguém invade o torneio durante a luta de Jabu de Unicórnio e Shun de Andrômeda. Esse homem era o décimo cavaleiro, Fênix.

O inesquecível duelo de Seiya e Shiryu forjou uma amizade indissolúvel

Saga dos Cavaleiros Negros (do episódio 8 ao 22)

   Fênix era na verdade Ikki, o irmão mais velho de Shun. No entanto, o homem afetuoso com o irmão mais novo mudou completamente e, sem misericórdia, desferiu um golpe no garoto, que estava extasiado com o reencontro. Para piorar, após derrotar Jabu e Nachi de Lobo, ele pilhou a armadura dourada com seus subordinados, os cavaleiros negros.

   Partindo no encalço de Ikki e de seu séquito, Seiya e os demais cavaleiros de bronze recuperam algumas partes do traje. Então, Fênix convoca os 4 grandes cavaleiros negros, desafiando a turma de Seiya para um duelo decisivo pelas partes da armadura dourada.

   Para reviver as armaduras de Pégaso e Dragão, que foram severamente danificadas na Guerra Galáctica, Shiryu visita Jamir, a residência de Mu, um reparador de indumentárias. Os dois trajes finalmente ressuscitam. Shiryu também se junta ao grupo, que vence os 4 Devas das Trevas.

   Os rapazes são subjugados pela força de Fênix, mas Seiya acaba triunfando com a cooperação da armadura dourada e dos companheiros. O passado de Ikki vem à tona. Alguém o transformou num cavaleiro do mal.

Ikki é derrotado pelo poder da amizade e pela vontade da armadura de Sagitário

   Surge um novo sicário, Docrates. Os cavaleiros de bronze o derrotam, mas Ikki, que havia voltado ao normal, desaparece, e a armadura dourada acaba sendo roubada, à exceção do elmo.

   Aquele que manipulava Ikki e os demais não era outro senão Arles, o homem que havia se tornado o novo Papa. Nutrindo a despótica ambição de conquistar o mundo, Arles ordena o roubo da máscara e a aniquilação dos cavaleiros de bronze.

   Obedecendo a seu comando, vários assassinos atacam a turma de Seiya. Entre esses homens, estava até mesmo o honrado mestre de Hyoga, o Cavaleiro de Cristal… Em meio às atrozes batalhas mortais, Ikki ressurge, tornando-se um confiável aliado dos rapazes.

O novo Papa do Santuário, Arles, era a fonte de todo o mal

Saga dos Cavaleiros de Prata (do episódio 23 ao 40)

   Furioso com os sucessivos fracassos, Arles envia os cavaleiros de prata, hierarquicamente superiores aos cavaleiros de bronze, como novos executores. Após derrotar o pelotão de frente, formado pelo regimento de Misty, Seiya recebe de Marin, sua mestra, a enigmática mensagem “Proteja Atena”.

Saori Kido é a atual encarnação de Atena, a mitológica deusa da guerra

   A chocante verdade enfim é revelada. Saori Kido era Atena, que voltou à vida nos tempos atuais. 13 anos atrás, logo após vir ao mundo, ela esteve na iminência de ser assassinada por Arles, mas foi confiada a Mitsumasa Kido pelo Cavaleiro Dourado de Sagitário, Aiolos, que presenciou o atentado.

   Dando-se conta de sua situação, Saori e a turma de Seiya fortificam sua resolução de lutar. Contudo, Shiryu acaba perdendo a visão no decorrer das lutas, que se intensificam, e Ikki se separa do grupo, passando a agir de maneira independente.

Shiryu fura os próprios olhos para derrotar o cavaleiro de prata Algol de Perseu

Saga das 12 Casas Douradas (do episódio 41 ao 55)

   Os cavaleiros de prata são derrotados, e Arles finalmente ordena o ataque dos cavaleiros de ouro, os cavaleiros supremos. O irmão mais novo de Aiolos, Aiolia de Leão, investe contra Seiya, mas a armadura dourada de Sagitário, que assumiu sua forma perfeita, aparece. Ao ser informado da verdade pela vontade do irmão, que reside no traje, Aiolia regressa ao Santuário.

Estigmatizado como “irmão do traidor” por 13 anos, Aiolia descobre a verdade

   Acompanhada da turma de Seiya, Saori antecipa o acerto de contas e vai ao encontro de Arles, no Santuário; entretanto, ela acaba tendo o peito alvejado por uma flecha dourada. Só existe uma maneira de salvá-la: atravessar as 12 Casas, protegidas pelos cavaleiros dourados, dentro de 12 horas e trazer Arles, que se encontra no Salão do Grande Mestre.  

   O Cavaleiro de Áries, que protegia a primeira casa, era Mu. Ficando ao lado dos cavaleiros de bronze, Mu avisa que, para atravessar as 12 Casas, é necessário o despertar do “sétimo sentido”, a quintessência do cosmo. Confrontando Aldebarã de Touro na casa posterior, o grupo de Seiya tem seu poder reconhecido, recebendo permissão para avançar.       

   Na Casa de Gêmeos, as coisas tomam um rumo completamente diferente. O ataque desferido pelo cavaleiro de ouro que protege a mansão envia Hyoga sozinho à sétima casa, Libra. Lá ele se digladia com Camus de Aquário, o preceptor do Cavaleiro de Cristal, e acaba confinado num ataúde eterno pelas técnicas do cavaleiro dourado. 

Estupendo, o avant-title do episódio 48 sintetizou os acontecimentos mais relevantes dos primeiros 47 capítulos da série clássica

   Ignorando esse acontecimento, Seiya, Shiryu e Shun alcançam a quarta casa, Câncer. A sentinela da morada, Máscara-da-Morte, é derrotada ao provocar a cólera de Shiryu. Na casa seguinte, Leão, Seiya é vítima dos ataques ferozes de Aiolia, que foi submetido por Arles a uma lavagem cerebral. Contudo, o Cavaleiro de Leão recobra a sanidade graças ao sacrifício de Cassios, que acorre à mansão.  

   Entrementes, Ikki, que curava seus ferimentos na Ilha Canon, é brutalmente atacado por cavaleiros de prata que se dizem discípulos de Shaka de Virgem. Devido à interferência do cavaleiro de ouro, Fênix tem uma luta difícil, mas ocorre uma virada quando ele recebe a proteção divina de Saori. Ikki também decide partir para o campo de batalha, no Santuário.  

Derrotado por Camus de Aquário, Hyoga é sepultado na Casa de Libra

Entrevistas com o estafe

Takao Koyama (Composição da Série)

— Para começar, por favor, nos diga como se envolveu nas produções da Tōei Animation.

Tudo começou quando o senhor Masamune Ochiai, que era o diretor de Don Dracula, de Osamu Tezuka, me apresentou ao senhor Keizō Shichijō, da Tōei. Então, me foi permitido participar de Dr. Slump & Arale-chan, obra na qual o senhor Shichijō atuava como produtor. Eu trabalhei como escritor em Konpora Kid, série dirigida pelo Kōzō Morishita, e acabei conhecendo o produtor Kazuo Yokoyama.

Saint Seiya foi uma oferta do senhor Yokoyama. Se não estou enganado, recebi a ligação por volta de maio de 1986. A obra original, do mestre Masami Kurumada, me foi enviada com antecedência, mas, como se tratava de um circunspecto conteúdo de ação, fiquei surpreso.

— Era uma época em que o senhor ainda tinha uma forte imagem de especialista em animes de comédia, não é?

Isso mesmo. Provavelmente havia muitas pessoas atônitas, pensando “O Takao Koyama vai escrever Seiya?!” Na época em que recebi o telefonema, como a publicação não contava nem com 20 capítulos, mesmo lendo o mangá, não consegui assimilar as configurações [do cenário] direito. Foi por isso que eu recusei a priori.

Além de Highschool! Kimengumi e Doteraman já estarem definidos, também havia Dragon Ball, razão pela qual era um período atribulado. Contudo, foi aí que o senhor Yokoyama proferiu aquelas palavras incrivelmente célebres: “Quero ver como o comediante Takao Koyama vai preparar este trabalho.”

“Como não há um só quadro de sorriso no mangá, se um escritor especializado em ação se encarregar de uma produção séria, a história ficará ainda mais pesada. Portanto, quero que você introduza uns sorrisos”. Ao ouvir essas palavras, não havia opção senão responder: “Eu farei!” (Risos.)

 O fato é que o senhor Yokoyama tencionava suavizar a atmosfera da obra por intermédio da minha escalação. Respondendo a esses anseios, no comecinho, eu incluí cenas de risadas deliberadamente. Por esse motivo, fiz as crianças da Academia Filhos das Estrelas atuarem bastante. Utilizei o nome do meu filho em uma delas, o Makoto. (Risos.)

Trabalhando com o senhor Yoshifumi Hatano no planejamento de Saint Seiya, o produtor Kazuo Yokoyama convenceu o senhor Takao Koyama a ingressar na composição da série

— A imagem dos personagens foi aprofundada, a exemplo do fato de Seiya se hospedar na marina, tocar violão e coisas do tipo, não é?

Foi para ganhar a empatia dos telespectadores. Ocorre que, para que as crianças que não conheciam a mitologia grega também desenvolvessem uma ligação emocional, era melhor escrever sobre a vida privada [dos personagens].

Icônica, a residência de Seiya na marina foi idealizada pelo senhor Takao Koyama

— Por outro lado, por que o senhor não usou a configuração — presente no mangá — que dizia que Seiya e os demais garotos eram todos meios-irmãos, filhos de mães diferentes?

Também ficamos espantados com aquele fato chocante. (Risos.) Já que o Ikki e o Shun são irmãos… isso significa que o Mitsumasa Kido fez com que 99 mulheres dessem à luz as crianças. Eu fugi disso sem pensar duas vezes. (Risos.)

Mesmo que fossem chamados de “100 meios-irmãos”, isso provavelmente não seria transmitido às crianças, e a batalha dos cavaleiros de bronze acabaria se tornando uma briguinha de irmãos.    

Ikki revelou a identidade do pai dos 100 órfãos a Seiya no volume 41 de 1986 da antologia Shōnen Jump, comercializado no dia 22 de setembro de 1986. Dada a inverossimilhança do parentesco dos cavaleiros de bronze, o senhor Koyama resolveu ignorar esse desdobramento do mangá

— Fiquei sabendo que o senhor acabou adoecendo naquela época em virtude do excesso de tarefas.

Como estava a cargo da composição de 3 séries ao mesmo tempo, tinha de escrever 10 roteiros por mês. Porém, a princípio, eu ficava dizendo algo como: “Se eu não fizer, quem vai?”, no estilo de Casshan. (Risos.)

No entanto, uma vez que não tinha nem tempo para dormir, tive um colapso assim que escrevi o episódio 31. Entrando finalmente em pânico, os produtores e o pessoal envolvido fizeram um grande estardalhaço por cerca de uma semana, acabando por convocar o Yoshiyuki Suga para mim. No fim das contas, não consegui fazer com que se preocupassem por mais de uma semana. O fato é que, apesar de toda a minha pretensão, para a minha surpresa, eu não estava fazendo nada tão incrível assim. (Risos.)

No período em que estive de cama, comprei um processador de texto e pratiquei a datilografia deitado. Quando voltei ao trabalho, o pessoal se alegrou com a mudança para os roteiros processados no equipamento. Pois, na época dos manuscritos, sempre acabava ouvindo reclamações como “Não consigo ler a letra!” (Risos.)

Tomando a experiência como lição, passei a não exagerar no trabalho.

— E o que havia por trás da convocação do senhor Yoshiyuki Suga?

Eu o conheci quando ele ainda era um novato, em Paaman (versão de 1983). Ali o nosso santo bateu e a nossa amizade se iniciou, mas, como escritor, é um sujeito extremamente confiável. Ele tem um inexorável compromisso com os prazos de entrega e sempre mantém uma qualidade uniforme. Como se pode ter uma estimativa do script se ele estiver presente, trata-se de um escritor muito apreciado no que diz respeito à composição das séries. É por isso que ele frequentemente me dá uma força nos trabalhos de cuja composição sou encarregado. O Suga também escreveu quase a metade de Seiya, não é?

O Motonori Tachikawa, que escreveu comigo os episódios 35 e 38, é um estudante da primeira turma do Brother Noppo. Como adoeci em fevereiro e fiquei sem poder me mover até meados de março, nós realizávamos os briefings enquanto eu ficava deitado no futon.

Sacramentada em Paaman, a parceria dos senhores Koyama e Suga continuou em Okawari-Boy Starzan S e em Saint Seiya

— Numa entrevista daquela época, o senhor disse que, apesar de inserir piadas, elas eram revisadas…

Acho que houve isso mesmo. Como também não aguentamos apenas cenas de batalha, acabamos ficando com vontade de introduzir uma piadinha mequetrefe. Mas, na hora de escrever, eu pensava “Não vai entrar de jeito nenhum”. O fato é que, se elas seriam rejeitadas, tudo que precisavam fazer é deletá-las. Na época, além de não ter tempo livre para ficar preocupado, de qualquer forma, eu valorizava o ímpeto do processo de composição.

— O que exige atenção especial em produções com uma profusão de cenas de batalha, como Seiya?

Estas são palavras do Kōzō Morishita, mas a tensão dos pequenos não é contínua. Como as crianças assistem absortas ao Tōei Manga Matsuri por no máximo 15 minutos, se excederem esse tempo, elas acabam correndo pelo interior do cinema. (Risos.)

Considerando que fica intolerável se não inserirmos um descanso nos interlúdios, quando se escreve um conteúdo de batalhas, a mudança de cenário é imprescindível. Além disso, se ocorre uma sucessão de batalhas, é complicado porque o número de desenhos também aumenta.

— Ao contemplar o roteiro do décimo terceiro episódio, os movimentos no interior das batalhas estão descritos de forma bastante concreta…

Essa é uma peculiaridade do meu estilo de escrita. Eu também digo aos meus pupilos: “Deve-se escrever de forma que a imagem fique concretamente visível”. Entretanto, não é porque você descreveu a ação concretamente que o diretor do episódio fará uma igual transposição para o desenho. O essencial são as ocasiões em que a ação tem início, a ocasião na qual os protagonistas entram em apuros e o momento da virada. E é totalmente indispensável exibir as técnicas secretas. Se fosse um conteúdo de heróis de carne e osso, poderia ser também apenas uma linha no roteiro: “as batalhas heroicas continuam”.

Afinal, eles contam com a existência independente do coordenador de dublês, uma espécie de perito em batalhas. Mas, como isso não é factível em animes, é bem laborioso. Também precisamos fazer com que a tensão dos personagens do anime seja mantida.

Uma obra-prima dirigida pelo senhor Shigeyasu Yamauchi, o episódio 13 foi escrito pelo veterano Tadaaki Yamazaki

— A composição de uma série concomitante à obra original é complicadíssima, não?

Tratava-se de uma situação em que éramos obrigados a avançar sem enxergar o destino. Portanto, devemos bolar episódios que possam corresponder [aos eventos do mangá] a todo custo. Instruir outros escritores da situação para que este fim seja alcançado também é complicado. Talvez seja por isso que não ampliei o número de roteiristas no início. Porque é mais fácil uma pessoa com o domínio funcional de toda a situação escrever sozinha. Nesta condição, acho que seguimos mais rápido até o final. 

— Entre outras discrepâncias, no mangá, o mestre de Hyoga é uma pessoa diferente do personagem do anime, a verdadeira identidade do Grande Mestre remonta a um cavaleiro dourado… Eliminar essas disparidades foi um martírio, não?

O fato é que, na época do início do programa, a identidade do Papa não estava definida, mas não poderíamos seguir em frente sem solidificar o cenário um pouco. Consequentemente, criei o personagem Arles. Lembro-me vagamente do Cavaleiro de Cristal. Esses personagens originais foram concebidos em conjunto com os produtores e os diretores.

— Quanto ao primeiro cavaleiro original, Docrates, trata-se de um nome bem típico do senhor…

É que eu não conhecia nenhum grego além do Sócrates, sabe? (Risos.) Por isso que é Docrates. Meu estilo?… É uma nomenclatura à Tatsunoko. (Risos.) O doutor Asamori, que desenvolveu as armaduras de aço, também tem o nome Mashin [machine] (leitura chinesa de Asamori) porque construiu armaduras mecânicas.

Recordo-me que o cenário ficou confuso por ter revelado os cavaleiros de aço. Na verdade, é complicado adicionar novos componentes do cenário num ponto em que a história já avançou um pouco. Eu pensei se eles não tinham surgido para acabar comigo… (Risos.)

Os cavaleiros de aço sumiram no meio do trajeto, mas parece que a razão foi contada na continuação do seriado, Saint Seiya Ω, não é? Essa história foi composta pelo Itsuki Itō e pelo meu filho. Nem em sonho eu poderia imaginar que a história deles seria concluída 28 anos depois. Até mesmo a trama dos cavaleiros de aço se tornou uma crônica esplêndida, não é?

Impactante, Docrates foi o primeiro cavaleiro original do anime

— O senhor se recorda dos contos exclusivos que foram publicados nos mooks daquela época?

Eu me lembro de Laços entre Irmãos, do primeiro livro. Eu escrevi coisas como “Ikki, são peixes-arroz!” e “Não gosto de andar em grupo!”, certo? Acho que o mestre Kurumada vivia aturando essas minhas presepadas. (Risos.) Do segundo, Saga! O Prelúdio da Ambição, eu não lembro. Só me lembro claramente da [parte do] “Não gosto de andar em grupo!” (Risos.)

Na época que escrevi isso, recebi bastantes cartas dos fãs. Eles me escorraçavam: “Sou fã do Ikki. Não o use em piadas!” Ainda bem que não era como hoje, a era da internet. (Risos.)

O senhor Koyama escreveu os contos exclusivos dos livros Jump Gold Selection I e Jump Gold Selection II, lançados em 1988

— Qual foi a impressão do senhor em relação à imagem finalizada?

As técnicas secretas que o mestre Kurumada desenha frequentemente são representadas em páginas duplas e grandes quadros do mangá, não é verdade? Eu estava ansioso para ver como aplicariam os movimentos característicos do anime a esses elementos. O Meteoro de Pégaso dispara 100 golpes por segundo, não é? Sem ter ideia de como representariam algo assim, fiquei incrivelmente aturdido quando assisti à primeira exibição prévia. Até porque o Morishita, que concebeu essas ações, se gabava de ser o “Action no Morishita” [o Morishita da ação]. Eu migrei com ele de Konpora Kid para Seiya, e depois trabalhamos juntos em Dragon Ball Z. Como temos a mesma idade, somos mais ou menos irmãos de armas, sabe? O Action no Morishita me ensinou várias e várias coisas.

Um perito em cenas de ação, o senhor Morishita concebeu quase toda a mecânica dos combates de Saint Seiya. Juntamente com o veterano Tomoharu Katsumata, é reverenciado como mentor pelo senhor Shigeyasu Yamauchi e sua talentosa geração de diretores

— Por favor, fale-nos também da Saga de Asgard, que começou após a Batalha das 12 Casas.   

O fato de ser totalmente original não quer dizer, de forma alguma, que é fácil, sabe? É tão complicado quanto bolar outra produção. Confinados numa hospedaria em Kagurazaka, nós todos fizemos uma reunião e, como havia o risco de acontecer uma sobreposição ao mangá se recorrêssemos à mesma mitologia grega, conversamos sobre utilizar outras mitologias para os inimigos. Assim, surgiu a mitologia nórdica.

Não lembro de quase nada, mas me recordo de que havia um sujeito que foi criado por lobos. Uma garota criada por lobos que tinha sido descoberta na Índia foi a sugestão.

A história folclórica de Kamala e Amala foi uma sensação em 1920. Kamala aparentava ter 8 anos, ao passo que Amala era um bebê. Amala logo sucumbiu a uma febre misteriosa, mas Kamala sobreviveu por mais de 8 anos

— (Apontando no mook) Este Fenrir, não é?

Esse mesmo! A técnica secreta é Wolf… Cruelty… Claw?… Com certeza, consultamos dicionários japonês-inglês e coisas do gênero como se não houvesse amanhã… (Risos.)

Por alguma razão, me lembro dos nomes Shido [Syd] e Bado [Bud]. Este aqui nós certamente chamamos de Thor porque era alto. (Risos.)

O guerreiro-deus Fenrir surgiu no memorando A Epopeia do Anel Dourado, um documento redigido pelo senhor Takao Koyama na primeira dezena de 1988

— Por favor, diga quais personagens impressionaram o senhor.

Assim como o Joe era mais popular que o Ken em Kagaku Ninja-Tai Gatchaman, era mais divertido escrever sobre os coadjuvantes do que sobre os protagonistas. Não importa o que aconteça, o Seiya só fala coisas certinhas, não é verdade? Mas o protagonista precisa ser assim mesmo.

Pessoalmente, eu gostava mais do Shiryu. As relações humanas com o Mestre-Ancião e com a Shunrei eram claramente definidas, e a mentalidade dele também era a mais próxima da psique japonesa. Em função da perda da visão e situações afins, as histórias também eram fáceis de escrever.

Depois dele, gosto também do Hyoga. A parede eterna de gelo… As circunstâncias em que foi criado eram únicas, não é verdade? Sinto que fui atraído pela aurora… A seguir, o Ikki também era charmoso, não? Era um personagem cheio de prerrogativas especiais. (Risos.)

— Para o senhor, que tipo de trabalho é Seiya?

 Para o escritor Takao Koyama, este trabalho consiste numa obra que marcou época. Nesta produção, eu estudei como mesclar ação e comédia. Acredito que, se tivesse recusado o convite do senhor Yokoyama, eu não teria me envolvido em Dragon Ball Z.

Se compararmos ao beisebol, dizem que, como o rebatedor destro acabaria ficando com o corpo curvado se balançasse o taco somente na caixa da direita, ele também utiliza a caixa da esquerda às vezes. É a mesma coisa. Graças a Seiya, consegui sair da condição de escritor especializado em piadas para me tornar um “batedor ambidestro”, capaz de escrever também conteúdos de ação.

Além disso, apesar de ter adoecido no meio, como eu estava escrevendo sozinho no início, [o trabalho] também se ligou à minha autoconfiança como escritor. De fato, aquela época foi dificílima. Mas não é que eu estivesse escrevendo a contragosto; eu estava superempolgado. Embora engendrar componentes do cenário quando não se pode vislumbrar o que há à frente seja problemático, foi divertido. E, como o programa era popular, o estafe também conseguiu dar o seu melhor.

Entrando nesse grande manto que o mestre Kurumada nos estendeu, nós também conseguimos fazer o nosso trabalho e, graças a essa sinergia, tanto o anime quanto o mangá foram ficando mais e mais interessantes. O fato é que se trata de uma série produzida no período em que nós do estafe éramos capazes de trabalhar mais duro do que nunca.

Hoje, ainda que os mesmos membros se reunissem, provavelmente não conseguiríamos fazer um trabalho desse nível. Creio que, sem dúvida, é um caso em que todos os requisitos estavam presentes. Fui realmente um felizardo por ter podido ingressar nesta produção num timing tão importante.

Após o término de Saint Seiya, o senhor Takao Koyama escreveu 15 filmes de Dragon Ball Z

— Na opinião do senhor, por que a série continua a ser amada?

Penso que as pessoas que assistiam a esta produção partilhavam a mesma época. Se ouvir “Saint Seiya”, todo mundo, sem importar a idade ou sexo, consegue se lembrar do que estava fazendo, não? Eles dizem: “Na época de Seiya, eu estava em tal ano!” Tamanho foi o fascínio dos garotos e garotas pela série.   

Os magníficos cenários e a história baseados na mitologia, a aventura do prosseguimento simultâneo do mangá e do anime também… creio que eles possam ter se divertido no que tange à imersão.

O fator mais importante decerto são os desenhos, não é? Os denominadores comuns, os elementos imprescindíveis às produções de sucesso, estavam todos presentes. É um fruto daquela época, certo?

 

Takao Koyama

Nascido em 1948, é natural de Tóquio. Em 1972, ingressou na divisão de projetos e literatura da Tatsunoko Pro. Estreando como roteirista em Inakappe Taishō, coordenou os roteiros de animes como Kaiketsu Tamagon (1972) e Shinzō Ningen Casshan (1973). Também participou do introito de Time Bokan (1975). A partir de 1975, passa a atuar como freelancer. No seriado Time Bokan, entre Zendarman (1979) e Kaitō Kiramekiman (2000), participou dos projetos, da composição das fases e dos roteiros. Como representante do grupo de roteiristas Brother Noppo, fomentou um grande número de escritores. Atualmente, leciona criação de personagens e arte visual na Universidade de Osaka. Participou de Saint Seiya com o nome Takao [高男] Koyama.

Entrevistas com o estafe

Kōzō Morishita (Diretor e Produtor da Série)

— Para começar, por favor, conte-nos a história a partir do início do projeto.

Era um projeto tocado por pessoas como o Yoshifumi Hatano, da produção, e o Ken Ariga, chefe da divisão de projetos na época. Naqueles tempos, o competidor do horário das 19 horas dos sábados, o Manga Nippon Mukashibanashi, tinha uma força avassaladora, e, pensando que não poderíamos vencê-lo com o mesmo conteúdo familiar, nós o enfrentamos com impacto.

Eu fui contatado após a finalização de The Transformers: The Movie, que fiz no exterior. Foi por volta do período em que o Ikki tinha aparecido na serialização da Shūkan Shōnen Jump e, como ainda não havia um estoque de mangás, indaguei ao mestre Masami Kurumada o desenvolvimento futuro. Ao perguntar, adquiri a convicção de que, se fosse daquele jeito, poderíamos fazer como um conteúdo de ação e concebi o cenário junto com o Takao Koyama, do roteiro.

Era um cronograma infernal, com o roteiro ficando pronto em julho e a difusão começando em outubro. Ainda que ambos os segmentos sejam produções animadas, o modo de fazer uma série original é diferente do jeito de produzir um trabalho derivado de um mangá; e, até então, eu só vinha lidando com conteúdos originais. Entretanto, o mestre Kurumada tinha o seguinte pensamento: “Mesmo que não siga integralmente o mangá, não tem problema”.

Como ele aprovou tanto os personagens do senhor Shingo Araki quanto a história proposta por nós, foi tão fácil de fazer quanto uma produção autóctone.

— Quem escolheu o senhor Araki para o character design?

Nós e os produtores conversamos e decidimos. A obra do mestre Kurumada tem a imagem de delinquentes juvenis que trabalham pela justiça, e o senhor Araki adicionou inocência a esses personagens másculos. Eu fiquei atônito na primeira vez que vi os personagens finalizados.

A primeira vez que trabalhei com o senhor Araki foi em UFO Robo Grendizer, e o episódio que dirigi, o capítulo 68, Maria na nevasca, me impressiona até hoje. Os desenhos nos quais o senhor Araki realizou a supervisão de animação tinham uma qualidade que rivalizava com a das produções para o cinema.

Além disso, as armaduras da versão animada também tiveram seu desenho concebido pelo senhor Araki e pela senhora Himeno. Como o mestre Kurumada aprovou o design miniaturizável que os dois engendraram, os brinquedos daquela época (linha Saint Cloth) se tornaram um sucesso.

Ingressando no estúdio Araki Pro. em 1975, a senhora Michi Himeno confeccionou suas primeiras imagens-chave em UFO Robo Grendizer. Com a animação dirigida pelo mestre Shingo Araki e as imagens-chave delineadas pela mestra Michi Himeno e por Fujie Katsuta, o episódio 68 é um dos mais belos da série. A doçura do traço da mestra Himeno transparece na graciosidade da personagem Maria Grace Fleed

— E como decidiram a escalação do elenco?

Acho que, no caso deste trabalho, escolhemos por uma audição. Nesta produção, eu conheci os senhores Hirotaka Suzuoki, Kōichi Hashimoto e Ryō Horikawa. Impressionante mesmo foi a Atena da senhora Keiko Han, não é verdade?

O fato de ter o frescor característico dos novatos e, ainda assim, um ar de intelectual foi ótimo. Ela nos fez o favor de interpretar a personagem conforme a imagem da Saori retratada na abertura, antes da consolidação dos componentes do cenário.

A princípio, a senhora Keiko Han se baseou na frieza característica da aristocracia japonesa para interpretar a esnobe Saori

— A abertura, cujo storyboard é da autoria do senhor, foi fabulosa. Naquela época, ficamos surpresos com o fato de o quinteto encabeçado por Jabu ter recebido o mesmo tratamento dos personagens regulares.

O mesmo ocorreu com a Atena, de quem falei agora há pouco. Mas isso se deveu ao fato de a abertura ter sido criada num período em que não sabíamos dos acontecimentos futuros. Contudo, creio que atualmente não há muitos diretores capazes de realizar um storyboard tão detalhado. Embora seja chato por se tratar de autopromoção… (Risos.)

Fragmentos das imagens-chave do filme da abertura

— Por favor, fale dos diversos experimentos incorporados nesta produção.

Para expressar a textura das armaduras, eu mesmo fiz a paleta de cores. É que, embora fosse a época da pintura manual, a inserção de sombras e luzes não podia faltar. Além de consumir tempo e dinheiro, até mesmo um período de secagem se tornou necessário. Eu era repreendido pela companhia o tempo todo. (Risos.)

Além disso, como também fazíamos os cabelos em duas cores, ao adicionar as sombras às cabeleiras, o número de tonalidades aumentava ainda mais. E os cenários densos do estúdio Mukuo também eram uma característica distinta. Ciente da profundidade dos desenhos do estúdio Mukuo e do senhor Araki, eu também os estudei bastante.

Revolucionando a indústria da animação japonesa, a qualidade do acabamento de Saint Seiya não encontra paralelos nos animes televisivos da década de 80

— Os protagonistas se digladiam com adversários superiores e, mesmo sendo subjugados, realizam uma virada no final. O senhor pensou em como fazer uso desse charme do mangá?

Essa é a lei basilar das obras da Jump. Quando se pensa que os 5 finalmente venceram ao se unir, um chefão ainda mais poderoso aparece em seguida. Acho que é este desenvolvimento emocionante que invoca a popularidade. Para fazer o máximo uso dessa tensão, prolongávamos a história tanto quanto fosse possível. Creio que seja por isso que a turma de Seiya era deixada num estado mais lastimável que no mangá. No entanto, quando aparecia o Meteoro de Pégaso da virada, a luta logo era decidida, não é verdade? (Risos.)

Eu fui incumbido de dirigir a primeira produção para o cinema, Éris, a Deusa Maligna, mas, devido à limitação da extensão dos filmes, foi dificílimo. Foi por esse motivo que estruturei o média-metragem em “virada e conclusão”, e não em “introdução, desenvolvimento, virada e conclusão”. Afinal, os inimigos aparecem de repente… (Risos.)

Esse expediente só é possível por causa dos personagens. Porque o panorama do universo já está consolidado, certo? Além disso, o protagonista é mesmo o Seiya. Não é possível que os 5 cavaleiros de bronze lutem na mesma medida. É por isso que, em todas as vezes, o desenvolvimento se transfigura no fenecimento sucessivo dos outros 4 e na vitória do Seiya, adortado com o cosmo deles, sobre o grande inimigo. Ainda assim, os populares entre os fãs são o Shiryu e o Hyoga… É complicado. (Risos.) 

No primeiro filme, o senhor Morishita prestigiou os fãs com fantásticas inovações na mecânica dos duelos

— A direção daquelas tomadas em que eles caem de cabeça ao receber o ataque do inimigo ou são arremessados com o rosto rasgando o chão era impressionante…

Essas também são técnicas para mostrar a profundidade. Como a distância em relação ao inimigo se ampliará se eles forem atirados para longe, a tela se converterá numa composição com profundidade. Aquelas tomadas em que eles passam um pelo outro com um soco visando o adversário ocorriam porque eu queria uma “reserva”.

Se houvesse uma “reserva”, não poderíamos saber quem venceu de imediato. O que eu tinha em mente eram as cenas mais legais dos filmes de espada, a exemplo do confronto entre Toshirō Mifune e Tatsuya Nakadai em Tsubaki Sanjurō. Por assim dizer, o primor do estilo japonês. Nós estávamos fazendo isto por intermédio da “sensação”.

O diretor Kōzō Morishita adaptou a reserva [tame], uma técnica cinematográfica característica dos duelos de samurais, para os combates corpo a corpo dos cavaleiros

Além disso, eu pensava demasiadamente em ideias de ação, como os fragmentos de pedra revolvendo no ar etc. Ter de conseguir a aprovação dos fãs enquanto incorporamos essas partes autóctones é a dificuldade dos conteúdos derivados de mangás.

O desfecho do incrível duelo de Ikki e Mime é um exemplo lapidar de uso do recurso estilístico alcunhado de “reserva” [tame]

— Como vocês realizavam a concatenação de personagens originais e histórias?

Naquela época, como os quadrinhos estavam em publicação, se não incluíssemos trechos originais, o anime acabaria alcançando o mangá. No entanto, ainda que tenhamos seguido a mesma trilha pelo fato de que não ficaria bom se parecesse uma obra totalmente diferente do mangá, no meio do caminho, percebemos um andamento com aquele cheiro que denunciava: “Tem algo diferente aqui”. Poderíamos dizer que é como a construção de um desvio, não é? (Risos.)

Como o mestre Kurumada acalentava o seguinte pensamento: “Se for interessante, eu não ligo”, ele praticamente não enviou retificações a nossas ideias. Na hora de arquitetar as histórias originais, nós todos nos arregimentávamos em Izu. Começávamos por decidir os nomes dos personagens. O Ōko, dos episódios 33 e 34, foi um personagem que eu concebi.

— E o que será que o senhor queria retratar em Seiya?

A filosofia de vida de homens toscos mas maneiros. Tínhamos em mente, acima de tudo, a expressão dos sentimentos do Seiya, o protagonista. Além disso, no que tange à qualidade, penso que lançamos por terra o senso comum dos animes de TV convencionais. Porque introduzimos desenhos e histórias comparáveis aos dos filmes em um anime, que era um artigo de produção massificada.

Além de não podermos enfrentar o Manga Nippon Mukashibanashi com uma produção meia-boca, a energia do estafe também transbordava na época. Os artistas, a começar pelo senhor Araki, também tiveram ideias, e esse desvelo do estafe notavelmente fez jus à popularidade do mangá.

— A partir da Saga de Asgard, o senhor atuou como produtor, e não como diretor de núcleo, não é verdade?

É que se gasta demais com minha forma de trabalhar. (Risos.) Aquela época foi o período em que profissionais como o Daisuke Nishio e o Yokio Kaizawa entraram na companhia, e a empresa estaria perdida se até essa nova geração me imitasse. Antes que isso acontecesse, decidiram que era melhor eu sair de cena. “É exatamente por ser capaz de elaborar todas essas coisas que você é mais apropriado para as áreas de projetos e produção” — eles disseram. (Risos.)

Mesmo recebendo esse tipo de reprimenda, ter podido realizar um trabalho com esmero em todas as áreas foi uma boa experiência. Creio que é um trabalho que se tornou um paradigma para as produções posteriores. Inclusive para as produções extrínsecas à Tōei Animation. Entretanto, aquela sensação de trabalho artesanal, ou melhor, o trabalho que revela as peculiaridades dos criadores e dos diretores de episódios… aquilo só se materializou por ter sido feito naquela época. 

Já que hoje uma miríade de profissionais combina seus esforços para produzir, passamos a não poder mais criar trabalhos com a personalidade dos de antigamente.

A partir do episódio 74, com a “promoção” do diretor Morishita, o senhor Kazuhito Kikuchi assumiu a direção de núcleo da série. Um dos epígonos mais talentosos do diretor Kōzō Morishita, o senhor Kikuchi foi o diretor mais prolífico da série clássica, capitaneando os trabalhos em 21 episódios. Ele também dirigiu a magistral abertura das sagas de Asgard e Posseidon

— Na opinião do senhor, por que a produção de nome Saint Seiya continua a ser amada?

O absurdo de continuarem a se erguer como ervas daninhas para arrostar pessoas poderosas e também a amizade para com os companheiros. É provavelmente porque todos esses princípios nobres estão ínsitos na obra. Além do mais, como os equipamentos de gravação de vídeo não eram difundidos como hoje, as pessoas que gostavam de Seiya precisavam assistir à série em tempo real.

O número de residências familiares que adquiriam um videocassete para gravar animes era limitado. Penso que foi justamente por ter sido numa época como esta que os espectadores simpatizaram com a turma de Seiya e acompanharam a série com um frio na espinha. E hoje, 30 anos depois, acho que, sem perder essa paixão, entre eles há pessoas cujas vidas foram extensivamente influenciadas por Seiya. Afinal, extrapolando a órbita dos animes, elas jamais esquecerão aquilo que mais as cativou em sua vida.

Prenunciando a qualidade da animação, a propaganda mostrava Seiya e Ikki combatendo com armaduras aladas

 

Kōzō Morishita

Nascido em 1948, é natural da cidade de Shizuoka. É o atual presidente do conselho de diretores da Tōei Animation. Após ter debutado na direção de episódios em Cutie Honey (1973), atuou primacialmente em produções originais. Participou de um sem-número de trabalhos como diretor de episódios, diretor, produtor e membro do planejamento. Entre seus trabalhos mais representativos estão obras como Kikō Kantai Dairugger XV (1982), Kōsoku Denjin Albegas (1983), Video Senshi Lezarion (1984), Konpora Kid (1985) e Dragon Ball Z (1989). Nos últimos anos, se encarregou da direção de Ezuka Osamu no Buddha — Akai Sabaku yo! Utsukushiku (2011).

 

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Aficionado sectário de Saint Seiya desde 1994, sou um misoneísta ranzinza. Impelido pela inexorável missão de traduzir todas as publicações oficiais da série clássica, continuo a lutar. Abomino redublagens.

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