“Em 30 anos, participei de 80 produções, mas este foi o trabalho para o qual eu mais escrevi.”

 

ENTREVISTA Nº 1 — COMPOSIÇÃO DA SÉRIE

— Para começar, gostaríamos que o senhor nos contasse toda a história de como ingressou na produção.

Uma ligação do produtor Kazuo Yokoyama foi o pontapé inicial. Na época, a minha imagem estava fortemente atrelada a Time Bokan, e já fazia cerca de 10 anos que eu só escrevia comédias. Então, ao ler os mangás que me foram sendo enviados e constatar que se tratava de um sério conteúdo de ação, eu recusei gentilmente, mas, nesse momento, o senhor Yokoyama proferiu uma frase matadora: “Quero ver como Takao Koyama vai ‘preparar’ este trabalho”. Depois de ouvir isso, não tinha como eu não aceitar. (Risos.)

Tendo lidado com produções como Shinzō Ningen Casshan na época da Tatsunoko, não é que eu não tivesse experiência com conteúdos de ação. Como as comédias continuavam, e já que eu tinha vontade de fazer séries de ação… Mas o fator decisivo foi, sobretudo, a fala melíflua do senhor Yokoyama. No fim das contas, foi algo extraordinariamente positivo.

Como eu estava escrevendo Saint Seiya durante a transposição de Dragon Ball, que tem na comédia a sua força motriz, para Dragon Ball Z, uma série fundamentada na ação, fui capaz de fazer uma transição suave.  Nesse sentido, na minha cabeça, é graças a este trabalho que estou conectado a Dragon Ball Z.

Entre os personagens originais que apareceram como assassinos do Santuário, também há aqueles que foram concebidos pelo sr. Koyama

— Creio que o início, quando não havia um estoque de mangás, foi bem problemático…

Para começo de conversa, quando falamos das condições de trabalho, naquela época, como eu estava a cargo da composição de 3 séries, incluindo Seiya, já cheguei a escrever 10 roteiros por mês. Assim, não foi nenhuma surpresa quando acabei caindo de cama ao repetir essa jornada insana. Esse também foi um dos fatores que me levaram a requisitar a entrada de outros escritores na produção. Contudo, levando em conta que eu já havia redigido 26 roteiros até o episódio 31, utilizei meu colapso como oportunidade para que colocassem o senhor Yoshiyuki Suga no seriado.  

Considerando que também não era possível inflar a obra original, já que o mangá não estava muito desenvolvido no começo dos scripts, para trabalhar o charme da produção, eu tentei incorporar todos os elementos revelados até então. Mesmo assim, como é inevitável inserir elementos autóctones do anime ao engendrar uma história lateral, havia as agruras de ir elaborando essas partes, sabe?  

Por outro lado, acho que foi fascinante. Já que o trabalho avançava praticamente ao mesmo tempo que o mangá, frequentemente, eu mesmo ficava surpreso com os desdobramentos da obra original. No entanto, por volta do episódio 20, eu já vinha conseguindo vislumbrar o panorama do título. Então, lembro que já estava escrevendo à vontade a partir do episódio 21 ou 22. Como havia progredido à base de vários testes, não pude deixar de cortar os personagens incompatíveis com a obra, entende? Como o Chefe do Estado-Maior Faeton… (Risos.) 

Se for para ejetá-los de qualquer jeito, não há por que fazer histórias com eles. Eu os apago completamente. Definitivamente, é melhor ir aumentando as partes que as pessoas querem ver. A aparição dos cavaleiros de aço foi uma lambança, não é? Lembro que o cenário ficou confuso. Consequentemente, acabei por deletá-los também. (Risos.)

Ouvimos que o sr. Koyama também quebrou a cabeça com a utilização dos cavaleiros de aço

No período inicial, criei partes hilariantes de propósito. As crianças da Academia Filhos das Estrelas e segmentos afins… acho que são partes em que aflora o propósito pelo qual fui contratado.  

No início, foi retratada uma profusão de composições com as crianças da Academia Filhos das Estrelas

— No anime, a relação do Seiya e da Miho foi enfatizada, não é? 

Quando a Saori vira Atena, ela deixa de agir de forma passional. Então, precisei encarregar a Miho desse papel. Contudo, com a produção passando a girar em torno do Santuário, não tive como mostrá-los na segunda parte da série… (Risos.) 

— Fazendo uma retrospectiva do trabalho, o senhor poderia nos dizer qual foi o personagem de quem mais gostou? 

É uma questão difícil. Se tivesse de dar um exemplo, eu gostava do Shiryu. Eu gosto da relação do Shiryu com o Mestre-Ancião. Além disso, ainda tem a Shunrei, certo? Como os outros personagens tinham poucas nuances do tipo, era legal compor essas tramas.

 — Para terminar, pedimos uma palavrinha aos fãs que adquiriram estes DVDs.

 Em 30 anos, participei de 80 produções, mas esta foi a obra para a qual eu mais escrevi. Vendo por este prisma, trata-se de uma produção incrivelmente memorável. Afinal, não foi o desvelo do estafe, incluindo o meu, que conseguiu trazer à luz um filme daquela magnitude em cada episódio, mesmo nas partes em que pisamos na bola?…  

A meu ver, é por isso que Saint Seiya é uma obra-prima dos tempos áureos do gênero da animação. Eu me sentiria afortunado se vocês fossem capazes de captar essas partes por meio destes DVDs. 

Na Saga da Escandinávia, uma fase totalmente original, o sr. Koyama e os membros do estafe foram os grandes demiurgos por trás da história, dos nomes das técnicas e demais elementos

— Muito obrigado. 

2003 — entrevista concedida na sede da Companhia de Roteiristas Brother Noppo

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Aficionado sectário de Saint Seiya desde 1994, sou um misoneísta ranzinza. Impelido pela inexorável missão de traduzir todas as publicações oficiais da série clássica, continuo a lutar. Abomino redublagens.

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