Detalhes da Produção

Introdução ao Dragon Box

   Os documentos do planejamento datados da época da difusão descrevem Saint Seiya como uma série que teria nos meninos do ensino fundamental seu público-alvo. A conversão do mangá em animação ensejou algumas alterações voltadas a uma faixa etária inferior. A maior mudança no período inicial consiste na inversão da identidade do assassino enviado pelo Santuário à Guerra Galáctica. Nos quadrinhos, Hyoga era o executor a serviço do Santuário, ao passo que, no anime, Ikki foi encarregado desse papel.

   Por esse motivo, uma imagem que exibia o embate de Seiya e Ikki foi empregada nos créditos de oferecimento dos patrocinadores, uma vinheta veiculada ao término da exibição do programa. Trata-se de uma digressão, mas, nessa ilustração, as armaduras de Pégaso e de Fênix estavam equipadas com asas. Em todo o anime, este haveria de se tornar o único croqui com as indumentárias aladas.

O célebre croqui das armaduras aladas

   Essa modificação foi ocasionada pelo fato de a Saga dos Cavaleiros Negros estar em publicação quando o projeto do programa teve início, tempos em que as configurações do refúgio grego ainda eram uma incógnita. Consequentemente, foi estabelecido que os inimigos da primeira temporada seriam os cavaleiros negros sob o comando de Ikki.

Exibida antes da estreia da animação, a propaganda mostrava Seiya e Ikki combatendo com armaduras aladas. Utilizada para promover o lançamento das miniaturas da Bandai, essa sequência também seria veiculada no avant-title do primeiro capítulo e no oferecimento dos patrocinadores ao término dos primeiros episódios

   Na segunda temporada, período em que Ikki se torna um aliado, gestores como o Chefe do Estado-Maior Gigas e o oficial Faeton foram introduzidos para dar ênfase ao caráter espúrio do Santuário, levando à aparição de um sem-número de cavaleiros originais do anime. Com essas providências, ao deixar claro o antagonismo maniqueísta entre o Santuário, que conspirava para subjugar o mundo, e a Fundação Graude, que lutava para impedi-lo, o globo todo se tornou palco de conflitos, fator que propiciou uma grande variedade de cenas de batalha.

   A terceira temporada, que sedimentava a popularidade da série, correspondia ao introito da Saga dos Cavaleiros de Prata nos quadrinhos, mas também se sujeitou a mudanças ostensivas. No mangá, os cavaleiros de prata, os sicários do Santuário, integravam uma choldra de 13 guerreiros; no entanto, como a aparição desses combatentes se condensava em 3 eventos, foi necessário recorrer a medidas como fazê-los aparecer em episódios distintos ou reintroduzir cavaleiros autóctones como inimigos.            

   Nessa época, a Saga das 12 Casas havia ganhado fama no mangá e, como a animação vislumbrava a conflagração do Santuário, a temporada também se destinou à inclusão proativa de episódios centrados nos cinco cavaleiros de bronze. Para o bem ou para o mal, a inserção dos cavaleiros de aço se traduz num acontecimento digno de menção especial na terceira temporada (na verdade, eles são introduzidos no episódio 25, capítulo final da segunda temporada).

Croquis preliminares dos cavaleiros de aço. A priori, como se aventava um semiprotagonismo na introdução do trio no programa, todos os 3 foram concebidos como personagens formosos. Eles emulavam a imagem dos grupos de rapazes, tremendamente populares na época. É fascinante notar que atributos como as proporções de Daichi e as faces de Ushio e Shō eram completamente diferentes. As formas pormenorizadas das armaduras também diferem do desenho final dos trajes

   Antes de falar dos cavaleiros de aço, gostaríamos de abordar o desenvolvimento dos brinquedos de Saint Seiya. Embora a necessidade de levar esta série ao ar num tempo extraordinariamente curto tenha sido mencionada na Introdução ao Pegasus Box, torna-se curial salientar que os fabricantes de brinquedos foram impelidos pela mesma urgência. Apesar de a estreia ter ocorrido em outubro, o patrocínio da Bandai só foi formalmente sacramentado após o início do mês de setembro.

   Ainda que o projeto estivesse em andamento antes da celebração do contrato, não é difícil imaginar que o desenvolvimento-relâmpago dos brinquedos também tenha sido uma exceção aos padrões da indústria. Por essa razão, a concepção de produtos se restringiu a um total de 6 itens, que consistiam na linha Saint Cloth, os bonecos com armaduras destacáveis dos 5 protagonistas, e no dispositivo sonoro Meteoro de Pégaso, uma peça de fantasia.

   Na reunião de negócios que antecedeu o começo da difusão, um encontro organizado no outono, a distribuição não era vista com bons olhos devido ao caráter inaugural dos personagens; no entanto, com os bonecos da linha Saint Cloth sumindo das prateleiras assim que chegaram às lojas, no final de 86, foi decretado de imediato um aumento na produção (para suprir a demanda, foram empreendidas mudanças no processo de fabricação a partir de abril de 87, como a abolição da caixa com janela transparente, formato que foi se estabelecendo como o padrão definitivo).

   Além disso, desafiando a máxima de que [brinquedos de] vilões não vendem bem, foi lançada uma edição limitada dos cavaleiros negros. Contudo, como a coleção também se dissipou num piscar de olhos, a Bandai passou a se ver pressionada a lançar novos artigos da linha Saint Cloth.

   Inicialmente, foi cogitada a ideia de comercializar as miniaturas dos cavaleiros de bronze secundários e dos cavaleiros de prata, mas, pelas razões já relatadas, esse plano foi relegado pela empresa, que decidiu responder à demanda do mercado com o lançamento das caras “armaduras de metal pesado”, também chamadas de Saint Cloth DX.

   Entretanto, o clamor dos consumidores residia em miniaturas com o formato já consagrado pela linha Saint Cloth, o que acarretou a decisão de introduzir 3 novos personagens na série para convertê-los em brinquedos. Esses personagens eram os cavaleiros de aço, que tiveram seus trajes concebidos com um design mecanizado para atrair o público de faixa etária inferior.

   A perplexidade em relação à utilização dos cavaleiros de aço, um acréscimo paradoxal à gradativa sincronia da versão animada com os quadrinhos, que se imiscuíam mais e mais nos elementos da mitologia grega, pode ser inferida até mesmo na imagem final do trio high-tech.

   Embora os cavaleiros de aço ainda dividam a opinião do público de classe etária superior, no que tange à venda de brinquedos, trata-se de uma inserção irreprochável, haja vista o grande sucesso desses combatentes entre as criancinhas, êxito que contribuiu para a expansão do espectro de aficionados da obra.

   Em virtude de tamanha repercussão, malgrado sua participação se limite a 12 capítulos, o trio de vestes mecânicas teve sua imagem perpetuada na primeira parte do eyecatch exibido entre os episódios 26 e 73 e na ilustração de oferecimento dos patrocinadores.

A importância dos cavaleiros de aço pode ser aferida pela veiculação da imagem do trio na tela de oferecimento dos patrocinadores

   A partir do episódio 39, o epílogo da terceira temporada, a série irrompe na Batalha das 12 Casas, saga que conta com a aparição dos cavaleiros de ouro, o estopim do explosivo aumento de popularidade da animação.

O anime utiliza o episódio 39 como gatilho para entrar em clara sincronia com o mangá, ponto em que a popularidade da série se torna inabalável

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Aficionado sectário de Saint Seiya desde 1994, sou um misoneísta ranzinza. Impelido pela inexorável missão de traduzir todas as publicações oficiais da série clássica, continuo a lutar. Abomino redublagens.

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