“(…) penso que as palavras ‘queimar o cosmo’ traduzem perfeitamente a confecção da obra.”
ENTREVISTA Nº 1 — O PRODUTOR DA TV ASAHI
— O senhor poderia nos contar como se envolveu na produção?
Até então, eu estava focado em live-actions, dramas como [os filmes da sessão] Doyō Wide Gekijō, mas ingressei na produção para substituir o senhor Morihiro Katō, o meu predecessor. Quanto ao momento da transferência, foi antes da difusão, num período em que o projeto já estava chancelado. Antes da série, eu havia atuado como produtor assistente em Ginga Nagareboshi Gin, mas este trabalho foi a minha primeira experiência substancial no ramo de animações.
— Então, foi o primeiro anime do senhor. E como foi esse debute na prática?
Em termos de confecção do drama, não importa se é um anime ou uma obra com atores de carne e osso, pois as partes-base são as mesmas. Na verdade, podemos retratar no anime situações que não podem ser materializadas em live-actions, havendo um grau de liberdade na sua expressão.
Além disso, o que me deixou exultante ao entrar no mundo dos animes foi a transmissão direta das respostas dos fãs. No caso dos dramas representados por gente de verdade, existem as cartas dos fãs para os atores, mas, considerando que são raras as impressões que adentram o conteúdo da produção, como ocorre nas correspondências dos entusiastas de animes, foi extremamente gratificante nesse sentido.
Depois das reuniões no Tōei Dōga de Oizumi (atual Tōei Animation), dava para notar, quando olhava para o prédio, que a luz estava bem acesa na maior parte das janelas. Lembro que fiquei estupefato ao ver o pessoal se dedicando à produção àquela hora da noite…
Eu tinha um conhecimento teórico de que os animes eram criados pelo engajamento do grande contingente alocado em sua produção, mas foi testemunhando com os meus próprios olhos que pude compreender que uma animação é construída pelos esforços individuais de cada pessoa do estafe.
— Creio que vocês sofreram no início por não haver um estoque de mangás, mas como foi essa situação?
As lutas decerto têm papel principal no mangá, mas, no caso do anime, por se tratar de um horário nobre, direcionado a toda a família, nós fomos expandindo a série com partes inexistentes nos quadrinhos. Além disso, apesar de aparecerem vários personagens na produção, tentávamos nos manter cônscios da posição do Seiya, o protagonista, como o cerne dos episódios.
De fato, a publicação do mangá havia acabado de começar, mas também houve partes em que nos arriscamos apesar das incertezas. E, quando essas partes se mostravam populares pela reação dos fãs, ficávamos extasiados. As experiências daquela época também se fazem presentes na produção dos dramas de hoje.
— Os títulos dos episódios também foram adicionados pelo senhor?
Não fui só eu. Todos nós produtores quebrávamos a cabeça em cada um deles. Na hora de colocar [os episódios] nos guias de programação radiotelevisiva (seção dos periódicos dedicada aos programas de TV e rádio), não nos contentávamos com as sinopses do título semanal; também queríamos publicar os nomes dos dubladores que atuavam nos capítulos.
Um dia desses, deparei com todos esses subtítulos no site de um fã. Enquanto olhava para eles, me recordei daqueles tempos. O fato de a série continuar em tamanha evidência até hoje, transcorridos mais de 10 anos desde a veiculação, é uma alegria sem tamanho para mim, como participante da produção.
— O senhor poderia falar das memórias marcantes que guarda daquela época e impressões do gênero?
Esta produção é baseada na mitologia grega e, haja vista a minha especialização na história da Grécia nos tempos de universitário, pude me familiarizar com ela desde o início. Entre outras coisas, como o prédio da TV Asahi ficava nas imediações da embaixada da Grécia naquela época, fui até lá para confirmar as inscrições gregas da mensagem do Aiolos após receber uma consulta do mestre Kurumada, o autor da obra original.
A série virando filmes, a coqueluche dos produtos, ganhar o Grande Prêmio da Animação Japonesa, viajar com o pessoal do estafe e com a turma dos dubladores… As reminiscências desta produção são infindáveis.
Começando pelo produtor Yoshifumi Hatano, esse êxito deve muito aos membros do plantel principal, como o senhor Takao Koyama, do roteiro, o senhor Kōzō Morishita, da direção dos episódios, o senhor Shingo Araki, da animação, o senhor Tadao Kubota, do design artístico, e o senhor Seiji Yokoyama, da trilha sonora.
O mesmo se aplica ao elenco, que, a exemplo do senhor Tōru Furuya, congregou atores aptos a executar uma atuação sólida. Até hoje, sou capaz de cantarolar as músicas de Seiya… (Risos.)
Penso que as palavras “queimar o cosmo”, que aparecem na trama, também traduzem perfeitamente a concepção da obra. Doravante, pretendo manter este “cosmo ardente” no peito para continuar arrostando a confecção dos trabalhos.