Publicação oficial de Saint Seiya (Os Cavaleiros do Zodíaco)
Jump Gold Selection 3: Saint Seiya Anime Special 3 (Conclusão)  — Compilação Especial da Shūkan Shōnen Jump, Shūeisha

   Concluindo a famigerada trilogia dedicada à animação, o livro Jump Gold Selection 3 foi lançado em 19 de abril de 1989, 18 dias após o término da série televisiva. Elaborada por Tetsuo Daitoku e Takanaka Shimotsuki, a edição foi planejada para abarcar toda a epopeia dos cavaleiros de Atena, dos embates na Guerra Galáctica à conflagração no fundo do mar. Embora os mestres Shingo Araki e Michi Himeno estivessem se devotando de corpo e alma aos episódios 100, 105, 111 e 114, razão pela qual a direção de animação do quarto filme foi delegada ao talentoso Masahiro Naoi, a dupla não apenas confeccionou a capa e um belíssimo pôster mas também agraciou os admiradores da obra com 6 ilustrações excelsas, imagens especialmente delineadas para ornamentar a seção que apresentava os principais combates da turma de Seiya.   

   Além do engajamento dos grandes demiurgos do anime e da apresentação em foto-legenda dos filmes A Lenda dos Jovens Carmesins e Os Guerreiros do Armagedom, o terceiro volume brindou os fãs com a participação extensiva do mestre Masami Kurumada, que redigiu uma carta aos apoiadores da obra e se encarregou de uma matéria imperdível, revelando detalhes inéditos da concepção da Saga de Posseidon e do processo de criação dos nomes e das personalidades dos cavaleiros de bronze e dos cavaleiros dourados.

   Satisfazendo os aficionados mais fervorosos da versão animada, a edição consagrou 25 páginas às fichas de criação dos personagens (character settei), compilando croquis que são pura magia, esboços referenciais das novas armaduras de bronze, dos guerreiros-deuses, dos marinas, dos cavaleiros da coroa do Sol, dos sagrados anjos demoníacos e de outros personagens estimados pelo público. Uma fonte inesgotável de curiosidades da produção, o título também contempla os leitores com o conto extrínseco Atena! O Grande Amor, um romance de autoria do senhor Yoshiyuki Suga, roteirista de 54 episódios e de 3 filmes da série clássica.

   Fechando a coleção com chave de ouro, a publicação oferece aos leitores os croquis conceituais das armaduras de bronze, a sinopse ilustrada dos 61 episódios remanescentes, a apresentação de todos os itens da série Saint Cloth, um divertido bate-papo com os intérpretes de Pégaso e seus arqui-inimigos e uma miríade de outros materiais fascinantes, a exemplo das informações sobre as aberturas e encerramentos e do depoimento de 6 profissionais insubstituíveis do estafe: Isao Hatano, Yasuhiro Yoshikawa, Yōko Okamoto, Yasuno Satō, Yasuyuki Konno e Kunio Tsujita.

 

Nota à Edição Brasileira da Jump Gold Selection 3

   Dando continuidade ao pioneirismo desta página, o primeiro site ocidental a oferecer versões integralmente traduzidas de diversas publicações oficiais de Saint Seiya, finalmente disponibilizo o aguardado epílogo da trilogia Jump Gold Selection: Saint Seiya Anime Special, a publicação mais importante da série clássica.

   Às vésperas do aniversário de 27 anos da estreia da série no País, tenho certeza de que esta edição, outro tributo aos heróis que arrebataram o coração de milhões de ocidentais, agradará tremendamente ao público cativo do site, adultos do Brasil e de toda a América de língua espanhola que se recusam a crescer desde a década de 90, pessoas que jamais esqueceram os sentimentos da infância, tempos embalados pelas lutas eletrizantes dos cavaleiros de bronze.                                                                

                                                              Fábio Vaz Mendes (sagatwin@hotmail.com)

[ジャンプゴールドセレクション3 聖闘士星矢 アニメ・スペシャル3・完結編]

A Galeria do Mestre Masami Kurumada

Os 5 cavaleiros de bronze levaram em conta o balanceamento

   Na época que estava elaborando as ideias deste trabalho, ao observar materiais relacionados a estrelas, encontrei imagens sobre as “Leônidas”. Trata-se de um número inacreditável de meteoros caindo do céu, mas é incrivelmente maneiro, não é verdade?

O fenômeno em vídeo

   Como o fenômeno se encaixava perfeitamente na imagem dos cavaleiros, a princípio, eu estava pensando em fazer com que o protagonista fosse da constelação de Leão. No entanto, enquanto pesquisava extensivamente, achei um elemento chamado constelação de Pégaso e, como a figura do cavalo alado que cortava os céus batia muito bem com a imagem do protagonista, optei pelo Cavaleiro de Pégaso para esse papel, ainda que a imagem da “Chuva de Meteoros Leônidas” tenha permanecido, incólume, na técnica secreta do protagonista.

   No que diz respeito ao nome, descrevendo uma flecha sagrada, seria Seiya [聖矢]. Mas talvez fosse bonitinho demais para um nome de sangue quente, não? Por isso, mantive a pronúncia, trocando o ideograma de “sagrado” pelo de “estrela” [星矢]. Eu mesmo aprecio incrivelmente este nome. (Risos.)

   Quando os contornos gerais da obra foram definidos, aqueles que fui criando ao selecionar 10 das constelações mais legais entre as 88 foram os 10 cavaleiros de bronze. Então, também fui bolando as personalidades deles em compatibilidade com suas respectivas constelações. O fato de eu equipar a armadura do Shiryu com o escudo e o punho mais fortes remonta a um conceito chinês equivalente ao dragão, proveniente da parábola da “contradição”, presente no folclore.

   No que se refere ao Hyoga, é que eu queria um sujeito singular. Para a consecução de um balanceamento geral. Foi por esse motivo que o idealizei como mestiço e também como possuidor de uma personalidade fria. Despedaçar aquela parede eterna de gelo proveio de uma imagem que eu nutria desde os estágios conceituais.

   Na época que comecei a serialização, como havia o cenário de acordo com o qual os 10 cavaleiros eram inimigos, quando o Shun apareceu, eu também tentei deixá-lo com certa frieza. Mesmo no que tange à Corrente Nebulosa, que ele carrega nos dois braços, não há um sentido profundo no fato de a da direita ser um triângulo e a da esquerda ser um anel. Incorporando uma imagem ocidental da constelação de Andrômeda que continha o desenho de triângulos e círculos, tentei bolar à minha própria maneira o significado do formato das correntes da esquerda e da direita.

   A partir do momento no qual escolhi as 10 constelações pela primeira vez, o personagem que concebi como o mais poderoso dos inimigos foi o Ikki. Se tivesse de apontar a constelação digna do mais forte dos homens, não haveria outra senão Fênix. A técnica assassina Golpe-Fantasma de Fênix também veio à medida que a história avançava. Eu a concebi na hora de tocar no passado do personagem, como uma forma de me transportar a cenários de reminiscências sem arruinar o tempo da história. Embora vaga, havia a percepção de que ele se tornaria um companheiro de Seiya desde a época que era retratado como inimigo.

Os soldados supremos que protegem o Santuário

 

Sobre os cavaleiros de ouro…

   Na hora da aparição dos cavaleiros de ouro, foi por pensar que em vez de fazer aparecer 12 pessoas completamente desconhecidas seria mais interessante que eles tivessem conexões com os protagonistas que eu transformei o Mu e o Dōko em cavaleiros dourados. Devido à graciosidade transmitida pelo Mu, decidi facilmente pelo Cavaleiro de Áries.

   O Dōko, por sua vez, eu fui concebendo a partir da armadura. A constelação de Libra é um pouco sem graça, não? Foi por isso que incluí um montão de elementos. Então, ao matutar sobre um personagem que suportaria o peso dessa configuração, quem veio à tona foi o Dōko.

   Quanto ao resto, eu realmente pretendia inserir caras como o Aiolia no papel de personagens convidados no primeiro capítulo, mas deu tudo certo. Nutrindo desde o início a ideia de que um dos 12 cavaleiros de ouro seria o mestre do Hyoga, a princípio, eu tencionava escolher o Milo. No entanto, mudei para o Camus por combinar mais com gelo e água.

   No que se refere ao fato de a verdadeira identidade do Papa repousar no Cavaleiro de Gêmeos, eu havia tomado tal decisão desde um estágio anterior, mas quebrei a cabeça para saber se fazia um sujeito com dupla personalidade ou irmãos gêmeos, sabe? Ainda que, no final das contas, tenha usado os dois cenários… (risos.)

   No que tange ao Cavaleiro de Gêmeos que bolei no início, eu tinha a intenção de batizá-lo de Shura. Apesar de ter tirado o nome de “Shura”, de “ashura” [asura], realmente dá uma impressão de que ele ama as batalhas, não? Assim, por gostar bastante do nome e também por ser perfeito para o homem que derrotou Aiolos, optei por utilizá-lo no Cavaleiro de Capricórnio.

   Quando ganhei um one-shot de 31 páginas na Jump, por ser uma boa oportunidade, eu decidi que retrataria o passado do Ikki e, mesmo com o sentido de deixar o terreno preparado, eu pretendia fazer a aparição dos cavaleiros de ouro, entende? Já que tinha de revelá-los de qualquer jeito, enquanto pensava em mostrar um sujeito aterrador, por acaso, o nome Shaka [hagiônimo nipônico do Buda histórico] me veio à cabeça. Assim que o nome foi decidido, a imagem do personagem foi se ampliando, sabe?

   O fato é que o homem chamado Shaka despertou um sentido superior ao sétimo sentido. E o que seria?… Eu pretendo ir revelando no mangá atualmente em publicação. É por isso que o Shaka pode estar em posse da chave da saga de Hades, entende?

 

Em direção a uma nova guerra santa…

   Uma vez que eu já tinha o conceito da Saga de Hades em mente quando comecei a desenhar a Saga de Posseidon, eu acalentava o pensamento de que a fase do Soberano dos Mares seria o amortecedor entre dois grandes episódios e pretendia terminá-la em cerca de 1 ano. O fato é que, quando a história se aproximava da metade, eu já estava pensando num belo final com aquela atmosfera dos filmes franceses, sabe?

   Considerando que todos os marinas acreditavam no regime de Posseidon, todos eles eram boas pessoas, não é verdade? Entretanto, parando para pensar agora, também me pergunto se não deveria ter me aprofundado um pouco mais no que concerne aos 7 generais. Apesar de pretender fazer da Tétis uma personagem-chave no início, acabei decidindo dar esse papel crucial ao Canon.

   No caso do Canon, eu estava pensando em fazê-lo aparecer na Saga de Hades, mas, como queria empreender uma mudança no desenvolvimento do estágio de Posseidon, eu o fiz dar as caras como o General Dragão-do-Mar. Os nomes da Saga de Posseidon me fizeram quebrar a cabeça. Na fase de Hades, saíram mais facilmente.

   Na Saga do Imperador do Submundo, parece que muitos cavaleiros perderão a vida. Já que, comparadas à batalha que se inicia agora contra Hades, a rebelião de Saga e o despertar de Posseidon não passaram de meros acidentes, penso que certamente será uma guerra grandiosa.

Mesa-redonda: Seiya vs. os Arquirrivais

 

Os inimigos de ontem são os amigos de hoje?!

 

Mediador: Finalmente, o anime Saint Seiya também chegou a seu último capítulo, mas hoje tivemos a honra de os profissionais que interpretaram Seiya e seus 3 arquirrivais se reunirem conosco para esta mesa-redonda final. Para começarmos o bate-papo, acho que gostaria de dar a palavra ao senhor Furuya, que interpretou continuamente o papel do Seiya em todos os 114 episódios.

Furuya: Entre as produções que eu dublei, Kyojin no Hoshi foi a mais longa, continuando por 3 anos e meio, mas, como Seiya chegou a 2 anos e meio, teve a segunda maior duração.

Horie: O fato de ter continuado por 2 anos e meio significa que é incrível, não é verdade? 

Nanba: O mangá também já é serializado há 4 anos, certo? Dizem que, hoje em dia, praticamente não existem obras tão longevas em revistas para garotos… É porque o mestre Kurumada está se esforçando, não é mesmo?

Furuya: No início, quando ganhei o papei do Seiya, eu pensava que devia se tratar simplesmente de um anime de artes marciais voltado para as crianças. Quando me dei conta da incrível prefiguração e do fascínio da história, concluí que era bem profundo, sabe? A partir daí, foi ficando mais e mais legal à medida que eu interpretava.

Horie: Quando recebi a Hilda, Devido ao fato de a série estar em seu período de maior popularidade, acabei me posicionando de forma contrária… Meu coração disparava ao receber os scripts. É que eles estavam repletos de palavras em katakana, e eu não tinha ideia do que elas significavam… (Risos.)

Sogabe: Tinha isso mesmo. No início, eu também não entendia nada. Coisas como “Sanctuary” [em katakana]… (Risos.)

Furuya: Nessas horas, por favor, confiem suas dúvidas a mim. Já que eu domino as linhas gerais. (Risos.)

Horie: É verdade. Se a gente perguntasse qual era o significado de determinada coisa, não importava o que fosse, você sabia. Mesmo acompanhando Seiya, parece que meus pais até hoje não compreendem o significado… (Risos.)

 

 O Seiya instruiu as pessoas que não entendiam Seiya!?

Furuya: No caso do pessoal que faz os inimigos nos filmes, dada a subitaneidade, geralmente ninguém tem ideia. “Mas que diabo de universo é este?!” (Risos.) Então, eu explico tudo brevemente: “Este cenário é assim e tal…”

Sogabe: Faz o papel do explicador?… (Risos.)

Furuya: Algo do tipo. O tiozinho das explicações. (Risos.) É que o personagem principal ajuda em tudo.

Sogabe: Também teve uma vez que eu tinha de pronunciar apenas o título de um episódio… De fato, estava me auxiliando em tudo. (Risos.)

Mediador: Mas, mesmo no que tange aos atores, foi um programa muito esplêndido, não é verdade?

Horie: Só tinha pessoas maravilhosas.

Furuya: Os filmes, sim, foram realmente fabulosos… O senhor Iemasa Kayumi, que fez o papel do Dorbal, também era maravilhoso…

Sogabe: O senhor Taichirō Hirokawa, que fez o Abel, também era magnífico…

Furuya: Deve ser exatamente por isso que os convidados eram todos veteranos. Já no que concerne aos papéis principais, nós nos preocupávamos que todos conseguissem dar tudo de si nas atuações.

Horie: Hã? Sério? (Risos.)

Sogabe: Também é por isso que a classe dos principais estourou.

Nanba: Como fã, também é uma delícia.

Sogabe: Em contrapartida, dentro do estúdio, era um duelo de vida ou morte. Claro, o ambiente era incrivelmente aprazível, Mas, na hora que a lâmpada da performance acendia e ficávamos em pé diante do microfone, atuávamos com aquele espírito que diz que não podemos perder para o outro de jeito nenhum.

Nanba: Nesse sentido, todo mundo era ator principal, não é?

Horie: Mas, Tōru, de vez em quando, você ficava gritando no estúdio: “Eu sou o principal!!” (Explosão de gargalhadas.)

Furuya: Também, se não gritasse, jamais saberiam. (Risos.)

Sogabe: Embora todo o pessoal em volta o reconhecesse… (risos.)

Mediador: Mas, no caso de Seiya, não são apenas os principais; os inimigos também têm fãs. Acho isso incrível. Vocês não acham?

Sogabe: Bem, quando falamos de animes, antigamente, os populares eram mesmo os principais. Foi só com o surgimento de produções como Voltes V e Tōshō Daimos, obras nas quais os vilões também tinham uma espécie de lógica maligna, que os papéis dos vilões bonitos ficaram populares. É por isso que surgiram os conflitos entre os vilões, e eles passaram a ser atormentados.

Horie: É verdade. Tem ocasiões nas quais Seiya termina só com isso por uma ou 2 semanas. (Risos.)

Nanba: É como se o mal não se infiltrasse no drama da justiça, mas a justiça, sim, afetasse o drama do mal.

Sogabe: Assim, como o lado da justiça acredita em Atena, não há muitos conflitos. (Risos.) Entretanto, havendo discórdia entre os inimigos, eles não sabem se confiam na turma de Seiya ou em Arles, razão pela qual os cavaleiros de ouro acabam indo cada um para um lado. Ainda que, no fim das contas, no apagar das luzes, eles acabem acreditando na turma de Seiya.

 

“Entrei em pânico na hora de fazer os papéis do Saga e do Canon ao mesmo tempo.”

Mediador: Senhor Sogabe, o senhor também interpretou o Saga na fase de Posseidon, não é verdade?

Sogabe: No arco das 12 Casas, o (Akio) Nojima interpretou o papel do Saga bom para mim, mas ficou decidido desta vez que eu acumularia os papéis do Saga e do Canon. É que teria de interpretar os dois ao mesmo tempo, até cenas de troca de golpes.

Nanba: Eu estava vendo na hora da gravação, mas foi demais. (Risos.)

Sogabe: Afinal, também havia um capítulo que começava com as falas “Venci! Ha, ha, ha!” e “Isso não acontecerá, Canon” e que tinha um rolo (cerca de 7 a 8 minutos) só com o Saga e o Canon… (Risos.)

Furuya: Foi desde o começo do episódio… (Risos.)

Sogabe: É por isso que eu já havia entrado em pânico. (Risos.)

Antológica, a tomada da confrontação dos irmãos foi particularmente desafiadora para o senhor Sogabe

Mediador: Por falar nisso, não ouço falar muito de vilões do senhor Furuya… 

Furuya: Antes, entre os animes do mestre Leiji Matsumoto, havia um chamado Waga Seishun no Arcadia: Mugen Kidō SSX. Nele, me deram o papel de um vilão chamado Zone. Talvez tenha sido o único…

Sogabe: Isso significa que foram tão poucos que você chega a se lembrar. Eu nem lembro. Também, só tive papéis de vilões. (Risos.)

Horie: E quanto aos papéis de mocinhos?

Sogabe: De mocinhos? Ultimamente, não tive nada. (Explosão de gargalhadas.)

Furuya: Mas, sabe, é que eu estava engajado no Seiya com o pensamento de que ele provavelmente seria o último mocinho que eu faria, ou melhor, o último herói de sangue quente, entende? Pois penso que devo desafiar papéis do tipo que o Hirotaka Suzuoki está fazendo, a exemplo do Sogabe e tal…

Sogabe: Ficou seríssimo de repente. (Risos.)

Nanba: Ei, e esse ar carregado? (Risos.)

Horie: Esta é a primeira vez que ouvi um papo sério desse do Tōru. Ele estava bem pensativo… (Risos.)

Sogabe: Sim. Acho que agora o Tōru realmente chegou ao momento da virada.

Nanba: Sim, hoje o tempo está novamente ruim. (Explosão de gargalhadas.)

Furuya: Mas o que é, hein? (Risos.) No meu caso, seja com o Hiyūma ou com o Amuro, foi assim. Em troca do recebimento desses respectivos papéis marcantes, acabei ficando em branco depois. Então, também para renovar rapidamente esse interstício, novos papéis… Embora eu pense, é claro, que restará uma parte, tanto em meu interior quanto externamente, dizendo que Seiya é o grande trabalho do Tōru Furuya de 1985.

Sogabe: É verdade. Talvez você realmente tenha chegado a um estágio em que precisa provar o gostinho do mal. Mas falar é fácil. (Risos.) Acho que você chegou a essa transição. Contudo, os vilões também têm aspectos estereotipados.

Furuya: O Sogabe é perfeito para papéis de vilões, não?

Sogabe: Então, quer dizer que eu sou estereotipado? (Risos.)

No terceiro filme, o senhor Sogabe tornou a brindar o público com uma interpretação magistral de Saga, o mais popular dos cavaleiros dourados

Furuya: Mas o estereótipo maligno existe no mesmo sentido do estereótipo do bem. Hoje em dia, vez por outra, eu faço esses vilões típicos em animes para vídeo, mas uso as técnicas dos profissionais mais experientes como referência para interpretá-los. Embora não saiba como vai ser a avaliação resultante, eu senti que, daqui para frente, meu caminho talvez seja ir expandindo minha atuação nesse tipo de papel.

Sogabe: Mesmo que os fãs pequenos talvez estejam esperando que você faça os papéis principais, como intérprete, creio que de fato não é apenas isso.

Furuya: Quero roubar as técnicas do Sogabe sem falta e me tornar capaz de interpretar 2 papéis ao mesmo tempo. (Risos.)  

Sogabe: Ei! (Risos.)

Mediador: No caso de Seiya, mesmo que se fale em personagem principal, ele foi torturado pelos inimigos em muitas ocasiões, não é verdade? (Risos.)

Furuya: Isso. A atuação consistia apenas em ir se reerguendo depois de cair no fundo do poço.

A força de vontade inquebrantável de Seiya pode ser sentida até na respiração do personagem

Sogabe: Em todo capítulo, era tempo ruim o ano todo. (Risos.)

Furuya: Contudo, se fosse invencível, não haveria margem para que simpatizassem com ele. Afinal, reunir as últimas forças sem desistir após ser torturado é a grande qualidade do Seiya.

Sogabe: Então, após encontrar o ponto fraco de um inimigo que, à primeira vista, parecia invencível, ele contra-ataca… Existe esse apelo, não é verdade?

Horie: Mas, no caso da Epopeia do Anel Dourado, a Hilda era uma mulher, certo? Acho que foi difícil lutar para o Seiya também.

Nanba: Ora, é porque ele é um cavalheiro com as damas! (Risos.)

Furuya: Como foi a primeira chefe mulher, ele estava evitando lutar tanto quanto fosse possível, mas, como era imprescindível bater nela, ele lutou.

Horie: Provavelmente, deve ter sido difícil para o protagonista. Apesar de eu me sentir muito bem… (Risos.) 

Sogabe: É um privilégio das mulheres. (Risos.)

Nanba e Furuya: Sem essa! (Risos.)

Horie: Foi o máximo! Então, passei para o lado do bem. Eu peço Perdão. (Risos.)

 

 “É a minha primeira vilã, mas é uma delícia, sabe?”

Sogabe: Droga! O Arles acabou totalmente destruído… em pedaços! (Explosão de gargalhadas.)

Furuya: Mesmo assim, a Hilda foi legal, não é verdade? Especialmente o refinamento que ela exibiu montada sobre o cavalo…

Horie: Ela emerge de forma espalhafatosa com os 7 guerreiros-deuses, não é? Aquilo foi elegante. Foi parecido com Kagemusha, do diretor Akira Kurosawa. (Risos.)

Eterna dubladora da bruxinha Atsuko, de Himitsu no Akko-chan, a senhora Horie imprimiu sadismo na interpretação

Furuya: Trajando um corselete… com o manto flutuante…

Horie: Acabei com calafrios. Pensar que fui eu quem fez este papel…

Mediador: Senhora Horie, a Hilda foi sua primeira vilã, não é mesmo?

Horie: Sim, foi a primeira. Até agora, geralmente garotinhas e mocinhas na adolescência foram mais numerosas, razão pela qual não tenho nem ideia de por que fui escolhida. (Risos.) No início, eu me perguntava se seria capaz de fazer o papel, mas, como havia um monte de atores conhecidos, eu meio que consegui ao dar tudo de mim.

Sogabe: Mas o papel de vilã é prazeroso, não é? (Risos.)

Horie: É realmente uma delícia, sabe? (Risos.) A gente se sente cada vez melhor à medida que dubla. (Risos.) Considerando que sou do tipo sanguíneo AB e penso ser meio bipolar, foi incrivelmente divertido nesse sentido.

Sogabe: Os vilões são totalmente demais. É que não há nada melhor que atormentar os heróis. (Risos.)

Horie: Isso mesmo. Também, o quinteto do Seiya acaba trabalhando em conjunto. E o inimigo é um só… (Risos.) A turma dele é desonesta, não é verdade?

Sogabe: Na época do Arles, também foi assim. No último capítulo, os cinco vieram para cima, enquanto eu estava sozinho. (Risos.)

Horie: Se tivesse de apontar outra coisa prazerosa, seriam os subordinados da Hilda. Transformar em capangas o Yū Mizushima, o Bin Shimada, o Yūji Mitsuya e o Akira Kamiya, meus amigos desde antigamente. (Risos.)

Mediador: Posto isso, teria sido o máximo se não tivessem perdido para a turma de Seiya. (Risos.)

Horie: Foi uma ver-go-nha! (Risos.) Mas não é necessariamente verdade que os guerreiros-deuses amassem a Hilda de paixão. Só o Thor (de Phecda, a Estrela Gama)?… É por isso que eu também estava com bastante inveja da Atena, que era amada pelos cavaleiros. (Risos.)

Nanba: Uma rivalidade entre mulheres… (Risos.)

Horie: Acho que houve uma, hein.

Sogabe: Quando o Seiya e os rapazes lutaram com a Hilda, eles estavam reunindo umas pedras?

Furuya: Isso mesmo. As Dragon Balls. Ah, não eram essas! (Explosão de gargalhadas.)

Horie: Eram as safiras de Odin.

Furuya: Contudo, a Hilda era uma mulher mais atraente que a Atena, não? (Risos.)

Horie: Acho que é a Hilda malvada, certo? Tinha os olhos oblíquos…

 

Em eventos, Crianças começaram a chorar por causa da voz da Hilda!?

Furuya: Essa. Tenho esse tipo de preferência. (Risos.) Acabo querendo estreitar a amizade…

Horie: Em contrapartida, nos jogos de perguntas durante os eventos de animes e coisas do tipo, após dublar com a voz de personagens boazinhas, eu faço a voz da Hilda e tal… Quando reproduzo a voz dela, tem umas crianças que começam a chorar. (Explosão de gargalhadas.)

Mediador: Mas, senhora Horie, por enquanto, a senhora não está priorizando as músicas em detrimento do trabalho como dubladora?…

Horie: Sim, embora eu continue no elenco regular de séries como Himitsu no Akko-chan. É que, como este ano é o vigésimo aniversário da minha estreia como cantora de músicas de animes, farei um recital.

(Nota: apresentações dominicais no anfiteatro da Previdência Social de Osaka, no dia 11 de junho, e no Tokyo Yomiuri Hall, no dia 25 de junho.)

Dona de uma voz sublime, a senhora Mitsuko Horie foi a intérprete da maravilhosa canção Megami no Komoriuta, veiculada no lendário episódio 30 do anime, O cosmo flamejante do amor

[A pausa na dublagem] É porque acabei ficando terrivelmente ocupada com os ensaios e preparativos do gênero. Contudo, a partir de agora, farei papéis de vilãs. (Risos.) Já que tomei gosto pela coisa ao fazer a Hilda. (Risos.)

Performance musical da senhora Mitsuko Horie no episódio 16

Horie: A princípio, quando vi o Nanba fazendo um papel do mesmo tipo da Hilda em A Grande Batalha dos Deuses, eu pensei que seria legal fazer uma vilã dessa forma. Então, eu o imitei. (Risos.)

Nanba: O Freyr? Mas aquele era um papel de mocinho. (Risos.)

Horie: Hã, não era vilão? (Explosão de gargalhadas.)

Furuya: Apesar de estar no lado dos vilões, na verdade, ele era uma boa pessoa.

Sogabe: Embora o Nanba não preste, o personagem era bom. (Explosão de gargalhadas.)

O senhor Kei’ichi Nanba foi o intérprete original do galante Freyr, o heroico vassalo de Dorbal

Horie: Ei, depois você não estava fazendo um personagem que falava: “O que acha das rosas?!” ou algo do tipo?

Furuya: Esse foi o Afrodite, da Saga das 12 Casas.

Nanba: Aquele é complicado. Porque é o único papel que faz rir em Seiya. (Risos.)

Horie: Mas será horrível se os fãs que estiverem assistindo ao programa pensarem que o Nanba é uma pessoa daquele jeito.

 

 A fã do Afrodite que cortou os lábios com os espinhos de uma rosa…

Nanba: Acabam pensando. Não admira que, quando falo pelos cotovelos nos eventos, há pessoas que acabam indo embora durante minha fala! (Risos.)

Sogabe: Contudo, no que se refere a esta produção, é melhor que pensem em você dessa forma, não? Com certeza, é melhor.

Nanba: Sempre com uma rosa na boca?…

Sogabe: Não estou falando nesse sentido. (Risos.)

Nanba: Por falar nisso, pelo fato de as “Rosas-Piranhas” serem as favoritas entre os pequenos fãs do Afrodite, fiquei sabendo que existem garotas que fazem imitações com essas rosas na boca. Então, teve uma vez que recebi uma carta dizendo que [a menina] acabou cortando os lábios com os espinhos da rosa. (Explosão de gargalhadas.)

Horie: Se não tirar os espinhos… (Risos.)

Mediador: Depois que a série entrou na Saga do Imperador do Oceano, o senhor passou a fazer o papel do Posseidon. Há aspectos da atuação que o senhor tenha mudado conscientemente?

Nanba: Ainda que não seja de modo consciente, acaba mudando de repente. Afinal, o Afrodite realmente é um personagem que eu vinha construindo bastante. Paradoxalmente, como eu me continha bastante para representar o Posseidon, no que tange ao prazer de dublar, o Afrodite é melhor.

Mediador: Além do mais, o Julian Solo, do Posseidon, é um jovem de natureza pura.

Nanba: Talvez seja melhor dizer que, por ele ser uma pessoa nobre, eu tenho de me conter para me encaixar. Por ter muita classe, não combina comigo. (Risos.)

Horie: Sim, não combina. (Risos.)

Nanba: Talvez eu deva dizer que o Afrodite combina mais. Gostava mais dele.

Furuya: A vulgaridade, não é? (Risos.) Mas, em ocasiões como aquela em que o Posseidon circulou elegantemente na festa trajando um smoking, ele estava incrivelmente serelepe…

Sogabe: É que ele estava paquerando a Saori. (Risos.)

Nanba: Mesmo assim, eu compreendo os sentimentos do Posseidon. Vendo a atual destruição da natureza e tal, chega-se à seguinte conclusão: “Aniquile esses humanos idiotas!” (Risos.) Como quem transformou a Terra neste mundo ruim foram os humanos, ele limparia tudo de uma só vez…

Furuya: Ah, a “Arca de Noé”, não é?

Nanba: Entretanto, a turma do infeliz do Seiya tinha de atrapalhar… (Risos.)

Furuya: Bem, os 5 cavaleiros de bronze não estão tentando salvar a raça humana; eles estão tentando resgatar Atena. Ou seja, estão apaixonados.

Nanba: Neste caso, vamos dar Atena aos 5! (Explosão de gargalhadas.)

Furuya: o Nanba certamente queria fazer piadas na época do papel do Posseidon. Tenho certeza disso. (Risos.)

A fúria de Posseidon ao ver o arrimo do Santuário Submarino destruído por Pégaso é uma boa amostra da perícia do senhor Nanba

Mediador: E quanto à impressão resultante da atuação em Seiya?

Nanba: No que se refere a mim, pensei que sou mesmo inexperiente… Eu sou realmente grato ao quinteto de Seiya pela força que me deram ao mostrar alguém tão inexperiente como vilão.

Sogabe: Ave, Seiya! (Risos.) Mas, além de conseguir duelar, no bom sentido, com o pessoal, foi uma produção muito divertida.

Horie: Embora eu tenha ingressado no meio do caminho, foi uma experiência incrivelmente proveitosa pela descoberta de uma perspectiva diferente ao fazer a minha primeira vilã.

Furuya: Como consegui competir com pessoas habilidosas que eram capazes de se ligar a emoções profundas até mesmo por meio de falas bregas… (Risos.) acho que talvez eu também tenha auferido uma boa performance. Abençoado com convidados maravilhosos, eu pude interpretar o Seiya com tudo que eu tinha. Quero que também animem a Saga de Hades sem falta.

Mediador: Muito obrigado pela reunião de hoje. Doravante, também rezarei pelo seu sucesso. (Todos aplaudem.)

Nasce a Série Saint Cloth!

   O anime de Saint Seiya teve início em outubro de 1986. De olho no mangá desde o início, o estafe da companhia Bandai, que tencionava converter de alguma forma as “armaduras”, vestimentas com um conceito autóctone, em brinquedos charmosos, foi dando prosseguimento ao desenvolvimento dos produtos.

   As armaduras, que encampam o formato de seres convertidos em temas de constelações — a exemplo de animais e aves — e se desmantelam para se tornar partes das proteções corporais, eram uma temática mais que adequada para a Bandai, famosa por brinquedos combináveis como a “Superliga” [miniaturas de Mazinger Z].

   Mas a gana do estafe de produzir mais personagens que os da “Superliga” deu à luz um tipo sem precedente de artigo, que combinava a “mobilidade total do boneco” com “partes em liga metálica”. Imbuídos do desejo de que se transformassem numa série de sucesso, os produtos principais de Seiya foram batizados de “Saint Cloth Series”.

 

Um sucesso imenso, além da imaginação

   No final de 86, as 5 armaduras dos personagens principais, Pégaso, Dragão, Cisne, Andrômeda e Fênix, foram imediatamente colocadas à venda. Por serem artigos de um tipo absolutamente novo, também havia pessoas inseguras, perguntando-se se os brinquedos venderiam ou não. Entretanto, para a surpresa geral, os bonecos evaporaram assim que foram perfilados nas vitrines das lojas!

   As miniaturas se tornaram um estouro, produtos com estoque esgotado numa loja após a outra. Entre os artigos, por certo período, acabou ficando impossível achar, em qualquer loja que fosse, a armadura de Pégaso, de Seiya, o protagonista. Todos se lembram de ter visitado vários estabelecimentos à procura da armadura desejada, não é verdade?!

Filme promocional das primeiras miniaturas da série Saint Cloth

   É claro que essa popularidade era compatível com a qualidade dos bonecos, mas outro fator crucial para esse sucesso provavelmente foi a realização da campanha promocional na qual era possível ganhar a “Armadura de Ouro”. Campanhas assim também foram invariavelmente realizadas nas séries posteriores, e esses artigos se tornaram um dos produtos famosos da “Cloth Series”.

   Como é de conhecimento público, os objetos que viraram artigos promocionais, a exemplo do Mestre Arles e da Armadura de Odin, são itens tão cobiçados pelos fãs de Seiya que deixam até um gostinho na garganta. Então, é natural que essas pessoas fiquem animadas com a coleção. 

 

A grande explosão de popularidade com as armaduras de ouro

   Celebrando o sucesso da “Cloth Series”, foi decidida na Bandai a miniaturização das “Armaduras Negras”. No entanto, como se levantaram as vozes que apregoavam o encalhe dos bonecos por serem vilões, ficou decidido que eles seriam lançados no formato de versão limitada. Contudo, como as miniaturas se esgotaram num piscar de olhos, elas acabaram se tornando produtos-fantasmas, adquirindo até mesmo o status de artigos raríssimos, levando os profissionais da Bandai a lamentar a decisão de fazer apenas uma edição limitada.

Comercial legendado da série de armaduras negras. Obtendo um sucesso arrebatador, a edição limitada dos cavaleiros negros implodiu uma das máximas sagradas da indústria de brinquedos, o mito de que artigos de vilões não vendiam bem

   Entretanto, graças ao êxito das armaduras negras, a Bandai obteve a convicção de que até mesmo vilões venderiam, se fossem personagens charmosos, razão pela qual a empresa determinou o lançamento de todos os 12 modelos de armaduras de ouro. Com essas miniaturas se tornando um sucesso estrondoso, o boom das armaduras alcançou seu apogeu!!

Comercial legendado das miniaturas das 12 armaduras de ouro. O sucesso paroxístico dos bonecos dos cavaleiros dourados transformou a coleção no carro-chefe das miniaturas da Bandai

   O sucesso das armaduras de ouro talvez se deva à ampliação da natureza colecionável pelo fato de elas encamparem os 12 signos (afinal, queremos a armadura de nosso signo, não é verdade?). Mesmo no que tange aos artigos em si, à medida que ficaram mais esplendorosos e mais detalhados, eles foram se tornando brinquedos tão valiosos quanto um tesouro para os fãs.

   Assim, após sucessivos lançamentos, por meio das nove miniaturas das escamas, a série Saint Cloth se completa nesta primavera! Com mais de 50 artigos lançados ao todo, trata-se de um trabalho monumental, um feito indelével!!

Propaganda legendada das miniaturas dos guerreiros-deuses. As vestes divinas foram originalmente delineadas pelos profissionais da Bandai, facilitando a miniaturização

   Além das armaduras negras e do boneco de Bado [Bud] de Alcor, também foram lançados itens de produção limitada que não apareceram na obra. Trata-se da versão dourada das armaduras de bronze! Um monumento supremo aos cavaleiros que brilharam da mesma forma que as armaduras de ouro! Também queremos uma versão com as novas armaduras!

Saint Coliseu

   Dos produtos relacionados à série de armaduras, o único brinquedo que permite a diversão na mesma escala das miniaturas é o Saint Coliseu (R$ 322,92). Possibilitando a exposição de vários itens, é um colossal palco de batalha!

   A partir do momento em que as cinco armaduras de bronze foram lançadas, a primeira campanha, da armadura dourada, já estava sendo realizada. Tratava-se de um sistema no qual a inscrição na promoção era efetuada com 2 cupons ínsitos nas embalagens, mas, ao atrair uma atenção explosiva, acabou desempenhando o papel de ampliar drasticamente o boom das armaduras. Com a inscrição passando a ser realizada com apenas 1 cupom a partir do segundo item, as campanhas foram ficando mais e mais disputadas!

   Conta-se que, na época de campanhas como a do Mestre Arles e a da Armadura de Odin, como o número de inscrições foi grande demais, a concorrência acabou ficando incrivelmente acirrada, razão pela qual trovejavam telefonemas todo santo dia na Bandai, ligações que diziam coisas como: “Não importa quantas cartas eu mande, não sou contemplado” e “Ei! Vocês estão mesmo fazendo a loteria aí?”

   Se tiver algum destes itens, você é incrivelmente sortudo!

 

1º item: Armadura de Ouro

   A armadura dourada de Sagitário, que a turma de Seiya disputou nas sagas da Guerra Galáctica e dos cavaleiros negros (na verdade, a forma fora disfarçada a fim de enganar os inimigos), foi o primeiro prêmio.

   A conversão no modelo da constelação era possível, e todo o corpo era confeccionado em plástico.

2º item: Urnas Saint Cloth

   O segundo prêmio foi o aparecimento das urnas das armaduras, cofres capazes de armazenar as partes das vestimentas (claro, não acomodava os pedestais).

   Podia-se ganhar qualquer um dos cinco modelos, Pégaso, Dragão, Cisne, Andrômeda ou Fênix.

3º item: Mestre Arles

   Surfando no boom das armaduras de ouro, o prêmio do Mestre Arles foi o mais quente da série! Por ser um prêmio excelso, que trazia o boneco do homem sombrio e os trajes de Arles junto com o trono de ouro, era natural que todo mundo o quisesse!!

 

4º item: Armadura [veste] de Odin

   O prêmio da campanha da Saga de Asgard foi a armadura de Odin, que, por assim dizer, é a  “armadura dourada da Escandinávia”!

   Trata-se de um presente charmoso, que tinha todo o corpo coberto por um sublime revestimento, um chapeado que evocava o gelo, e estava equipado com a famosa espada Balmung.

5º item: Armaduras Negras

   Os últimos artigos promocionais da série de armaduras foram os populares cinco cavaleiros negros (1 unidade sortida).

   Como se tratava de uma versão negra das novas armaduras, elas não apareceram no anime, tornando-se, ao contrário, prêmios com a imagem próxima das armaduras negras do mangá.

Comentários sobre Seiya

Masaya Sasano

 Encarregado do desenvolvimento da série Saint Cloth, da Bandai

   Nós sofremos muito no desenvolvimento da série Saint Cloth. O fato é que, até agora, a Bandai nunca havia tido muito êxito com artigos similares à linha de armaduras, produtos centrados em bonecos. No entanto, o estrato de fãs de Seiya geralmente está numa faixa etária que pode comprar artigos por vontade própria, não é? Portanto, eu tinha a convicção de que, se desenvolvêssemos produtos com os quais essas pessoas se divertissem ao colecionar, indubitavelmente teríamos sucesso.

Propaganda legendada das primeiras armaduras de bronze. Lançada no Natal de 1986, a coleção das miniaturas de bronze deu início às famigeradas séries de miniaturas da Bandai

   Por meio da padronização dos bonecos da base, a natureza colecionável foi elevada e, como fomos desenvolvendo os artigos sempre com o mesmo conceito, o grau de perfeição foi se elevando progressivamente no decorrer do lançamento das armaduras de bronze, de ouro, das vestes divinas e das escamas.

   Na verdade, a conferência de apresentação da série de armaduras foi no dia do meu casamento. O encarregado não estar presente significa… (Risos.) Como não tinha outro jeito, eu mesmo fiz um vídeo promocional de cerca de 20 minutos e pedi que o exibissem. Parece que o entusiasmo foi transmitido, não é? Contudo, voltei ao trabalho logo no dia seguinte à cerimônia e, sem viagem de lua de mel nem nada, me esforcei pelo sucesso das “armaduras”. Nessa época, eu escutei a canção-tema de Seiya e acabei tocado pela passagem que diz: “(…) Como Pégaso, é chegado o momento de bater suas asas”, sabe? Eu pensava “Será realmente uma bênção se estes produtos baterem suas asas” e “Ah, como queria que vendessem”…

   Então, como acabou se tornando um grande sucesso, fiquei ocupado, e a viagem de lua de mel acabou ainda mais distante. (Risos.) Como não poderia ser diferente, até agora, o artigo mais vendido é a primeira armadura de Pégaso. Em seguida, a armadura dourada de Sagitário e talvez as novas armaduras de bronze. Devido à cooperação do mestre Kurumada nas novas armaduras de bronze, elas tiveram uma venda incrível. Quando os trajes mudaram para as novas armaduras, a princípio, tivemos reações do entorno como “São meio frágeis”, mas refutei: “Elas são boas porque são frágeis”. Se tivesse de dizer o porquê, acredito que essa percepção se deva ao fato de todo mundo ter se acostumado a ver as armaduras de ouro.

Propaganda legendada da segunda versão das armaduras de bronze da série Saint Cloth. Com o término das batalhas no Santuário, as armaduras de bronze também foram completamente renovadas, encampando um formato similar ao do mangá

   Por isso, insisti que deveríamos voltar ao ponto de partida de Seiya. No que se refere à turma de Seiya, trata-se de um cenário no qual eles utilizam seus corpos como armas para proteger Atena. É por esse motivo que não fica certo se eles tiverem indumentárias muito robustas. O meu artigo predileto é a nova armadura de Dragão. Todo mundo gosta dela, mas penso que ela é a mais legal. Mesmo no que se refere à qualidade de personagem, o Shiryu é o meu favorito. Nas novas armaduras de bronze, sem perceber, acabei ficando com o cabelo longo enquanto refinava os elementos das miniaturas. (Risos.)

   Por fim, a série de armaduras terminará por ora, mas quero acreditar que só teremos uma folguinha para descansar. É por isso que gostaria que o mestre Kurumada continuasse se esforçando e desse prosseguimento aos quadrinhos. Pois, devido à projeção do mangá, a volta à TV e o retorno dos brinquedos são bem prováveis.

Comentários sobre Seiya III

O anime só se torna uma produção se houver um estafe variado. Por meio da seção de entrevistas, nós vamos apresentar essas estrelas das sombras, astros que podem até mesmo ser chamados de heróis anônimos. Os comentários dos experts de cada área estão repletos de um cosmo ardente, uma energia que não fica devendo nada à turma de Seiya!

Isao Hatano — Gravação Sonora

“É a produção mais longa entre todos os animes com os quais já lidei.”

   Na gravação sonora, somos incumbidos da mixagem, mas pode-se dizer que é o trabalho de unificar sons como as vozes e as músicas. O fato é que, no caso dos animes, havendo os desenhos a princípio, captamos as vozes dos atores por intermédio da dublagem. Se porventura houver vozes fora de sincronia com o desenho, fazemos a edição, ajustando-as aos desenhos. E, enquanto pensamos no balanceamento das canções escolhidas pela pessoa a cargo da seleção musical e de elementos como os efeitos sonoros produzidos pelo sonoplasta, juntamos tudo com as vozes num só áudio.

   Bem, como esse chamado balanceamento é complicadíssimo, em Seiya também é assim, mas, nas partes que contêm muitos sons, vira uma mixórdia de sobreposições.  Nessas horas, fico num dilema: “Será que elevo a música de fundo?… Ou devo elevar os efeitos sonoros?…”

O trabalho de condensar as maravilhosas melodias e a dublagem com a profusão de efeitos característicos da obra é incrivelmente complexo  

   Além do mais, embora tenha a função de condensar o áudio, também não posso me intrometer demais. Creio que Seiya talvez seja o anime mais longo com o qual já lidei. É uma produção boa para trabalhar, e acho que a parte em que os cavaleiros de ouro apareceram foi especialmente boa. A música também é boa, mas houve momentos em que pensei que talvez [a série] fosse um pouco complicada para as crianças. (Risos.)

   No que se refere aos personagens, um cara como o Shiryu é mesmo galante. Quando a série começou, por ter um clima um pouco diferente das demais produções, fiquei confuso no início, mas, depois de ter continuado por tanto tempo, para mim, também é uma pena que tenha acabado, sabe?

Yasuhiro Yoshikawa — Edição

“Eu pensava em fazer a personalidade de cada um aparecer também durante as lutas.”

   No ofício da edição, incontáveis sequências do filme finalizado vão chegando a cada dia. Eu as organizo e as disponho na ordem do storyboard. Depois, vou configurando as sequências minuciosamente junto com o pessoal da direção de episódios e outros profissionais. Como se obtém um conteúdo mais longo que o tempo de exibição quando o filme é totalizado, trata-se da função de ajustar o filme ao tempo de transmissão enquanto penso, junto com a pessoa encarregada da direção do episódio, numa forma de exibir esse material, ora cortando menos, ora cortando mais.

   Faz mais de dois anos que estou totalmente dedicado a Seiya, mas, nas ocasiões em que foi adicionado o trabalho para os filmes, virou uma batalha física, sabe? Realmente… (Risos.) No trabalho, como eu memorizo os desenhos e a história pelos storyboards e roteiros, mesmo que falem dos capítulos mais marcantes de Seiya, para mim, seriam os episódios de cada semana, não é verdade? (Risos.)

   Se tivesse de escolher, como os de ação são os meus prediletos, mesmo fazendo a edição, diria que são os que têm lutas dos protagonistas, sabe? Eu penso em colocar ênfase na personalidade de cada um. Porque eles têm um padrão determinado, não é? Todos eles. Em compensação, eu também fiquei atônito quando esqueceram completamente que a Saori é a mais esnobe. (Risos.)

No anime, o amadurecimento de Saori ocorre a partir do décimo episódio

   Durante o trabalho, entre outras divagações, me pego pensando “Oh, um sujeito bacana apareceu, hein”. (Risos.) É que, embora o Seiya seja o protagonista de fato, também acontece de podermos achar o Shun e os outros mais legais.

   Também me foi permitido fazer este último trabalho para o cinema, mas [a série na] TV acabou terminando. É uma pena, sabe?

Yōko Okamoto — Registros

“Os personagens são lindos e, sem perceber, quase fico inebriada por eles.”

   Embora só tenha entrado em Seiya depois que a série ultrapassou 100 capítulos, exatamente por ser uma produção muito estimada, eu estava insegura se conseguiria fazer meu trabalho direito. Então, como meu filho, que está na sétima série, é um grande fã da Jump, obtive o background dele. (Risos.)

   O trabalho de registro equivale à função de coordenadora, ou melhor, enquanto assisto o diretor do episódio, vou transmitindo suas ideias a profissionais como a pessoa encarregada da gravação sonora ou da edição, colocando, assim, esses diferentes segmentos em ordem para a completude da produção.

   Numa produção live-action, seria o chamado script, mas, no caso das animações, há uma variedade de segmentos bem maior que nos live-actions. É por isso que, lendo várias vezes o storyboard e coisas do tipo, é preciso entender individualmente cada um dos personagens da turma de Seiya. Ao ler as falas nessas horas, por várias vezes eu simpatizei com eles. Os personagens são todos lindos, e eu quase sou absorvida pela obra e tal… (Risos.)

   O que me chocou foi o episódio 107, dirigido pelo senhor (Masayuki) Akehi; o Caça de Limnades, que se infiltra no coração dos oponentes. Temos a sensação de ter nosso íntimo claramente exposto.

Detentor da aterrorizante habilidade de se imiscuir na mente dos oponentes, o Caçador de Corações tenta ludibriar Ikki, mas é eliminado a sangue-frio

   Pensando que tinha de transmitir esse charme de Seiya às crianças de hoje em dia, eu também fiquei preocupada em me certificar de prestar atenção nos detalhes, a exemplo da inspeção da dublagem e de segmentos afins, entende?

Yasuno Satō — Seleção Musical

“Mesmo no que concerne apenas à música, Seiya é um drama sublime.”

   No meu caso, antes de as produções das quais estou encarregada começarem, eu leio a obra original ou roteiro e vou colocando no papel a imagem de que tipo de músicas é necessário. Então, com base no menu de músicas auferido, participo de um briefing com o compositor. Assim, depois que o maestro compõe as músicas definidas, vou selecionando no catálogo, semana após semana, as canções compatíveis com o episódio que irá ao ar.

   A partir desse ponto, ir aplicando as músicas adequadas a cada cena, conforme as instruções do diretor do episódio, é o trabalho do profissional a cargo da seleção musical. Depois, na hora da dublagem, peço para inserirem as músicas na extensão de suas respectivas cenas junto com os efeitos sonoros e afins. Essa é a hora mais tensa. (Risos.) 

   Na Saga de Posseidon, o bandolim se tornou o eixo, mas, como o maestro (Seiji) Yokoyama tem nos presentado com a composição de músicas centradas nesses tipos de instrumentos em Seiya, vai ficando mais e mais profundo. É outro drama majestoso, não é verdade?

Inspirado na atmosfera da Grécia, o maestro fez uso de bandolins no terceiro filme da série, aprimorando a experiência nas melodias da subsequente Saga de Posseidon

   No que tange aos temas dos 5 cavaleiros e tal, o estoque de temas, que começou com a quantidade de 5 fitas, agora chegou a quase 20. Como até agora eu participei mais de animes para meninas, ao fazer Seiya, sinto como se tivesse conquistado um outro universo próprio.

   O que me deixou marcada foram a Saga das 12 Casas e a de Asgard; talvez sejam as músicas que apliquei nas partes em que os inimigos vão morrendo… É que eu tentei retratá-las de forma bela com a utilização de cânticos.

A senhora Yasuno Satō selecionou o cântico excelso da cantora lírica Kazuko Kawashima para embalar a pungente confissão de Hilda, que sintetiza as cenas das mortes dos guerreiros-deuses. Composta originalmente para o terceiro filme, a canção O Dilúvio de Deucalião é maravilhosa

Yasuyuki Konno — Acústica

“O tema da Saga das 12 Casas foi o vento; o da Saga de Posseidon foi a água.”

   A acústica consiste na produção dos chamados efeitos sonoros, mas, por exemplo, já que se modifica o ritmo do drama por meio dos efeitos sonoros e tal, realizamos um trabalho que leva tudo isso em conta. No caso de Seiya, eu comi o pão que o diabo amassou com várias questões: como fazer o barulho de coisas sobrenaturais como o cosmo, ou melhor, de partes irreais?… Não dá para expressar a amizade entre homens por meio do som?…  (Risos.)  

   Se tivesse de dizer concretamente como faço os sons, bem, embora também haja os segredos da profissão… (Risos.) ao converter sons não tratados em material, nós os trabalhamos usando equipamentos como sintetizadores e outros aparelhos. Nos meteoros do Seiya, utilizo sons provenientes de coisas como armas de fogo, a exemplo de pistolas.

Para engendrar o som do disparo dos meteoros de Seiya, o senhor Yasuyuki Konno recorreu ao estampido de tiros de pistolas

   As técnicas secretas do Hyoga e do Ikki são feitas com o barulho de um disparo de canhão, mais impactante. Cheguei a fazer coisas como ir a um exercício da Força de Autodefesa e gravar o som dos canhões dos tanques… (Risos.) No que tange ao cosmo, uso vozes humanas. No que se refere ao sentimento em relação ao som como um todo, ele mudou a partir do estágio inicial, que foi feito com um senso de que se tratava de algo como a adolescência da ação, ficando mais e mais pesado.

   Na Saga das 12 Casas, fazendo do vento o tema, empreguei com frequência sons que lembram o vento. Na Epopeia do Anel Dourado, algo como a sensação de isolamento da Escandinávia, isto é, geralmente uma imagem escura e pesada. Como a Saga de Posseidon se passa no interior do oceano, ao fazer da água o tema, tentei construir o som com o barulho das ondas. No fim das contas, os efeitos sonoros dependem da ideia, mas, apesar de tudo isso, os sons que todo mundo pode achar naturais ao ouvir são os melhores, não é verdade?

Kunio Tsujita — Especificação e Inspeção de Cores

“Idealizamos as cores para que as células pudessem ficar independentes em relação ao cenário.”

   Se fosse instado a dizer que tipo de trabalho é a especificação de cores, a priori, seria ir determinando as cores de personagens e equipamentos ao avaliar a conexão desses elementos com a série como um todo. É a construção das regras. Nós vamos decidindo as cores desses elementos mediante discussões com os designers e com o pessoal das artes, mas, na hora das configurações básicas, os produtores, o diretor-chefe e até os patrocinadores se reúnem.

   Assim, baseando-se nas decisões resultantes desses procedimentos, a pessoa a cargo de cada episódio vai apontando as cores de forma concreta. Embora eu também estivesse realizando diretamente a designação de cores até o começo da Saga de Asgard, depois disso, como lidei apenas com as especificações gerais de cores e tal, meu envolvimento direto terminou.

O senhor Tsujita também participou da definição das cores de Thor e Hagen

   Mesmo nos animes, não há muitas produções em que até o sombreamento dos personagens e coisas do gênero são retratados, mas, em Seiya, sempre aplicamos as sombras. Inclusive nas horas de colocar o sombreamento nas armaduras para produzir a textura do material e coisas do tipo, nas vestimentas brancas, a expressão se dá adicionando sombras azuis e expedientes afins…

   No caso das brancas, nós quebramos a cabeça na tentativa de não usar no sombreamento um padrão acinzentado. Por meio desse procedimento, fizemos com que a célula não ficasse enterrada no cenário. Ou melhor, nós tentamos idealizar as cores para fazer o filme com a premissa de tornar as células independentes.

   No episódio 26, na parte em que [os cavaleiros] pulavam enquanto as bolas de fogo disparadas pelo Babel iluminavam o solo, mudei as cores para que ficasse mais realístico, e por isso foi um deus nos acuda. Mas também há muitos episódios marcantes, não é?

O senhor Kunio Tsujita foi obrigado a alterar as cores nas cenas em que as armaduras eram iluminadas pelas chamas de Babel

Mensagem do Autor a Todos os Fãs que Apoiam Seiya

   Para mim, Saint Seiya consiste no meu primeiro trabalho convertido em anime, razão pela qual até hoje não consigo esquecer a emoção do momento em que assisti àquele primeiro episódio. Como autor do mangá, não há felicidade que se compare ao fato de que, suportado pelo zelo do estafe, o anime Saint Seiya se tornou uma produção de alto nível. Em especial, os desenhos do senhor Shingo Araki e a música do senhor Seiji Yokoyama concederam aos quadrinhos do Kurumada um estímulo e impacto incomensuráveis.

   Bem, com o mangá chegando à Saga de Hades, finalmente nos aproximamos da parte mais importante da história. Na Saga de Hades, estou pensando num desenvolvimento completamente surpreendente.

A ilusão de Caça de Limnades aguçou a desconfiança de que Marin era a irmã mais velha de Seiya; no entanto, o término abrupto da animação acabou frustrando os telespectadores. O mestre Kurumada só revelou a identidade de Seika nos capítulos finais do mangá

   Doravante, como também pretendo ir esclarecendo as partes que se tornaram mistérios, conto com o apoio de vocês.

 Masami Kurumada

                                                                                                  5 de abril de 1989

Atena! O Grande Amor

Texto: Yoshiyuki Suga

Ilustrações: Shingo Araki & Michi Himeno

   A violenta batalha nas 12 Casas está terminada, e a turma de Seiya vaga entre a vida e a morte. Um sentimento secreto por Seiya brota no peito de Saori… Mas quem é a pessoa que estilhaça sua paz!?… Uma comovente história extrínseca de amor genuíno, não retratada na TV, que revelará a trajetória entre o fim da Batalha das 12 Casas e Asgard!

 

Germinação

   Todas as chamas incrustadas na torre do relógio de fogo se extinguiram. Infindáveis, apenas as estrelas fulguravam no céu noturno. Como que para curar as chagas dos enfermos, elas iluminavam tenuemente as feridas dos jovens que enfrentaram a Batalha das 12 Casas, a primeira conflagração da história do Santuário. A guerra atroz, que se estendeu por mais de 12 horas, chegou ao fim neste lugar.

   Mesmo após os cavaleiros de ouro sobreviventes terem levado Shiryu e os demais para que recebessem tratamento médico, Saori continuava a segurar Pégaso contra o peito. Embora soubesse que, não importava o quanto o chamasse, Seiya já não possuía forças para responder, sem limpar as lágrimas que lhe ensopavam as faces, Saori continuava a entoar o nome de Seiya dentro de seu coração.

— Seiya…

   Até hoje, ela decerto chamara por esse nome incontáveis vezes… Quando Saori era uma garota egoísta, antes de despertar para seu destino como Atena, Seiya foi o único a desafiá-la abertamente.

   Separado de Seika, sua única parente de sangue no mundo, e submetido a um árduo treinamento como aspirante a cavaleiro, o garoto detestava seu destino, uma sina semelhante à de um inseto à mercê de uma rajada de vento, e provavelmente tentava arremessar com todas as suas forças essa irritação e essa fúria em Saori.

   Quanto mais Seiya se opunha a ela, mais Saori o considerava detestável e o maltratava. Mas o fato é que a pequena Saori também já havia percebido…

— Seiya e eu somos parecidos…

   No decorrer da vida que levava como a única herdeira da Fundação Graude, uma criação que aparentava ser destituída de qualquer desconforto, Saori era solitária, sem ninguém com quem pudesse abrir seu coração. Mesmo que um grande número de servos e aspirantes a cavaleiro se ajoelhasse diante dela, ela jamais se sentia satisfeita. É que a menina percebia claramente que eles nunca eram autênticos, apenas curvando-se à autoridade de Mitsumasa Kido, o comandante em chefe da Fundação Graude. Por essa razão, a solidão, a irritação, a insegurança e a cólera…

   Saori havia descoberto alguém parecido consigo mesma nos olhos de Seiya, que a encaravam fixamente. O fato é que, mesmo enquanto torturava Seiya, ela gritava no fundo do coração.

— Seiya, me diga… o que eu devo fazer?… O que será de mim de agora em diante?… Seiya…

   Finalmente, depois que compreendeu seu próprio destino como Atena, Saori veio se devotando a matar a si mesma de forma deliberada.

   Seis anos depois que Seiya e os demais garotos se dispersaram pelos 4 cantos do mundo em busca de suas armaduras de bronze, quando os jovens retornavam ao Japão, Saori os submeteu a outra provação, a Guerra Galáctica. Cruelmente, ela agora ordenava que os garotos, que haviam sofrido grandes tribulações apenas para obter suas armaduras de bronze, se digladiassem.

   Saori se portava exatamente como uma imperatriz assistindo aos combates dos escravos nos coliseus greco-romanos enquanto se deleitava com vinhos refinados. Pelo menos, não há dúvida de que era vista assim por Seiya e pelos outros cavaleiros.

   A expressão facial de Seiya — que crescera ainda mais indomável — indumentado com a armadura de Pégaso exalava a autoconfiança de um cavaleiro adulto, mas os olhos que fitavam Saori certamente continuavam os mesmos. A herdeira da grande fundação engoliu as palavras de louvor a Seiya. Hoje, de que adiantaria ela proferir tais palavras?…

   Na verdade, o cosmo de Atena, que despertara no interior do corpo de Saori, sentia claramente que a Guerra Galáctica não passava de um mero prelúdio e que, doravante, Seiya e os demais passariam por lutas extraordinárias…

   Desde então, tempos de tormenta transcorreram, e a cizânia entre Saori e os rapazes foi se apagando. À medida que superavam juntos as sucessivas batalhas e provações, esse fosso foi sendo preenchido. Não mais como Saori Kido, e sim como Atena, Saori é protegida por Seiya e os rapazes — que o fazem no papel de cavaleiros de Atena — e também os protege.

— Saori! Atena!

— Seiya!

   Para Saori, em certas ocasiões, os sorrisos esporadicamente exibidos por Seiya nos intervalos das batalhas pareciam até mesmo radiantes. É claro, ainda que o gesto fosse direcionado à paz na Terra, simbolizada por Atena, e não à pessoa de Saori Kido, a moça também se alegrava em poder devolver um sorriso do fundo de seu coração.

   Quando criança, Saori fizera um apelo íntimo a Seiya, e a resposta demandada viera agora na forma de um meigo sorriso. Sempre que esse terno sentimento irrompia no peito, sem querer, Saori deixava de ser Atena e voltava a ser uma garota. Neste momento, sentindo justamente no peito o calor do rosto de Seiya, que repousava em seu colo como se dormisse totalmente fatigado e ferido, Saori sentia que estava a salvo sem a dor causada pela flecha de ouro disparada por Ptolemeu de Sagitta.

   Nada de impingir lutas desumanas aos cavaleiros nem de carregar o pesado fardo de Atena… A jovem pensava em como gostaria de ficar daquele jeito para sempre. O semblante de Saori, que olhava para cima como se apelasse à estátua de Atena, que se erguia ao lado, certamente era o da garota que parecia temer até mesmo o adejo de um passarinho, Saori Kido.

   Havia apenas um homem que observava calmamente o estado de espírito de Saori. Era o cavaleiro dourado Mu de Áries…

 

 O Amor de Atena

   Na manhã seguinte, vozes que se assemelhavam a um vagalhão furioso destruíram o silêncio e fizeram todo o Santuário tremer. Era o clamor de todo o povo exaltando Atena e celebrando seu advento. Devido à conspiração de Saga de Gêmeos, a identidade da deusa fora envolta num véu de mistérios e, no seio daquela massa, havia aqueles que suspeitavam até mesmo de sua existência, mas agora Atena revelava-se nobre e estonteante aos olhos de todos.

   Alegrando-se com o fim da discórdia e o triunfo da justiça, cada uma das pessoas que habitavam o Santuário rezava para que a paz vindoura se estendesse por toda a eternidade e nisso acreditava. Esse era o mesmo sentimento de Saori.

   Com efeito, o Santuário, que também pode ser considerado a pedra fundamental deste mundo, tinha se convertido num campo de batalha, e o sangue de muitos companheiros havia sido derramado. Quão grande seria a insegurança e o medo das pessoas?

   Mas ninguém percebeu que existia um resquício de turvação no sorriso gentil e reconfortante que Atena dirigia ao povo, com exceção de uma pessoa…

   Nos limites do Santuário, dentro de uma densa floresta, uma ermida velha e deserta estava edificada fora das vistas de todos. O lugar era chamado de “Fonte de Atena”, mas não devia seu nome à existência de uma bela fonte. Por milhares e milhares de anos, até mesmo o ar das imediações perpassava a pele com um frescor boreal. Pode-se dizer que, mesmo no Santuário, praticamente ninguém conhece essa morada.

   Sendo a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) dos guerreiros sagrados, era o lugar onde os 5 cavaleiros de bronze do grupo de Seiya, mortalmente feridos na Batalha das 12 Casas, recebiam cuidados intensivos. No interior dessa floresta verde-escura, revolvendo a barra de um vestido de uma brancura que parecia translúcida, estava a figura de Saori, correndo a passos leves.

— Eu sabia. Você veio, Atena…

Mu se colocou no caminho de Saori. Nesse momento, não passou despercebido ao cavaleiro dourado que, por um instante, veio à tona na fisionomia de Saori um pavor semelhante ao daqueles que cometem um crime, totalmente incompatível com a figura de Atena.

— É natural, não, Mu… que eu, Atena, me preocupe com o estado de Seiya e dos demais, os cavaleiros de Atena?… Por minha causa, eles…

— Quando se é um cavaleiro, ferir-se por Atena é natural. Mesmo que lhe custe a vida, é uma grande satisfação. Você deve saber muito bem disso…

   Saori percebeu claramente que Mu viu através de tudo que estava em seu coração. É que Mu sabia que a Saori de agora não era Atena, e sim a garota Saori Kido. Contudo, não importava o quanto a consciência do pecado transparecesse, agora, Saori não era capaz de conter a si mesma.

— Se o pior acontecer, e eu perder o Seiya…

A mera ocorrência desse pensamento sinistro acabara deixando o autocontrole e até mesmo o vestido de seda que a garota trajava mais leves.

— Afaste-se, por favor, Mu!

— É imperdoável que o amor de Atena seja dedicado a apenas um cavaleiro… O amor de Atena deve ser igual para todas as pessoas.

As pernas de Saori, que tentava passar por Mu, ficaram imóveis, exatamente como se estivessem paralisadas.

— O amor de Atena… apenas para um cavaleiro… um…

   Saori teve a sensação de que ouvia as fracas palpitações e os gemidos de Hyoga, Shiryu, Shun e Ikki, que lutavam para acender a chama quase moribunda de suas vidas, deitados sem consciência ao lado de Seiya na “Fonte de Atena”, situada bem diante de seus olhos. Não, não eram apenas eles. As figuras dos numerosos cavaleiros que derramaram seu sangue e tombaram por Atena vieram à mente da jovem, apertando seu coração.

   Mu lhe contou a origem do nome “Fonte de Atena”. Na era da mitologia, os cavaleiros mortalmente feridos nas frequentes guerras santas eram trazidos a esse retiro. Em consonância com o ditado popular segundo o qual os golpes dos cavaleiros rasgam o céu e rompem a terra, conta-se que mesmo os cavaleiros de bronze possuem ofensivas à velocidade do som, conseguindo disparar mais de 100 golpes por segundo; que os cavaleiros de prata alcançam de 2 a 3 vezes esse valor e que, no caso dos cavaleiros dourados, eles desfecham ataques à velocidade da luz, disparando mais de 100 milhões de golpes por segundo.

   Essa simples informação era o bastante para entender que os duelos desses homens eram guerras que desafiavam a imaginação e que os danos recebidos por eles também tinham suas consequências. Após o esfacelamento de seus átomos, a chamada base que forma a matéria, mesmo com o uso da medicina moderna, quantos entre os cavaleiros moribundos poderíamos salvar!?

   O fato é que vários cavaleiros feridos se dirigiam a esse encrave no Santuário, sua segunda terra natal, com o propósito de morrer em paz. Mas, nessas horas, uma lágrima caía da estátua de Atena, erigida num aclive remoto, e um cosmo dourado, um maná que irrompia como os oásis que irrigam os desertos áridos, envolvia toda a morada em seu calor. Assim, dizem que, milagrosamente, todos os cavaleiros escapavam da morte.

   Saori compreendia tão bem o significado da reprimenda, o sentido do que Mu tentava dizer, que doía-lhe ouvir aquelas palavras. Ao olhar para cima, mesmo em meio a um bosque denso, as sublimes e bondosas feições da estátua de Atena estavam claramente visíveis.

— Você não é mais uma simples garota. Desempenhando o papel de Atena, que voltou à vida no mundo contemporâneo, conspurcado por essa maldade, doravante, você terá de travar batalhas inimagináveis.

    Sem encarar Saori sequer uma vez nessa hora, ele lançava um olhar de solene admiração ao céu vazio. Seria essa a prova de que ele reconhecia Saori como Atena e nela acreditava? Ou será que ele tinha um pressentimento catastrófico em relação à Estrela Polar, que emanava uma cosmoenergia ominosa de uma distância longínqua? Não se sabe.

   Por fim, após se curvar de forma cortês, a silhueta do Cavaleiro Dourado de Áries foi desaparecendo em direção ao bosque.

   De imediato, Saori acatou o conselho de Mu e, para retornar à mansão Kido, deixou o Santuário na companhia de Jabu e Kiki.

— Qual será o significado do amor… de Atena?…

   Em contraposição ao coração tremulante de Saori, visto durante o voo, o mar Egeu fulgia em verde-esmeralda a ponto de ofuscar a vista.

 

O ataque misterioso

   Sucederam-se alguns dias à partida de Saori. Por algum motivo desconhecido, desde o período da manhã, até mesmo no Santuário, que não apenas vivenciava uma estação aprazivelmente quente mas parecia se manter embalado no aconchego de um clima perfeito somente para celebrar a chegada de Atena a nosso mundo, um frio invernal se fazia sentir de vez em quando.

   Sob cuidados exaustivos na “Fonte de Atena”, sem recuperar a consciência, Seiya e os outros ainda vagavam na fronteira entre a vida e a morte.

— Está dizendo que, da mesma forma que suas armaduras, os corpos dos cinco sucumbiram ao Conflito das 12 Casas?…

A ansiedade de Aiolia de Leão e dos demais cavaleiros dourados irrompeu quando Mu transmitiu a notícia funesta da morte das armaduras de Seiya e de seus amigos.

   Certa noite, quando os dois soldados incumbidos de guardar a “Fonte de Atena” se cansaram de falar do frio incomum para a estação e sacudiram seus corpos com um bocejo, seus olhos sonolentos ficaram esbugalhados.

   Passando pelas sentinelas, que se tornaram cadáveres sem tempo para sequer gritar “Quem é?!”, as sombras de quatro ou cinco homens correram para adentrar a morada sem nem mesmo emitir o som de seus passos. E, agindo da mesma forma que faziam nas caçadas em seu país natal, coberto pela neve durante o ano todo, ao eliminar sua respiração e inquirir os sinais de vida circundantes, foram capazes de escutar a débil mas indefectível respiração das presas.

— Naquele quarto!

   Os assassinos atravessaram um amplo corredor e, sem mostrar um pingo de hesitação, arrombaram a porta a pontapés tão logo se reuniram diante do quarto dos cavaleiros de bronze.

   No interior da alcova, a turma de Seiya jazia nas camas.

— Huh?

Uma das cinco camas estava completamente vazia.

— Foi uma batida demasiado rude para visitar doentes, não?

Um dos assassinos se virou e arquejou com surpresa ao avistar de pé, nas trevas do corredor, um homem exatamente igual a um fantasma.

— Quem… é você!?

— Hum, e ainda são os ratos-de-esgoto que se infiltraram no Santuário que querem saber o meu nome… mas que piada!

A energia vital havia desaparecido; o rosto estava encovado, mas um Ikki envolto numa imensa sede de sangue havia surgido da escuridão.

— O… O que você disse?!

   Caindo direitinho na provocação, os assassinos saíram no encalço de Ikki, que arrebentou a janela no corredor e pulou para fora do recinto. Se fosse o Ikki habitual, os rivais seriam chacinados com um só golpe.

   No entanto, apesar de ter se levantado da cama instintivamente ao sentir que os matadores se aproximavam, Ikki ainda estava tão mortalmente ferido quanto Seiya e os demais. Se a batalha se prolongasse, não há dúvidas de que não apenas ele mas principalmente os indefesos convalescentes se tornariam presas fáceis.

— Isto eu não posso permitir!

   Ignorando o fato de seu corpo ferido estar a ponto de urrar de dor devido à elevação de sua própria cosmoenergia, Ikki desfechou seu golpe supremo.

— Ave Fênix!!

Com os olhos arregalados de terror ante a possante e inédita ofensiva flamejante, os malfeitores pereceram.

   Nesse momento, um tremor distinto da dor das cicatrizes percorreu o corpo de Ikki. Tratava-se de um sanguinário ar congelante, uma aura tão poderosa que não poderia ser comparada à dos facínoras de antes.

   Com uma velocidade que não podia ser acompanhada pelos olhos, a sombra alva que apareceu entre as árvores saltou e desferiu um ataque.

— São movimentos à velocidade da luz, que apenas os cavaleiros dourados deveriam ter! Um golpe à velocidade da luz!

   Paralisado e atônito com a poderosa investida congelante, que se aproximava desenhando uma trajetória lívida como se rasgasse a noite escura, Ikki sentiu um frio percorrendo a espinha.

— Neste estado, eu não posso evitar!…

Ainda por cima, ele nem estava protegido por uma armadura.

    Sentindo um pavor da morte jamais experimentado, Ikki de fato viu o dono da sombra deixar escapar um sorriso malicioso, de certeza da vitória. Talvez o derradeiro sorriso do deus da morte para recepcionar os mortos possa ser descrito dessa forma.

— Irmão…

Fênix teve a impressão de poder ouvir a distante voz de Shun. No instante em que fechou os olhos no intuito de se preparar para morrer, um descomunal ar congelante explodiu no outro lado de suas pálpebras. Por algum motivo, ele sentiu um cosmo gigantesco e reconfortante envolvendo seu corpo.

— Shaka!

Quando Ikki abriu os olhos, Shaka de Virgem estava à sua frente, defendendo-o do golpe glacial.

   A sombra branca foi se dissipando na escuridão. A partir do brasão de Odin, encravado nas vestimentas dos assassinos, ficou evidente que eram soldados de Asgard, na Escandinávia.

— Por que soldados de Asgard vieram ao Santuário?…

   A dúvida de Shaka era natural. De fato, agora provavelmente era a melhor oportunidade para que forças hostis ao Santuário atacassem. Com o termo da guerra civil desencadeada pela insurreição de Saga, o Santuário fora unificado sob a égide de Atena, mas, de qualquer forma, os dias de paz eram recentes e, neste exato momento, também seria fácil sepultar a turma de Seiya, que demonstrou na Batalha das 12 Casas um poder de luta tão prodigioso que supera até os cavaleiros de ouro.

— Mas…

Shaka de Virgem murmurava como se questionasse a si mesmo:

— Eu ouvi que Hilda, a representante terrena de Odin, o deus de Asgard, é uma pessoa tão benevolente que chega a ser reverenciada e amada até pelos povos das nações vizinhas… Então, por que será?…

   Ikki tentou avançar antes que as palavras proferidas por Shaka terminassem.

 — Não sei quem diabo é Odin ou Hilda, mas jamais permitirei que façam o que quiserem. Está na hora de receberem minha visita!

— Com o corpo nesse estado, é impossível lutar com os lendários combatentes de Asgard, os guerreiros-deuses. Sem mencionar que, assim como Seiya e os outros cavaleiros de bronze, a sua armadura de Fênix vagueia na fronteira entra a vida e a morte.

— Como é?!

   A verdade é que, inclusive no caso da armadura de Fênix, a ave imortal, um traje que sempre volta à vida mesmo que seja desintegrado ou vire cinzas, as asas quebradas ainda não haviam se curado.   

    Por si só, o confronto com Shaka talvez não deixasse margens para dúvidas.

— Vamos acreditar em Mu, que está encarregado da restauração do seu traje e das outras armaduras, e também no Seiya e nos outros cavaleiros…

   Ikki não tinha opção senão anuir às palavras do guarda da sexta casa. Afinal, a superfície da armadura de Shaka, que se supunha ter contido a ofensiva glacial de agora há pouco, virara uma pedra de gelo esbranquiçada, como se tivesse sido horrivelmente calcinada. A mesma armadura de Virgem que permaneceu incólume diante dos golpes mais poderosos de Ikki…

— Aquela sombra branca… Será que aquele homem é um guerreiro-deus, um legendário combatente de Asgard?…

   Num estado de estupefação gradual, Ikki teve a sensação de ver um brilho agourento nas sete estrelas da Ursa Maior, posicionadas de tal maneira que pareciam proteger a Estrela Polar. Fênix só viria a saber que o guerreiro-deus que o atacou era Bado [Bud] de Alcor, a Estrela Zeta, depois de vários meses.

 

As lágrimas de Atena

   O fim da Batalha das 12 Casas estava para completar uma semana. Preocupados com Saori, que, sem sinal da notícia da recuperação dos cavaleiros, ficava frequentemente confinada em seu quarto, amigos como Tatsumi e Jabu apareciam para dar uma olhada no quarto de vez em quando, mas Saori apenas correspondia com um sorriso que parecia quebrado, como numa arte vítrea.

   Desde aquele dia, Saori se recordava incessantemente das palavras de Mu: “É imperdoável que o amor de Atena seja dedicado a apenas um cavaleiro… O amor de Atena deve ser igual para todas as pessoas”.

   Contudo, ironicamente, as palavras do cavaleiro dourado a fizeram atinar com o fato de que havia começado a amar esse único cavaleiro. Saori orava do fundo do coração pela cura de todos os cavaleiros, e não apenas de um.

   Ainda assim, quanto mais a jovem rezava, mais as palavras de Mu pesavam em seus ombros frágeis.

— O verdadeiro amor de Atena significa… que Atena não pode amar as pessoas?…

 O destino imposto a Saori lhe parecia uma cruz excessivamente pesada. E foi essa Saori que Kiki levou consigo ao jardim.

— Se a maninha não se animar, Seiya e os rapazes também não vão melhorar, não importa quanto tempo passe. Olhe só!

   Dependurando-se no galho de um grande pinheiro das redondezas, Kiki fez inúmeras revoluções num arremedo de barra horizontal e, embora esperasse finalizar o movimento com uma esplêndida aterrissagem, caiu esplendidamente de bunda no chão.

— Argh, é por causa desse tipo de coisa que sempre serei chamado de Kiki de Apêndice…

   Esses suspiros exagerados de lamentação extraíam sorrisos de Saori. O fato é que, à sua maneira, Kiki fazia tudo que podia para animá-la.

   Enquanto se deliciava com a visão de Kiki recostado no tronco do pinheiro com o traseiro no chão, reminiscências distantes se avivaram em Saori. Nos tempos em que a ainda pequenina turma de Seiya era submetida a um rigoroso treinamento nesta mesma mansão Kido, sempre que desaparecia, Seiya certamente podia ser encontrado sob esta árvore.

   Os galhos, que conservavam um sem-número de folhas no decorrer das 4 estações, faziam sombra até a altura da base mesmo nos dias de sol escaldante, e o barulho da folhagem que a confortável brisa levantava deve ter consolado o coração empedernido de Seiya vez ou outra. A bem da verdade, mesmo criança, Seiya provavelmente desejava viver livremente, como esta árvore, que estendia seus galhos em direção ao céu a seu bel-prazer.

   Certo dia, Seiya e os demais garotos ficaram sem comer um dia todo como se o erro cometido por um dos aspirantes a cavaleiro fosse responsabilidade de todos. Nessa ocasião, o faminto Seiya estava sob o pinheiro.

— Levante-se, Seiya!

   Saori ofereceu ao menino um sanduíche maravilhoso, um lanche do tipo que ele jamais vira na vida, repleto de presunto carnudo. Nem mesmo a garota entendia muito bem o que a levava a fazer tal coisa.

   No entanto, a despeito das inúmeras vezes que a menina ofertou a iguaria, sem nenhum ímpeto de esticar o braço, Seiya se virou para o outro lado.

— Eu disse para se levantar, Seiya!

— Eu não sou seu cachorro de estimação!

— Seiya!

   Em sua frustração, Saori olhou fixamente para Seiya. Mas, como num solilóquio, o garoto, que sentiu uma sombra solitária nas pupilas da pequena tirana, balbuciou, com o rosto voltado rudemente para o outro lado:

— Eu não posso comer sozinho. Da mesma forma que eu, o Shiryu, o Shun e os outros também estão morrendo de fome. Ainda assim, você só oferece a mim…

— Seiya, seu idiota! Se não precisa, vou lhe dar desta forma!

Jogando o sanduíche aos pés de Seiya, Saori foi embora a passos rápidos, sem nem olhar para trás. Na verdade, ela sentia que, se se virasse, as pupilas preenchidas com um sentimento ardente acabariam sendo vistas por Seiya.

   Hoje, mesmo que conseguisse transmitir o que sentia — não como Atena, mas como uma garota —, Seiya certamente diria a mesma coisa:

— Só para mim… Só para mim…

   Entretanto, hoje ela havia compreendido claramente o significado do sentimento que a tomou naquele momento.

— É justamente por Seiya ser desse jeito que eu…

   Com esforço, Saori represou a continuação de suas palavras. Afinal, Seiya não foi o único. Gravemente feridos para salvar a vida da jovem, Shiryu e os outros também estavam entre a vida e a morte neste momento, lutando com todas as suas forças na “Fonte de Atena”…

— O que foi, maninha?…

Voltando a si ao ser chamada por um Kiki que a observava com ares de preocupação, Saori não teve outra opção além de dar um largo sorriso para acalmar o garoto.

— Não, não é nada, Kiki. Vamos. Já está na hora de voltarmos.

   Nesse instante, Saori não tinha se dado conta de que, ao receber uma rajada de vento que continha uma poderosa cosmoenergia, as flores que haviam desabrochado plenamente em um canto do jardim foram congeladas numa fração de segundo, exatamente como flores secas. Então…

— Senhorita! Aconteceu algo terrível!!

Tatsumi, que havia mudado de cor, e os cavaleiros de bronze capitaneados por Jabu vieram correndo, transmitindo a Saori uma notícia urgente do Santuário: Aldebarã de Touro havia sido derrotado por alguém.

— Um homem como Touro foi vencido com apenas um golpe…

Ainda que a turma de Seiya seja uma exceção, valendo-se do senso comum, ninguém além de um cavaleiro de ouro pode derrotar um cavaleiro de ouro.

   Todavia, nem mesmo a ofensiva à velocidade da luz de Aiolia de Leão seria capaz de liquidar Aldebarã com apenas um golpe.

— Mas quem diabo… — enquanto Jabu murmurava, um incrível ar frio perpassou as roupas, penetrando as peles de todos.

— Você é Atena, não é mesmo?

Em meio a uma rajada de gelo, envergando um tipo de armadura desconhecido (veste divina), havia um homem com um joelho no chão e a cabeça abaixada em reverência.

   Porém, dirigindo seus olhos frígidos e lancinantes a Saori, um olhar que parecia transfixar o que mirava, esse homem se apresentou como um guerreiro-deus de Asgard: Shido [Syd] de Mizar, a Estrela Zeta.

   O algoz de Aldebarã não era outro senão o próprio Shido, e foi um golpe assustador, um atentado equivalente a uma declaração de guerra de Asgard contra o Santuário.

— Você é a próxima, Atena. É a sua vez…

Audaz, desta vez o guerreiro-deus marchou na direção de Atena como um sicário.

   Convertendo sua fúria num golpe, Jabu investiu contra Shido:

— Cale a boca! Eu protegerei a senhorita!

— Tome isto!

Jabu foi seguido por Geki, Ichi, Nachi e Ban.

— Pobres-diabos não têm utilidade para mim!

O lutador setentrional executou apenas um leve floreio com uma das mãos, e um golpe congelante idêntico às garras de um tigre separou o solo em várias faixas, varrendo Jabu e as outras vítimas da rajada como folhas.

— Não… Não brinque conosco!

 Fazendo das tripas coração, Jabu se reergueu, mas a vitória e a derrota já estavam evidentes aos olhos de todos.

— Pff, se quer tanto morrer, deve ir para o mundo dos mortos na frente a fim de receber Atena!

   No momento em que Shido estava para desfechar o ataque que venceu Aldebarã com apenas um golpe, as Garras do Tigre Viking, uma corrente chegou cortando os céus, evitando sua ofensiva.

— Quem é!?

Enquanto tensionava a corrente enrolada em seu braço, o guerreiro-deus duvidou de seus olhos diante da visão de um rapaz, um garoto tão formoso quanto uma menina, em guarda no meio do bosque.

— Shun de Andrômeda!

Era Shun, que envergava uma armadura de bronze totalmente nova.

   Na continuação…

— Você tem muita coragem para vir tirar a vida de Atena sozinho! Mas não permitirei que encoste um só dedo em Saori!

Cortando o espaço num salto do teto da mansão Kido, que se elevava muito acima de todos, Pégaso se colocou diante de Saori.

— Agora está tudo bem, Saori!

— Seiya!…

Saori ficou maravilhada com a figura de Seiya, que, da mesma forma que Shun, tinha seu corpo revestido pela ressurrecta armadura de Pégaso.

   A perplexidade da garota era natural. Afinal, até poucos dias atrás, tanto Seiya quanto Shun erravam entre a vida e a morte. Mesmo supondo que escapariam da morte, não causaria espanto que essa recuperação levasse, na menor das hipóteses, vários meses.

— Só para que a senhorita saiba, não somos fantasmas. Ao que parece, Enma-Daiō não gostou de nós.

Lendo as feições de Saori, Seiya deu uma risadinha com a traquinagem.

   Tamanho sangue-frio exulcerou o orgulho do guerreiro mais forte de Asgard, acendendo seu espírito de luta.

— Você é Pégaso… Muito bem! É melhor gravar bem na sua memória o que podem os cavaleiros de Atena quando comparados aos guerreiros-deuses de Asgard!

Após se desvencilhar das correntes de Shun, Shido correu em direção ao bosque como se instasse Pégaso a persegui-lo.

   Diminuindo a distância num só fôlego, Seiya disparou um golpe com todas as suas forças.

— Tome isto!

   Tanto a velocidade quanto o poder de seus golpes haviam aumentado em relação ao que eram no passado. As feridas de seu corpo ainda não estavam completamente curadas, mas as lutas atrozes na Batalha das 12 Casas tinham feito com que seu cosmo crescesse dramaticamente.

   Entretanto, o adversário também respondeu com movimentos e golpes comparáveis aos dos cavaleiros dourados. O padrão de seu ataque parecia idêntico ao do homem que havia atacado Ikki alguns dias antes, mas, àquela altura, nem mesmo o próprio Shido tinha ideia da existência daquele homem das sombras.

— Isto é um guerreiro-deus de Asgard… E, ainda por cima, esta tremenda cosmoenergia glacial!…

Embora a ofensiva congelante só o tivesse tocado muito sutilmente, Seiya sentiu que ela perpassou a nova armadura, congelando-o até à medula.

   Pégaso finalmente desferiu seu golpe mais forte.

— Meteoro de Pégaso!!

   Simultaneamente, o guerreiro-deus também disparou um golpe tenebroso.

— Garras do Tigre Viking!!

Um número incontável de meteoros e as garras do tigre se cruzaram, arremessando os dois contendores para longe.

   As incisivas ranhuras de gelo encravadas na nova armadura de Seiya foram o suficiente para mostrar o terror de Shido.

— Se este golpe tivesse sido direcionado a Atena, à Saori…

Levantando-se prontamente e envolvido num cosmo que queimava ainda mais forte, Seiya entrou em guarda novamente.

— Shido de Mizar, com isto, acertarei as contas!

— É exatamente o que eu esperava!

Ficou claro que o cosmo congelante em volta de Shido também se elevara ao máximo.

— Desta vez, se golpearmos um ao outro, um de nós vai morrer.

No momento da súbita clarividência de Pégaso, que passou por intermináveis derramamentos de sangue…

— Espere, Seiya!

A voz pungente de Ikki, que havia dado as caras, conteve Seiya.

— Por que, Ikki?! Esse sujeito veio para tirar a vida de Saori…

— Enquanto existirem os cavaleiros de Atena, a vida da deusa não será algo que possa ser tirado tão facilmente…

As palavras de Ikki não foram direcionadas a Seiya, mas a Shido.

— Nós, que uma vez vagamos pelo abismo da morte, não podemos desperdiçar esta vida!

— Nem mesmo por uma nova batalha, Seiya!

Ocultando um violento espírito de luta, Shiryu e Hyoga, que surgiram em seguida, também coagiam o assassino enquanto falavam ao amigo.

— Muito bem… O dia em que nós guerreiros-deuses e vocês vamos acertar as contas certamente chegará! Mal posso esperar por este momento, Seiya de Pégaso!

   O ar congelante que ainda impregnava a atmosfera foi sendo levado pelo vento à medida que Shido partia.

— Ugh…

   Quando a tensão amainou, Seiya gemeu ao sentir, através de sua armadura, o impacto causado pela ofensiva de Shido.

— Seiya!

Surpreendentemente, Seiya respondeu à aparente aflição de Saori, que veio correndo ao seu encontro, com um sorriso radiante.

— Está tudo bem, Saori. Mas não sei o que teria sido de mim sem esta nova armadura de Pégaso… Foi graças ao Mu e aos outros cavaleiros de ouro…

— Mu e os outros…

Saori foi informada de que as armaduras de bronze dos rapazes voltaram à vida graças ao sangue de Mu e dos outros cavaleiros dourados.

   Dizem que a perda de um terço do sangue geralmente acarreta a morte dos seres humanos. Contudo, sacrificando metade de seu sangue, os cavaleiros de ouro realmente apostaram sua própria existência ao infundir um novo sopro de vida nas armaduras mortas da turma de Seiya. Para reviver as armaduras dos oponentes com os quais tinham acabado de trocar golpes à custa de suas vidas nas Doze Casas…

   Saori sentiu seu coração ser fortemente tocado. O reconfortante “amor” de Mu e dos cavaleiros dourados… e a turma de Seiya, que, graças a um cosmo indomável, regressou das portas da morte como se correspondesse a esse sentimento…

— Em contrapartida, o que eu, que sou Atena, pude fazer por Seiya e pelos demais?…

   Mesmo se enchendo de sentimento de culpa, Saori agora conseguia compreender claramente o significado da “Fonte de Atena”, da qual Mu havia falado. Não é que o Cavaleiro de Áries a tenha proibido de amar um cavaleiro. Afinal, para alguém que não é capaz de amar um ser humano, seria ainda mais impossível amar várias pessoas, não é verdade?

   No entanto, assim como a luz do sol que ilumina esta Terra, as lágrimas da estátua de Atena, que dizem ter salvado os cavaleiros feridos, são reconfortantemente igualitárias. Seria fácil Saori viver como uma garota. Mas, conquanto sejam garotos, Seiya e os outros também se esforçam para levar a vida sob o cruel destino que lhes foi dado.

   Saori já não tinha dúvidas. Agora, o que a turma de Seiya precisa é da força imparcial e grandiosa de um amor infinito, o amor de Atena.

   Enquanto estendia a mão a Seiya, que tinha os joelhos no chão, ela se dirigiu aos cavaleiros dourados no distante Santuário:

— Obrigada, Mu, cavaleiros de ouro. Eu juro que também me esforçarei. Para fazer jus a vocês, acalentarei um amor magnânimo, do tipo que envolve as pessoas…

— Saori?…

   Na palma da mão de Seiya, que tentava sondar a jovem com os olhos, as lágrimas de Saori se derramaram. Num piscar de olhos, ficou nítido que uma cálida energia vital inundava todo o corpo de Seiya.

   Então, exatamente como a estátua de Atena a zelar por Seiya e todos os cavaleiros, aflorou nos lábios de Saori um sorriso de resplandecência nobre e graciosa.

   

 

 

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Aficionado sectário de Saint Seiya desde 1994, sou um misoneísta ranzinza. Impelido pela inexorável missão de traduzir todas as publicações oficiais da série clássica, continuo a lutar. Abomino redublagens.

8 Comentários

  1. Narcélio Victor on

    Trabalho de excelência. Já sabe da minha admiração por todo empenho e dedicação que você mostra com estas relíquias de Saint Seiya. Muito bom mesmo. Cada página, cada detalhe! Parabéns!

  2. Amigo, muchísimas gracias por haber traducido el tomo que faltaba. No se si recuerdes que antes de la pandemia te escribí para preguntarte cúando saldría, y apenas ayer, hojeando mis Jump Gold Selection, me dieron ganas de ver tu sitio y ¡qué grata sorpresa me llevé! Qué amable y comprometido eres con esta labor. Te mando un abrazo desde Puebla, México!!

  3. Muchísimas gracias amigo por tomar en cuenta mi propuesta. ¿Cómo podriamos contactarnos mas personalmente para platicar y compartirte mi material?

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