A Mesa-Redonda do Estafe Principal

Os Homens que Trouxeram Seiya a este Mundo

   A mesa-redonda definitiva, um bate-papo repleto de histórias secretas dos bastidores do mangá e do anime, tem início! Os valentes contendores são o mestre Masami Kurumada, autor da obra original, o mestre Shingo Araki, character designer e diretor de animação da série televisiva, o senhor Takao Koyama, à frente da composição, e os produtores Yoshifumi Hatano e Masayoshi Kawata. O cosmo está prestes a explodir!!

As histórias secretas do nascimento do anime são contadas pelo estafe da produção!

Mediador: Hoje temos a honra de sediar o encontro das pessoas do estafe principal que deram vida à versão animada de Seiya, a começar pelo autor da obra-mãe, o mestre Kurumada. Agradecemos a todos vocês e esperamos ouvir várias histórias concernentes à produção.

Kurumada: Se não estou enganado, acho que foi em junho de 86 que fui contatado para falarmos a respeito da conversão em anime, não?

Hatano: A primeira vez que visitei o mestre Kurumada foi num dia quente, não foi? É por isso que me recordo de ficarmos tomando chá de cevada durante toda a reunião… (Risos.)

Kurumada: Como seria a primeira transposição de uma obra minha, ao ouvir a proposta, eu também fiquei imaginando “como será que vai ficar?… Eu quero ver”… (Risos.)

Mediador: Tendo isso dito, a pessoa que concebeu os planos em si… Eles vieram do senhor, senhor Hatano?

Hatano: No que diz respeito à Tōei Dōga, havendo desde o início o interesse de produzir um anime em parceria com a TV Asahi, enquanto procurávamos essa obra, pensando nos patrocinadores e tal, Seiya foi sendo observado. Já com o feeling de que “era esta [obra] mesmo”… (Risos.)  elaboramos os documentos do planejamento de imediato ao confiar o trabalho à garotada e procedemos às conversas com o predecessor do senhor Kawata, o senhor Katō (Morihiro* Katō, produtor da TV Asahi), com a Shūeisha, com o mestre Kurumada e os demais envolvidos.

Produtor do seriado Ginga: Nagareboshi Gin, o senhor Morihiro Katō foi o produtor designado pela TV Asahi para a fase preliminar do projeto, mas acabou substituído pelo senhor Masayoshi Kawata antes da estreia de Saint Seiya

Kawata: Creio que, justamente nessa época, nós também estávamos com uma demanda por heróis. Afinal, além de o horário de exibição de Seiya, a faixa das 19 horas dos sábados, possuir um vasto contingente de telespectadores, era também a época na qual o programa de super-heróis que fizemos por um tempo estava chegando ao fim, sabe?

Hatano: Deve ser por isso que trabalhamos de forma tão harmônica, não é? Em seguida, as coisas foram se definindo em dois tempos; por volta de julho, se não me engano, encomendamos o roteiro do primeiro episódio ao senhor Koyama.

Koyama: Foi num relâmpago, da noite para o dia, não é verdade? O enredo chegou ao meu conhecimento em meados de julho, e a difusão se iniciou em outubro… Foi muito em cima da hora; no entanto, é nostálgico…

“Ao ver a transmissão, não tive mais arrependimentos.”

 

Kurumada: Como eu estava no trabalho quando o primeiro episódio foi transmitido, gravei numa fita de vídeo e vi o capítulo no meio da noite. Já estava com um frio na espinha, sabe? Quando vejo a abertura, minha obra começa exatamente na mesma hora que o reloginho das 7 horas da noite. Com isso, não tive mais arrependimentos. (Risos.) A bem da verdade, sendo uma audiência de 10% na TV, significa que 10 milhões de pessoas estão assistindo, não é?

O relógio exibido pela emissora NHK às 9 horas

Mediador: Mestre Kurumada, o senhor sempre teve o hábito de ver anime?

Kurumada: Eu via desde o primário. Animes como Ken, o Menino-Lobo… Contudo, por volta da quinta ou sexta série, eu enjoei do padrão arredondado dos desenhos da época e fui sendo atraído pelos mangás de aluguel. (Risos.)

Mediador: Por falar em mangás de aluguel, antes de se engajar na animação, o senhor Araki também os desenhava, não?

Araki: Sim. Eu desenhava numa editora chamada Central, de Nagoia. Em encadernados com formato de revista, como a Machi.

Kurumada: Se for a Machi, eu também conheço. É que, falando dos mangás de aluguel daquela época, podíamos alugar uma revista com R$ 0,60, R$ 1,20*…

Koyama: A tigela de lámen era R$ 4,80*. (Risos.) Lançadas naqueles tempos, a Shūkan Shōnen Magazine e a Sunday também custavam R$ 4,80*, não é?

*Nota do tradutor: originalmente, o mestre Kurumada diz que o aluguel dos mangás girava em torno de 5 a 10 ienes, ao passo que o senhor Koyama relembra o preço da tigela de lámen: 40 ienes. Esses valores foram convertidos e monetariamente corrigidos (1965-2011).

Kurumada: O traço dos mangás de aluguel daquele período seria o “gekiga”, certo? Era a vanguarda da época, não? Por causa do senhor Mitsuyoshi Sonoda e de autores como o senhor Takao Saitō, ainda ativo, eu acompanhava as antologias mensais de mangá até então, mas acabei admirado com o método de consecução de incríveis composições artísticas do gekiga. Sem essas experiências, pode ser que eu também não conseguisse composições como as de hoje. Então, após as publicações de aluguel, veio a era das revistas de mangá semanais…

O mestre Takao Saitō, criador de Golgo 13, também trabalhou na revista Machi, uma antologia direcionada ao mercado de locação de livros. O mestre Shingo Araki estreou como autor de gekiga em junho de 1958, publicando o título Tempestades e Lunáticos no volume 18 da Machi

Araki: Eram tempos em que, no caso dos livros de aluguel, se vendessem 2 mil exemplares (às locadoras), era um grande sucesso. Afinal, naquela época, você conseguia comer durante um mês inteiro desenhando apenas um encadernado. (Risos.) Eu desenhei 60 obras durante uns três anos de trabalho, mas, com os livros de aluguel entrando em declínio devido à pressão da televisão e das revistas semanais, vim para Tóquio. Foi então que eu comecei a trabalhar com animes.

Mediador: Oh, isso significa que as raízes do mestre Kurumada e do senhor Araki estavam conectadas por um aspecto inesperado, não é verdade? (Risos.)

Mediador: Depois que a transmissão começou, como foi o retorno para o canal de TV?

Kawata: No que se refere à emissora, a priori, inferindo com base no mangá, fizemos o anime visando os meninos da quarta, quinta e sexta séries, mas, na prática, a repercussão entre os estudantes do colegial e as estudantes do ensino médio foi avassaladora. A reação das garotas, em especial, é incrível. (Risos.) Mas foi uma felicidade, compreende? Eu me envolvi em Seiya sucedendo o senhor (Morihiro*) Katō, e esta produção foi o primeiro programa de animação do qual me encarreguei, mas, ao começar, logo chegaram cartas dizendo coisas como “Continue sempre assim!” e “Não pare!” (Risos.)

*Nota do tradutor: o nome do produtor Morihiro Katō é sistematicamente grafado como “Moriyoshi Katō” pelo editor. 

Kurumada: E quanto a cartas pedindo para “não matar” os personagens?

Kawata: Sim. No caso das garotas, é o Shun. “O Shun é um coitadinho” e por aí vai… (Risos.) Também existe o tipo de correspondente habitual que envia uma carta em total apoio a um determinado personagem toda semana, sem falta. Apesar de quase todos os correspondentes serem garotas.

Amparado por um enorme contingente de garotas ensandecidas, Shun é o personagem mais popular da série. O Cavaleiro de Andrômeda ganhou todos os concursos de popularidade da trilogia Jump Gold Selection

Kurumada: Você responde às cartas?

“Fiquei atônito com a menina que atravessava o mar todas as semanas para ver Seiya.”

Kawata: Sim, respondo. Por falar nisso, recebemos uma carta de uma garota de Aomori que ficou sabendo por meio de um amigo do peito que Seiya era legal; no entanto, como o anime não era transmitido em Aomori, ela viajava a Hokodate para vê-lo na casa dos parentes. A carta dizia que ela cruzava o mar todos os sábados para assistir à série, voltando para casa após pernoitar na residência dos parentes.

O trajeto de balsa entre as cidades de Aomori, em Honshu, e Hakodate, em Hokkaido, consome 3 horas

Todos: Como é?!

Kawata: Acabei ficando emocionado. Eu pensei que realmente era um felizardo por fazer Seiya.

Kurumada: Eu também… No ano passado, quando fui pela primeira vez à sessão de exibição prévia do primeiro filme, foi incrível… Cada vez que um personagem aparecia, as garotas berravam. (Risos.) Ao contrário das cartas dos fãs, como foi minha primeira experiência com tamanha resposta direta, eu fiquei feliz, sabe?

 

Hatano: O fato é que, mesmo pela TV, não se apreende diretamente uma repercussão assim.

Kurumada: E, no caso dos animes, a produção se dá pela firme amarração das configurações desde o início, não é? Mas, no caso dos mangás, como a história pode acabar mudando pelo fato de os personagens se moverem de forma independente, não podemos solidificar tanto os cenários. Seiya também foi assim. No início, eu estava deixando a vida me levar em personagens como a Atena, ou seja, havia partes em que os contornos não estavam muito bem definidos, mas, à medida que os briefings com o senhor Hatano e a equipe avançavam, elas foram tomando corpo… Acho que é um tipo de sinergia entre o mangá e o anime.

Mediador: Quando os personagens fincam tanto suas raízes, isso também propicia a produção de histórias exclusivas do anime, não é?

Koyama: No entanto, fazer uma história completamente original é, como vocês devem imaginar, bem complicado. Pois, ainda que se tente mostrar o personagem de um modo fiel ao papel em questão, mesmo numa fala, por exemplo, fatalmente haverá aquele aspecto que denunciará a falta do “estilo kurumadiano”. Mesmo que se tente chegar perto, acompanhar as loucuras — no bom sentido — que o mangá contém é um trabalho bem próximo do impossível.

Kurumada: Afinal, nem mesmo os autores dos mangás sabem o que vai acontecer na semana seguinte… (Risos.) Dessa forma, não importa o que aconteça, acaba por se tornar um desenvolvimento que pega todos de surpresa.

Koyama: Embora também exista no mangá uma preparação do terreno em prol do desenvolvimento futuro, não sabemos o que é com antecedência. Por exemplo, depois que fizemos e revelamos o Cavaleiro de Cristal, o mestre do Hyoga, aparece o Camus… (Risos.) Até esse evento, não conseguimos antever absolutamente nada, sabe?

Kurumada: Isso mesmo. Eu também não costumo tentar desenhar para entrar em conformidade com o desenrolar do anime. É por esse motivo que um dos atrativos de hoje em dia é elucubrar como será que vou terminar o mangá. (Risos.)

Koyama: Se mangá e anime passassem a poder inspirar um ao outro, creio que isso levaria a um completo aperfeiçoamento. Além disso, a sinergia é algo realmente valioso.

Mediador: A Batalha das 12 Casas, que tem a aparição dos cavaleiros dourados, se tornou o cerne deste segundo volume do Anime Special; então, acho que gostaria de ouvir histórias sobre eles também.

Hatano: No caso da Saga das 12 casas, assim como os fãs do Máscara-da-Morte, por exemplo, estão aumentando, parece que há um grande número de pessoas que se identificam com cada um dos cavaleiros dourados, não é? Eles são os inimigos e, ainda por cima, até os vilões do grupo caíram nas graças do público… Isso foi inesperado…

Kawata: O que surpreendeu em sentido contrário foi o Afrodite, não é verdade?

Kurumada: Não é um personagem muito popular, certo?

Kawata: Bem, até acho que ele é popular, mas, como já era esperado, talvez ele tenha empacado por ter confrontado o Shun… (Risos.)

Mediador: Deixando isso de lado, idealizar com tamanha parcimônia cada um dos cavaleiros dourados, que são altamente individualizados, deve ter sido complicado, não?

“Pela iluminação espiritual do Shaka, fui ao Monte Osore, nos confins de Honshu.”

 

Kurumada: O período em que mais quebrei a cabeça foi justamente a época do Shaka. Afinal, por se tratar de um homem próximo de Deus, alguém que, de todo modo, atingiu a iluminação espiritual, durante a composição, eu pensava até mesmo num homem que dominou algo mais que o sétimo sentido. Então, parti para a leitura de coisas como sutras e obras como Buda, do mestre Osamu Tezuka. (Risos.) Porém, continuei sem entender muito bem o que era a “iluminação”. Em face desse beco sem saída, por volta de junho do ano passado, fui de carro até o Monte Osore, na província de Aomori. Malgrado o tempo extraordinariamente límpido, havia cata-ventos fincados por toda a extensão daquele terreno vulcânico; e eles ficavam girando ruidosamente por causa do vento… Era um cenário bizarro… Entretanto, mesmo lendo os livros de Buda e artigos do tipo num quiosque de lá, não compreendi nadica de nada… (Risos.)

Localizada na península de Shimokita, a Montanha do Medo é uma projeção da cosmologia budista, comportando em seu sítio o Lago de Sangue, vários infernos e também o Leito Seco do Rio das Almas, Sai no Kawara (situado às margens do rio Sanzu)

Koyama: Quando entender isso, o senhor mesmo acabará ascendendo à iluminação. (Explosão de gargalhadas.)

Kawata: O que me deixou impressionado quando vi o Shaka no mangá foram aquelas mandalas que ocupavam toda a tela. Bem, também pensei em como faríamos aquilo em anime e que precisávamos mostrar aquela intensidade… (Risos.) Mas o pessoal do estafe trabalhou maravilhosamente, tirando de letra.

Kurumada: No mangá, só fiz um desenho; o resto é fotocópia. Eu estaria perdido se desenhasse todas as imagens de um troço intrincado como aquele. (Risos.)

Os mestres Araki e Himeno se encarregaram pessoalmente da concepção do Leito Seco do Rio das Almas e das mandalas que ornamentam o ataque Tesouro do Céu

Mediador: Então, no final das contas, o senhor deve ter obtido a iluminação, não?

Kurumada: Ah, quem dera! Após retornar a Tóquio, refleti: “Mas o que é que eu vou fazer!?” Eu me questionava se os leitores não acabariam perdendo o interesse, se eu ignorasse que o Ikki estava duelando com um homem que era praticamente um deus e os colocasse para lutar da mesma forma que os demais. Sendo assim, fazendo o Shaka pensar que não existem bem e mal absolutos e que o Grande Mestre sintetizava esse tipo de existência, eu conectei essa ideia ao princípio da impermanência. No fim, foi apenas isso.

O mestre Kurumada se valeu do princípio da impermanência para justificar a devoção de Shaka de Virgem ao Grande Mestre

Koyama: Contudo, acho que o mestre pesquisa muito. Agora, com o senhor dizendo que foi até o Monte Osore para coletar informações, eu entendi; não admira que, para nós também, semana após semana, era um objeto de interesse saber que ideias o senhor traria. Quando se pretende fazer do anime algo superior ao mangá, não há outro modo senão compreender, de qualquer forma, a rota visada pela obra original. É por isso que, embora seja confortável quando há uma obra-base, pensamos em como fazer para não deturpá-la.

Mediador: Mais do que o apelo da história, quando se fala do charme do anime, não importa o que aconteça, creio que é impossível fazê-lo sem mencionar a sublimidade dos desenhos. Falemos disso também…

A “dança” de Hyoga, que encarna totalmente o charme do anime…

 

Kurumada: O que me deixou mais boquiaberto, admirado por eles conseguirem fazer até uma coisa assim em anime, foi a dança do Hyoga. Aquilo é absolutamente impossível em um mangá. Porque não se pode usar várias páginas para disparar uma técnica, não é? (Risos.)

Kawata: Aquilo pegava as pessoas de surpresa, não? Por outro lado, também era meio ridículo às vezes… (Risos.)

Kurumada: Isso, há uma linha tênue com o cômico, não é?

Araki: Bolamos aquelas poses ao discutir com o pessoal da direção de episódios, mas, no caso do mangá, acaba-se saltando no espaço entre os quadros. Como preencher esses espaços é o trabalho do animador, quando dá certo, sentimos que cumprimos o nosso dever. É apenas nessas horas que pensamos que talvez tenhamos superado o mangá… (Risos.)

Introduzido no episódio 9 da série, um capítulo dirigido pelo senhor Shigenori Kageyama, o balé do Cisne nasceu de um colóquio entre a equipe de animadores e a força-tarefa de diretores de episódios

Kurumada: Graças a vocês, os leitores que assistem ao anime assumem que o Hyoga está “dançando” com apenas um quadro daquela pose no mangá. (Risos.)

Mediador: Como é o design dos personagens na versão do anime?

Araki: Quanto aos 5 protagonistas iniciais, os desenhos saíram de forma tão tranquila que chegamos a nos perguntar se estava tudo bem, razão pela qual ficamos um pouco apreensivos até ouvir o parecer do senhor Hatano como inspetor do anime. Se eu tivesse de apontar o personagem cujos sentimentos são mais compreensíveis para mim entre os que estive desenhando depois de entrar na confecção da animação, seria o Seiya. No filme que estreou no verão também… Eu ouvi que a cena do Seiya chorando ficou popular, mas foi como se a expressão da minha própria devoção por ele acabasse saindo nos desenhos. (Risos.) O Shun e o Shiryu vêm em seguida, um passo atrás do Seiya. O Hyoga tem uma aura solitária, tendendo a se afastar do grupo e, a princípio, eu não conseguia compreender isso de jeito nenhum. Portanto, na hora das grandes telas, como nas composições em que desenhamos todos os 5 juntos, mesmo convicto de que sabia como posicionar o Ikki e o Hyoga, na verdade, eu não tinha mais do que uma ideia geral. No entanto, entre outras coisas, fui instruído pelas cartas de um grande número de pessoas que assiste ao seriado na TV, sabe?

Pungente, a cena do pranto de Seiya comoveu plateias do mundo inteiro

Kurumada: Mesmo no que tange às roupas da turma do Seiya… as que eu desenhava evocavam o jeans do gekiga e tal, mas, a despeito de acabarem assumindo esse formato, no caso do anime, as calças são um tanto ou quanto parecidas com collants, não?

A armadura de Pégaso é envergada sobre as vestes cotidianas de Seiya

É por isso que, no início, eu ficava meio envergonhado assistindo ao anime. (Risos.) Contudo, há o fato de eu ter mitigado a estranheza ao aproximar o mangá dessa configuração, não é mesmo? Vendo pelo prisma de eu continuar incorporando no meu próprio trabalho os aspectos realmente bons do anime, sinto que jamais recebi um bônus como o que venho recebendo do senhor Araki, do senhor Koyama e demais membros do estafe.

O aperfeiçoamento do design levou à adoção de uma malha sob as armaduras, contrastando com as cores dos trajes

“Quando há o mangá, conseguimos expressar o grau de tensão.”

Araki: Isto é algo que compreendi depois de entrarmos na saga original [Asgard], mas, de fato, conseguimos expressar melhor aquilo que chamamos de tonicidade da tela quando temos os quadrinhos como base. Não apenas a história, mas o lado da animação também… Quando existe um quadro do mangá, há o fato de conseguirmos um sem-número de aventuras à nossa própria maneira a partir dele. Mesmo nos animes, ação de dispositivos robóticos significa movimentos mecânicos, não é verdade? É que geralmente conseguimos prevê-los. Contudo, no que diz respeito à ação da turma de Seiya, como preencher os espaços entre os quadros do mangá? Ninguém conhece os verdadeiros movimentos, não é verdade? Desse modo, vamos pegar como exemplo as sequências em que os cavaleiros correm.

Baseando-se na corrida do protagonista da série Oitavo Homem, o mestre Shingo Araki engendrou o deslocamento sobre-humano dos cavaleiros

Já que um cavaleiro correndo é diferente de um humano normal correndo, existe a diversão de adicionarmos as poses segundo o nosso próprio arbítrio. Nessas horas, há o desafio de sermos obrigados a criar com a nossa própria imaginação. Ficamos conjecturando se a pose é daquele jeito…

Uma animação de 1963, Oitavo Homem inspirou o mestre Araki ao instituir a corrida com postura inclinada para projetar a sensação de velocidade

Hatano: Mas, mesmo que todos os programas de anime sejam assim no que se refere aos personagens, eles acabam mudando constantemente, não é? Quando um anime chega à marca de 100 episódios, os personagens já mudaram tanto que podemos dizer que estão completamente diferentes.

Araki: Eu também fico pasmo quando tento comparar a série de antes com a série de agora… Os corpos de toda a rapaziada ficaram mais delgados… (Risos.) Logo no início, ainda que não chegássemos ao patamar de um Kinnikuman, nós desenhamos os garotos com um bocado de músculos, mas, no decorrer da história, inesperadamente, eles acabaram afinando. Ao refletir sobre essa situação, estamos restaurando a forma original pouco a pouco.

Na primeira parte da série, os cavaleiros de bronze eram mais robustos

Kurumada: No mangá também. Sem colocar músculos em tipos como o Shun, eles praticamente ficam com braços de mulher… E também, quando colocamos músculos em personagens belos como o Mu, sentimos que tem algo fora do lugar. Um bombadão com uma face daquela… (Risos.)

As feições delicadas dos personagens formosos foram magistralmente convertidas em anime pelos mestres Araki e Himeno

Hatano: Já que também ocorre o fenômeno de os desenhos irem se aproximando da imagem da voz dos dubladores, eles vêm se modificando desde a inserção das vozes nos 13 primeiros episódios. Como Seiya passou dos 100 episódios em seu segundo ano, isso é algo irreversível, não?

Mediador: Creio que isto fica especialmente evidente nas histórias originais e segmentos do gênero, mas a força da roteirização também é ingente em Seiya, não é verdade?

Koyama: O que eu não entendo até hoje é por que diabo confiaram o roteiro a mim, tendo em mente que fui alcunhado de “Koyama, das piadas” por ter passado os 10 anos anteriores a Seiya engajado na área das comédias… (Risos.) Por causa da minha relação com o senhor Hatano e com os demais membros do estafe, fui transferido de Dragon Ball para Seiya e, como estávamos numa época anterior à transmissão televisiva, quando as configurações da história ainda não eram claras, também havia a insegurança por não conseguirmos vislumbrar os acontecimentos futuros. Acima de tudo, havia a maior de todas as incertezas: por que me escalar em um seriado de ação? Contudo, graças a Deus, a produção se tornou um sucesso e, se há alguém pensando “Oh, ele não se resume a comédias; ele também consegue escrever roteiros de ação”, posso dizer que virou um trabalho ao qual sou imensamente grato, não é?

Hatano: Mas uma pessoa que pode escrever comédias com certeza consegue escrever um drama ortodoxo.

Koyama: Como acabei introduzindo piadas sem me dar conta no início, houve ocasiões em que fui corrigido… (Risos.) Ainda assim, foi realmente a primeira vez que me permitiram escrever tanto e por um período tão longo para uma produção específica.

Kurumada: Mas o humor é mesmo de suma importância, não é verdade? Até no sentido de quebrar a tensão… Além disso, se não houver uma folga na adrenalina, mais cedo ou mais tarde, acaba ficando difícil acompanhar. Embora possamos dizer que isso é complicado no caso de Seiya. Neste ponto que estamos agora, não se pode mais introduzir piadas fora do lugar…

Koyama: Quando um personagem faz graça uma vez, é depois que vem o problema. Ele acaba ficando obrigado a fazer de novo.

Kurumada: Ora, se fizer palhaçada no meio da batalha, ele vai acabar sendo assassinado pelo oponente. (Risos.) Os cavaleiros de ouro desferem 100 milhões de socos por segundo… Se o Seiya ou outro qualquer der um espirro, já era… (Explosão de gargalhadas.)

Hatano: No caso em questão, fazer Seiya com personagens super deformed* seria a única alternativa, não é mesmo? (Risos.)

Os personagens ganharam uma versão miniaturizada no jogo Saint Seiya Paradise

Kurumada: Eu me pergunto se este anime não faria sucesso… (Risos.)

Kawata: Spin-offs e programas do tipo… Como produtor, ainda que eu queira fazer…

Koyama: Bem que eu queria ter uma chance de fazer tudo o que me desse na telha… Em contrapartida, a responsabilidade acabaria indo toda para o senhor Araki… (Risos.)

O estafe também vai chorar de felicidade? Personagens SD

Araki: Bem, eu ficaria feliz. Todo o pessoal do estafe também vai derramar lágrimas de felicidade. (Risos.) Contudo, no Seiya atual, se ficar assim de repente, vai ser um pouco… (Risos.)

Kurumada: Na história de agora, não dá, não é? (Risos.)

Koyama: Porque acabamos elevando o nível da produção de forma demasiada, não é?

Hatano: Não, se levássemos o projeto a cabo, talvez pudéssemos deixar claro que se trata de uma brincadeira. Embora não seja algo que possamos fazer de modo recorrente. (Risos.)

Mediador: Acho melhor encerrarmos por aqui, enquanto estamos extasiados e os personagens super deformed de Seiya ainda não viraram realidade. (Risos.) Obrigado a todos vocês.

*Nota do tradutor: muito populares em sátiras, os personagens super deformed são figuras miniaturizadas, caricaturas concebidas com as dimensões da cabeça ocupando um terço da área total do corpo.

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Aficionado sectário de Saint Seiya desde 1994, sou um misoneísta ranzinza. Impelido pela inexorável missão de traduzir todas as publicações oficiais da série clássica, continuo a lutar. Abomino redublagens.

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