Detalhes da Produção

Introdução ao Pegasus Box

    O período compreendido entre 1985 e o primeiro semestre de 1986 foi crítico para a indústria da animação japonesa. Isso ocorreu porque os animes de robôs, uma espécie de carro-chefe dos desenhos da década de 80, entraram em declínio. 

   Animes como Gundam (1979), expoente máximo das séries de robôs realísticos, também partilhavam do mesmo destino. O público-alvo, que havia se tornado a base da audiência, passou a ser cooptado por segmentos de nicho, como o dos OVAs, episódios produzidos diretamente para o mercado de vídeo.      

   Com a situação difícil se estendendo até mesmo ao campo da audiência, as vendas dos produtos ligados aos programas também estagnaram. Esse fenômeno foi especialmente desesperador para os fabricantes de brinquedos que vendiam artigos derivados das séries.      

   A dificuldade de vender os produtos acarretou a impossibilidade de patrocinar os programas, e as vozes que apregoavam a teoria da restrição dos animes de mechas passaram a ser sussurradas nos mercados interno e externo.  Consequentemente, o espaço minguou. Em 1983, a TV transmitia mais de 10 animes do gênero; contudo, eles não passavam de 4  produções no ano de 1985.  

   Outro fenômeno da época, a disseminação dos consoles domésticos permitiu que os personagens dos videogames passassem a dançar no palco dos heróis das telas de TV, contribuindo para o colapso dos animes televisivos.    

Paixão nacional, o gênero dos mechas, inaugurado pelo mestre Mitsuteru Yokoyama em 1956, entrou em declínio em meados dos anos 80 em virtude da superexposição e do advento de novas mídias

   Nessa conjuntura, os planos para a veiculação de um novo programa no outono de 1986 vêm à luz pelas mãos da Tōei Dōga (atual Tōei Animation para futuras referências) e da TV Asahi. A grade de exibição seria aos sábados, às 7h da noite.     

   Naqueles tempos, na região de Kantō, era transmitido no mesmo horário o Manga Nippon Mukashibanashi (1976), um programa de grande  audiência da TBS, e o desafio das companhias consistia em engendrar um conteúdo hercúleo para fazer frente a essa célebre atração.

Consistindo em historietas baseadas no folclore japonês, a segunda versão do Nippon Mukashibanashi, exibida entre 1976 e 1994, possui mais de 1.450 episódios, capítulos com cerca de 10 minutos de duração

   Como o horário das 19 horas também havia sido a grade na qual os heróis de live-actions auferiram ótima receptividade para a TV Asahi no passado, o projeto visava a uma produção com grande heroísmo. Assim, a escolha recaiu sobre Saint Seiya, obra que viera ao mundo nos dois primeiros volumes de 1986 da antologia semanal Shōnen Jump, numa edição combinada.      

   O autor da obra original era o famoso mangaka Masami Kurumada, que já havia se tornado uma espécie de “autor-fantasma” para a indústria dos animes, haja vista os incontáveis boatos acerca da conversão de seus populares trabalhos anteriores em anime, histórias que nunca se materializavam. Dessa forma, Saint Seiya acabaria sendo seu primeiro mangá transformado em acetato.     

   Uma vez que a transposição de Saint Seiya para o anime começou a se desenvolver imediatamente após o início da publicação, a Tōei Dōga realizou os sucessivos ajustes com a emissora e os patrocinadores desde os estágios preliminares.     

   Em junho de 86, meio ano após o começo da publicação, uma oferta foi feita ao autor, e a produção foi oficialmente determinada. Em julho, o script do primeiro episódio foi encomendado.      

   Quando levamos em conta que o primeiro encadernado do mangá só foi lançado em setembro de 1986, é possível compreender que a conversão em anime se deu em tempo recorde, numa velocidade sem precedentes até mesmo entre os outros títulos oriundos da Jump.     

   Como o projeto e a publicação do mangá  se iniciaram simultaneamente, ainda que os documentos do planejamento aventassem a aparição de Ikki e seu séquito de fênices negras como o grupo de antagonistas, foi retratada “a disputa entre os 10 cavaleiros pela armadura de ouro na Guerra Galáctica” (ao que parece, a imagem dos 10 cavaleiros de bronze estampando os materiais promocionais, a abertura, o encerramento e demais veículos publicitários remonta aos eventos serializados na época do projeto).

Pôster publicitário da época da difusão. Não apenas os 5 principais mas também os 5 cavaleiros de bronze remanescentes foram representados. Pode ser considerado o primeiro croqui a representar a imagem do período do planejamento

   Considerando que o anime televisivo Saint Seiya era uma produção extrínseca a todas as categorias de animação existentes, séries que gravitavam em torno de mechas, comédias, histórias de bruxinhas e conteúdos do gênero (falamos de tempos em que mesmo a palavra “fantasia” era insueta), o projeto foi levado adiante ao ser rotulado para os patrocinadores como uma extensão dos animes de robôs, ou com a percepção de que se tratava de um substituto para os animes de robôs.   

   Por essa razão, o senhor Kōzō Morishita, profissional reconhecido pela direção de animes protagonizados por mechas e produções de ação, foi escalado para a função de diretor-chefe. Engajado num trabalho em cooperação com o exterior, o sr. Morishita era exortado por uma gana extraordinária de voltar a realizar uma produção direcionada ao mercado interno.

Pôster produzido no introito da terceira temporada [a partir do episódio 27]. Apresentando em grande escala os cavaleiros de aço, personagens novos, tornou-se uma imagem que destoava da história original

   Embora tenha arregimentado a força dos veteranos em postos-chave da força-tarefa de diretores de episódios, o diretor-chefe tomou a atitude proativa de delegar poderes a uma equipe de jovens diretores. Além disso, a produção contou desde o início com uma estrutura especial, absolutamente impensável para as séries de TV convencionais, recursos que permitiram a implementação de um novo mecanismo de processamento de máscara na composição óptica bem como diversas benesses do tipo.      

Sob o comando do senhor Morishita, o estafe galáctico da série desenvolveu uma nova tecnologia de processamento óptico para retratar os efeitos luminosos dos trajes e a resplandecência do cosmo

   Conforme o esperado, a imagem final da animação arrebatou não apenas as crianças, o público-alvo, mas até mesmo o nicho de fanáticos por animação. A produção ficou famosa da noite para o dia, num verdadeiro piscar de olhos.

As armaduras que aparecem no programa não se limitaram a um grande sucesso; elas estabeleceram um novo conceito como categoria de brinquedos, o da “brincadeira de armaduras”

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Aficionado sectário de Saint Seiya desde 1994, sou um misoneísta ranzinza. Impelido pela inexorável missão de traduzir todas as publicações oficiais da série clássica, continuo a lutar. Abomino redublagens.

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