“(…) para mim, Seiya é um trabalho que marcou época.”
ENTREVISTA Nº 2 — O DUBLADOR DE SHUN DE ANDRÔMEDA
— O papel do Shun foi decidido por meio de uma audição?
No início, houve uma audição. Mas isso aconteceu há mais de uma década… (Risos.) Também fiz testes para os papéis dos outros 4 cavaleiros de bronze. Não lembro se foi do Shun ou do Seiya, mas, na primeira vez que me mostraram um desenho, eu tive a impressão de que era muito jovenzinho. Por essa razão, dei um ar pueril à minha interpretação. Ao fazer isso, o papel do Shun foi definido.
Eu jamais poderia imaginar que ele se tornaria um personagem amado por todo mundo até hoje, mais de 10 anos depois… Nesse sentido, fui realmente um felizardo por ter sido escolhido.
— O senhor conseguiu assimilar o personagem de imediato?
Mais do que conseguir assimilar, como comecei do zero, eu mesmo fui construindo o personagem. “Ganha quem cria primeiro!” (Risos.) Até então, a maior parte dos personagens que eu vinha fazendo era constituída de papéis de garotos vigorosos e radiantes. O tipo impulsivo, paladinos da justiça que abominavam a iniquidade.
Era a primeira vez que eu me deparava com um personagem afeminado e, como também havia partes andróginas, eu pensava em seguir esta linha. Uma vez que a turma de Seiya tem personalidade direta, um padrão constante nos heróis, a indagação de como seria se eu adicionasse a sensibilidade feminina a esse estereótipo culminou neste personagem.
Sendo o mais compassivo dos 5, ele pensa nos sentimentos das pessoas em demasia, passando por cima dos seus próprios desejos. Em termos de personalidade, ele é mais ou menos daquele tipo que recua um passo e contemporiza: “Como eu entendo o que você quer dizer, vou fazer o possível para não entrar em conflito”, certo?
— O senhor dublou um novo tipo de personagem, diferente dos que havia feito até o momento…
Sim, o Shun foi o primeiro desse estípite. É por isso que, para mim, Seiya é um trabalho que marcou época. O Shun de Andrômeda foi o primeiro papel completamente inovador que tive a oportunidade de interpretar. Contudo, ao fazê-lo, continuei a pegar esse tipo “delicadinho”, não é?
— Como era a relação com o Ikki?
Considerando que o Hideyuki Hori é meu amigo há séculos, a dublagem foi fácil nesse sentido também. É a mesma coisa agora, mas, por causa desse hiato de tantos anos, eu já estava pensando que o pessoal tinha mudado e tal, mas ninguém mudou nadica de nada… Regressamos ao passado num átimo. Foi curioso, sabe? Embora não atinemos nisto, tudo o que cultivamos até aqui continua ininterrupto na nossa história pessoal.
Foi por isso que, mesmo nos encontrando depois de mais de 10 anos, acabamos voltando aos velhos tempos numa fração de segundo, como numa reunião de ex-alunos. Consequentemente, também conseguimos atuar em Hades: A Saga do Santuário sem qualquer desconforto.
— Naquela época, como era a atmosfera na dublagem?
Amistosa, confortável para atuar. Talvez haja também o fato de eu ter uma natureza descarada… (Risos.) mas eu não ficava nervoso nem mesmo na presença dos outros veteranos. Hoje em dia, como já estamos com uma boa idade, quando vamos ao estúdio, ou a qualquer lugar que seja, a maioria das pessoas é menos experiente.
— Ultimamente, o senhor tem estado ativo em áreas diversas, a exemplo dos filmes voltados ao mercado de vídeo. Nessas horas, o senhor emprega a experiência acumulada em Seiya?
Penso que há uma sinergia entre todos os segmentos. No início, eu vivia atuando. Wingman marcou a minha estreia na dublagem. Mas o vetor do ofício do dublador não seria apenas a voz? Num trabalho audiovisual, temos o auxílio da imagem, mas é realmente complicado atuar só com a voz.
— Creio que também havia uma legião de fanáticos alucinados naqueles tempos, mas gostaria de pedir ao senhor que mandasse uma mensagem aos fãs que compraram estes DVDs.
Se vocês puderem voltar a se divertir como na época da exibição em tempo real, gritando coisas como “Kyaahh!! Shun!!”, nós nos sentiremos mais honrados do que nunca.
— Muito obrigado.
2003 — entrevista concedida no escritório comercial