Figuras Dramáticas, Quadrinhos para Meninas e Anime

Pesquisa da Produção

Gekiga, Mangá Shōjo & Anime

O gekiga, que influenciou Shingo Araki, e o mangá shōjo, influência de Michi Himeno, são estilos de mangá característicos do Japão. Vamos tentar detectar estas expressões, manifestações arraigadas nos animes, a partir das peculiaridades dos desenhos da dupla

 Texto: Takanaka Shimotsuki

       Aclamado como o deus dos mangás, Osamu Tezuka transpôs para o anime sua obra-prima Astro Boy (1963) no Mushi Production, estúdio que ele próprio erigiu. A conexão entre os mangás e os animes iniciava-se com essa obra, a primeira série de 30 minutos da TV japonesa.

       Ainda que, antes disso, o estilo de Tezuka, caracterizado pela “deformação arredondada” dos personagens e dos cenários, já houvesse se consolidado como a corrente dominante no desenho dos mangás, na segunda metade da década de 50, emergia dos mangás de aluguel o diametralmente oposto estilo “gekiga”, com roteirização violenta e acentuadas linhas retilíneas.

Considerado vetusto à luz dos quadrinhos contemporâneos, o seminal estilo Tezuka influenciou praticamente todos os autores japoneses

       Shingo Araki, que começou como autor de mangás de aluguel, passa a receber o batismo de ambas as escolas, o mangá Tezuka e o gekiga. Entrementes, Osamu Tezuka produz também mangás direcionados a garotas, a exemplo de A Princesa e o Cavaleiro. Essas obras inauguram um segmento original e, na década de 60, o mangá shōjo de design moderno é estabelecido por autoras como Hideko Mizuno.

O belo traço da mestra Hideko Mizuno inspirou a consolidação do estilo da mestra Michi Himeno

       No introito da década de 70, com o surgimento da geração de Moto Hagio e Yumiko Ōshima, o mangá shōjo invade até mesmo os domínios da literatura, arrebatando também os leitores do sexo masculino. Como leitora, Michi Himeno também experimenta as tendências que se seguem ao advento de Hideko Mizuno.

O traço idílico da mestra Yoshiko Nishitani também inspira a mestra Himeno até hoje

       A partir da década de 60, graças ao vertiginoso lançamento de revistas do gênero seinen e à crescente investida dos autores egressos dos mangás de aluguel nas antologias do segmento shōnen, o boom do gekiga varreu o mundo dos quadrinhos.

       Em pouco tempo, devido à simbiótica relação entre os animes e os mangás, suprimento de obras originais das animações, a explosão do gekiga também se propaga pelas produções animadas.

       Produções como Kyojin no Hoshi e Sabu to Ichi Torimono (ambas de 1968) despontam na TV e, como a força e a aspereza características do gekiga também são incorporadas por seu estilo de desenho, para Shingo Araki e outros animadores, é a chance de romper com o estilo Tezuka.

O gekiga é a força motriz do estilo do mestre Araki

       Em 1974, Shingo Araki finalmente funda o Araki Pro. Em sequência, Michi Himeno também se junta ao estúdio. Dessa forma, com o acréscimo dos desenhos fashion e doces de Himeno aos desenhos dinâmicos e angulares de Araki, que incorporam o toque do gekiga, o Araki Pro. foi dando à luz trabalhos matizados com sua própria cor.

       Esse glamour foi exibido em seu máximo esplendor até mesmo no desenho de personagens originais, como Tony Harken, de Wakusei Robo Danguard Ace (1977). E, em meio à moda dos personagens bonitos, que irrompeu junto com o boom dos animes, o Araki Pro. chamou a atenção do público como celeiro de figuras formosas.

Tony Harken, um dos personagens bonitos do Araki Pro.

       Além disso, a popularidade dos personagens lindos de morrer também passou a cooptar as garotas, que torciam por eles entusiasticamente, gerando uma nova base de fãs de anime.

       É nesse período que os character designers, cuja habilidade primacialmente demandada até então era fazer arranjos com os desenhos do mangá, começam a ter cada uma de suas concepções originais altamente apreciada. Doravante, na forma dos “desenhos do anime”, essa tendência começaria a influenciar até mesmo os mangás, as obras-mãe. 

       Posteriormente, enquanto a conversão em anime das obras da Shōnen Jump semanal se popularizava, a dupla Araki & Himeno, que já havia empedernido sua reputação com produções como A Rosa de Versalhes (1979), embarca em Saint Seiya (1986). O dueto acabaria dando a melhor de suas expressões artísticas a essa versão televisiva, onde os jovens heróis travam batalhas mitológicas.

O belo traço de Riyoko Ikeda também influenciou a mestra Himeno

       Nesta obra, se congregam personagens deslumbrantes, arquétipos que tiveram suas proporções formadas por traços que até parecem fluidos, e a ação marcial dos gládios — que provoca ao mesmo tempo uma erupção de sentimentos avassaladores — também é executada mediante movimentos estilísticos e “intervalos”.

       Além disso, a excelsitude dos requintados desenhos, nos quais a delicada expressão dos olhos descreve o interior dos personagens e o vaivém dos cabelos denota até mesmo os sentimentos, pode ser tida como a colaboração suprema dessas duas pessoas, que, indubitavelmente, assimilaram elementos que vão desde o gekiga até o mangá shōjo.

O trabalho excelso do Araki Pro. transformou Saint Seiya num anime que ecoa na eternidade

       Não há dúvidas de que um dos estilos que caracterizam a japanimation, aquilo que modernamente é chamado de “anime”, está condensado na animação.

      Então, após 4 filmes para o cinema e uma produção para vídeo de Seiya, o último fruto do trabalho da dupla é apresentado no filme Prólogo do Céu. Talvez este também seja o “prólogo” de uma nova expressão para Araki & Himeno.

 

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Aficionado sectário de Saint Seiya desde 1994, sou um misoneísta ranzinza. Impelido pela inexorável missão de traduzir todas as publicações oficiais da série clássica, continuo a lutar. Abomino redublagens.

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