Publicação oficial de Saint Seiya (Os Cavaleiros do Zodíaco)
Jump Gold Selection 2: Saint Seiya Anime Special 2 — Compilação Especial da Shūkan Shōnen Jump, Shūeisha

    Lançado em 9 de novembro de 1988, no epílogo da Saga de Asgard, o segundo volume da trilogia Jump Gold Selection — Saint Seiya Anime Special é a publicação mais cobiçada da série televisiva. O apreço hiperbólico dos fãs se deve ao engajamento integral dos mestres Shingo Araki e Michi Himeno nas ilustrações dos cavaleiros de ouro, obras-primas confeccionadas exclusivamente para o livro, que focava as batalhas encarniçadas contra os cavaleiros de prata e a primeira parte da conflagração fratricida do Santuário.

   Além da arte onírica dos mestres Shingo Araki e Michi Himeno, o almanaque, que teve a edição capitaneada pelos editores Toshimasa Takahashi, Kensuke Itō e Tetsuo Daitoku, está repleto de materiais transcendentais, como os croquis de criação dos cavaleiros dourados, dos cavaleiros de prata, dos guerreiros-deuses e dos 7 generais, absolutamente inéditos até então, os imperdíveis depoimentos do estafe e do elenco, um dicionário com a terminologia da obra, a apresentação dos brinquedos do anime, a continuação da fragorosa seção Coliseu dos Filhos das Estrelas e os nomes envolvidos na produção de cada capítulo do seriado.

   Leitura obrigatória para os fãs de Seiya, o livro ainda brinda os leitores com  sinopses ilustradas dos capítulos do anime — do episódio 26 ao 53 —, uma matéria especial com personagens inesquecíveis do seriado, uma introdução à Epopeia do Anel Dourado, a apresentação em foto-legenda do segundo filme, o média-metragem A Grande Batalha dos Deuses, e uma introdução imperdível à Saga de Posseidon e aos personagens do Santuário Submarino.

   Mimando os compradores, a publicação também traz o depoimento da reclusa mestra Michi Himeno e uma mesa-redonda com o estafe principal, um bate-papo revelador que congregou o mestre Masami Kurumada, o mestre Shingo Araki, o roteirista Takao Koyama e os produtores Yoshifumi Hatano e Masayoshi Kawata.  

   Fazendo jus a um livro que haveria de se tornar o “Santo Graal” dos artigos de Saint Seiya, o segundo volume da Jump Gold Selection agraciou os entusiastas da epopeia dos cavaleiros com a obra extrínseca A História Secreta de Excalibur: Saga! O Prelúdio da Ambição, um conto com narrativa do senhor Takao Koyama e ilustrações da dupla Araki & Himeno.

 

Nota à Edição Brasileira da Jump Gold Selection 2

   Um sucesso atemporal, a série clássica de Saint Seiya é objeto de idolatria em todos os países em que foi exibida, sobretudo no Brasil, na França e no México, países nos quais cooptou milhões de sectários ardorosos e se converteu num fenômeno da cultura popular. Enfeitiçado pela magia irresistível dos cavaleiros, fui exortado a verter as maravilhosas publicações oficiais de Saint Seiya ao nosso idioma, tornando-me o primeiro ocidental a traduzir os panfletos da tetralogia cinematográfica dos anos 80, os livretos que integravam a coleção de DVDs lançada entre 2002 e 2004, o livro Saint Seiya Hikari: Shingo Araki & Michi Himeno Illustrations e o primeiro volume da Jump Gold Selection — Saint Seiya Anime Special.

   Dando continuidade à transposição desta coletânea, ofereço aos leitores a versão brasileira do segundo volume, uma obra calcada nas excelsas ilustrações dos mestres Araki e Himeno. Três décadas após a comercialização da edição nipônica, esta é a primeira versão internacional do livro, uma edição que deve ser celebrada pelos fãs ocidentais da obra.

   Eu me regozijei com cada informação nova no decorrer da tradução e espero que vocês apreciem esta fantástica publicação tanto quanto eu.

                                                                    Fábio Vaz Mendes (sagatwin@hotmail.com)

[ジャンプゴールドセレクション2 聖闘士星矢 アニメ・スペシャル2]

Jump Gold Selection 2 Saint Seiya Anime Special 2

A Mesa-Redonda do Estafe Principal

Os Homens que Trouxeram Seiya a este Mundo

   A mesa-redonda definitiva, um bate-papo repleto de histórias secretas dos bastidores do mangá e do anime, tem início! Os valentes contendores são o mestre Masami Kurumada, autor da obra original, o mestre Shingo Araki, character designer e diretor de animação da série televisiva, o senhor Takao Koyama, à frente da composição, e os produtores Yoshifumi Hatano e Masayoshi Kawata. O cosmo está prestes a explodir!!

As histórias secretas do nascimento do anime são contadas pelo estafe da produção!

 

Mediador: Hoje temos a honra de sediar o encontro das pessoas do estafe principal que deram vida à versão animada de Seiya, a começar pelo autor da obra-mãe, o mestre Kurumada. Agradecemos a todos vocês e esperamos ouvir várias histórias concernentes à produção.

Kurumada: Se não estou enganado, acho que foi em junho de 86 que fui contatado para falarmos a respeito da conversão em anime, não?

Hatano: A primeira vez que visitei o mestre Kurumada foi num dia quente, não foi? É por isso que me recordo de ficarmos tomando chá de cevada durante toda a reunião… (Risos.)

Kurumada: Como seria a primeira transposição de uma obra minha, ao ouvir a proposta, eu também fiquei imaginando “Como será que vai ficar?… Eu quero ver”… (Risos.)

Mediador: Tendo isso dito, a pessoa que concebeu os planos em si… Eles vieram do senhor, senhor Hatano?

Hatano: No que diz respeito à Tōei Dōga, havendo desde o início o interesse de produzir um anime em parceria com a TV Asahi, enquanto procurávamos essa obra, pensando nos patrocinadores e tal, Seiya foi sendo observado. Já com o feeling de que “era esta [obra] mesmo”… (Risos.)  elaboramos os documentos do planejamento de imediato ao confiar o trabalho à garotada e procedemos às conversas com o predecessor do senhor Kawata, o senhor Katō (Morihiro* Katō, produtor da TV Asahi), com a Shūeisha, com o mestre Kurumada e os demais envolvidos.

Produtor do seriado Ginga: Nagareboshi Gin, o senhor Morihiro Katō foi o produtor designado pela TV Asahi para a fase preliminar do projeto, mas acabou substituído pelo senhor Masayoshi Kawata antes da estreia de Saint Seiya

Kawata: Creio que, justamente nessa época, nós também estávamos com uma demanda por heróis. Afinal, além de o horário de exibição de Seiya, a faixa das 19 horas dos sábados, possuir um vasto contingente de telespectadores, era também a época na qual o programa de super-heróis que fizemos por um tempo estava chegando ao fim, sabe?

Hatano: Deve ser por isso que trabalhamos de forma tão harmônica, não é? Em seguida, as coisas foram se definindo em dois tempos; por volta de julho, se não me engano, encomendamos o roteiro do primeiro episódio ao senhor Koyama.

Koyama: Foi num relâmpago, da noite para o dia, não é verdade? O enredo chegou ao meu conhecimento em meados de julho, e a difusão se iniciou em outubro… Foi muito em cima da hora; no entanto, é nostálgico…

“Ao ver a transmissão, não tive mais arrependimentos.”

 

Kurumada: Como eu estava no trabalho quando o primeiro episódio foi transmitido, gravei numa fita de vídeo e vi o capítulo no meio da noite. Já estava com um frio na espinha, sabe? Quando vejo a abertura, minha obra começa exatamente na mesma hora que o reloginho das 7 horas da noite. Com isso, não tive mais arrependimentos. (Risos.) A bem da verdade, sendo uma audiência de 10% na TV, significa que 10 milhões de pessoas estão assistindo, não é?

O relógio exibido pela emissora NHK às 9 horas

Mediador: Mestre Kurumada, o senhor sempre teve o hábito de ver anime?

Kurumada: Eu via desde o primário. Animes como Ken, o Menino-Lobo… Contudo, por volta da quinta ou sexta série, eu enjoei do padrão arredondado dos desenhos da época e fui sendo atraído pelos mangás de aluguel. (Risos.)

Mediador: Por falar em mangás de aluguel, antes de se engajar na animação, o senhor Araki também os desenhava, não?

Araki: Sim. Eu desenhava numa editora chamada Central, de Nagoia. Em encadernados com formato de revista, como a Machi.

Kurumada: Se for a Machi, eu também conheço. É que, falando dos mangás de aluguel daquela época, podíamos alugar uma revista com R$ 0,60, R$ 1,20*…

Koyama: A tigela de lámen era R$ 4,80*. (Risos.) Lançadas naqueles tempos, a Shūkan Shōnen Magazine e a Sunday também custavam R$ 4,80*, não é?

*Nota do tradutor: originalmente, o mestre Kurumada diz que o aluguel dos mangás girava em torno de 5 a 10 ienes, ao passo que o senhor Koyama relembra o preço da tigela de lámen: 40 ienes. Esses valores foram convertidos e monetariamente corrigidos (1965-2011).

Kurumada: O traço dos mangás de aluguel daquele período seria o “gekiga”, certo? Era a vanguarda da época, não? Por causa do senhor Mitsuyoshi Sonoda e de autores como o senhor Takao Saitō, ainda ativo, eu acompanhava as antologias mensais de mangá até então, mas acabei admirado com o método de consecução de incríveis composições artísticas do gekiga. Sem essas experiências, pode ser que eu também não conseguisse composições como as de hoje. Então, após as publicações de aluguel, veio a era das revistas de mangá semanais…

O mestre Takao Saitō, criador de Golgo 13, também trabalhou na revista Machi, uma antologia direcionada ao mercado de locação de livros. O mestre Shingo Araki estreou como autor de gekiga em junho de 1958, publicando o título Tempestades e Lunáticos no volume 18 da Machi

Araki: Eram tempos em que, no caso dos livros de aluguel, se vendessem 2 mil exemplares (às locadoras), era um grande sucesso. Afinal, naquela época, você conseguia comer durante um mês inteiro desenhando apenas um encadernado. (Risos.) Eu desenhei 60 obras durante uns três anos de trabalho, mas, com os livros de aluguel entrando em declínio devido à pressão da televisão e das revistas semanais, vim para Tóquio. Foi então que eu comecei a trabalhar com animes.

Mediador: Oh, isso significa que as raízes do mestre Kurumada e do senhor Araki estavam conectadas por um aspecto inesperado, não é verdade? (Risos.)

Mediador: Depois que a transmissão começou, como foi o retorno para o canal de TV?

Kawata: No que se refere à emissora, a priori, inferindo com base no mangá, fizemos o anime visando os meninos da quarta, quinta e sexta séries, mas, na prática, a repercussão entre os estudantes do colegial e as estudantes do ensino médio foi avassaladora. A reação das garotas, em especial, é incrível. (Risos.) Mas foi uma felicidade, compreende? Eu me envolvi em Seiya sucedendo o senhor (Morihiro*) Katō, e esta produção foi o primeiro programa de animação do qual me encarreguei, mas, ao começar, logo chegaram cartas dizendo coisas como “Continue sempre assim!” e “Não pare!” (Risos.)

*Nota do tradutor: o nome do produtor Morihiro Katō é sistematicamente grafado como “Moriyoshi Katō” pelo editor. 

Kurumada: E quanto a cartas pedindo para “não matar” os personagens?

Kawata: Sim. No caso das garotas, é o Shun. “O Shun é um coitadinho” e por aí vai… (Risos.) Também existe o tipo de correspondente habitual que envia uma carta em total apoio a um determinado personagem toda semana, sem falta. Apesar de quase todos os correspondentes serem garotas.

Amparado por um enorme contingente de garotas ensandecidas, Shun é o personagem mais popular da série. O Cavaleiro de Andrômeda ganhou quase todos os concursos de popularidade da trilogia Jump Gold Selection

Kurumada: Você responde às cartas?

 

“Fiquei atônito com a menina que atravessava o mar todas as semanas para ver Seiya.

Kawata: Sim, respondo. Por falar nisso, recebemos uma carta de uma garota de Aomori que ficou sabendo por meio de um amigo do peito que Seiya era legal; no entanto, como o anime não era transmitido em Aomori, ela viajava a Hokodate para vê-lo na casa dos parentes. A carta dizia que ela cruzava o mar todos os sábados para assistir à série, voltando para casa após pernoitar na residência dos parentes.

O trajeto de balsa entre as cidades de Aomori, em Honshu, e Hakodate, em Hokkaido, consome 3 horas

Todos: Como é?!

Kawata: Acabei ficando emocionado. Eu pensei que realmente era um felizardo por fazer Seiya.

Kurumada: Eu também… No ano passado, quando fui pela primeira vez à sessão de exibição prévia do primeiro filme, foi incrível… Cada vez que um personagem aparecia, as garotas berravam. (Risos.) Ao contrário das cartas dos fãs, como foi minha primeira experiência com tamanha resposta direta, eu fiquei feliz, sabe?

 

Hatano: O fato é que, mesmo pela TV, não se apreende diretamente uma repercussão assim.

Kurumada: E, no caso dos animes, a produção se dá pela firme amarração das configurações desde o início, não é? Mas, no caso dos mangás, como a história pode acabar mudando pelo fato de os personagens se moverem de forma independente, não podemos solidificar tanto os cenários. Seiya também foi assim. No início, eu estava deixando a vida me levar em personagens como a Atena, ou seja, havia partes em que os contornos não estavam muito bem definidos, mas, à medida que os briefings com o senhor Hatano e a equipe avançavam, elas foram tomando corpo… Acho que é um tipo de sinergia entre o mangá e o anime.

Mediador: Quando os personagens fincam tanto suas raízes, isso também propicia a produção de histórias exclusivas do anime, não é?

Koyama: No entanto, fazer uma história completamente original é, como vocês devem imaginar, bem complicado. Pois, ainda que se tente mostrar o personagem de um modo fiel ao papel em questão, mesmo numa fala, por exemplo, fatalmente haverá aquele aspecto que denunciará a falta do “estilo kurumadiano”. Mesmo que se tente chegar perto, acompanhar as loucuras — no bom sentido — que o mangá contém é um trabalho bem próximo do impossível.

Kurumada: Afinal, nem mesmo os autores dos mangás sabem o que vai acontecer na semana seguinte… (Risos.) Dessa forma, não importa o que aconteça, acaba por se tornar um desenvolvimento que pega todos de surpresa.

Koyama: Embora também exista no mangá uma preparação do terreno em prol do desenvolvimento futuro, não sabemos o que é com antecedência. Por exemplo, depois que fizemos e revelamos o Cavaleiro de Cristal, o mestre do Hyoga, aparece o Camus… (Risos.) Até esse evento, não conseguimos antever absolutamente nada, sabe?

Kurumada: Isso mesmo. Eu também não costumo tentar desenhar para entrar em conformidade com o desenrolar do anime. É por esse motivo que um dos atrativos de hoje em dia é elucubrar como será que vou terminar o mangá. (Risos.)

Koyama: Se mangá e anime passassem a poder inspirar um ao outro, creio que isso levaria a um completo aperfeiçoamento. Além disso, a sinergia é algo realmente valioso.

Mediador: A Batalha das 12 Casas, que tem a aparição dos cavaleiros dourados, se tornou o cerne deste segundo volume do Anime Special; então, acho que gostaria de ouvir histórias sobre eles também.

Hatano: No caso da Saga das 12 Casas, assim como os fãs do Máscara-da-Morte, por exemplo, estão aumentando, parece que há um grande número de pessoas que se identificam com cada um dos cavaleiros dourados, não é? Eles são os inimigos e, ainda por cima, até os vilões do grupo caíram nas graças do público… Isso foi inesperado…

Kawata: O que surpreendeu em sentido contrário foi o Afrodite, não é verdade?

Kurumada: Não é um personagem muito popular, certo?

Kawata: Bem, até acho que ele é popular, mas, como já era esperado, talvez ele tenha empacado por ter confrontado o Shun… (Risos.)

Mediador: Deixando isso de lado, idealizar com tamanha parcimônia cada um dos cavaleiros dourados, que são altamente individualizados, deve ter sido complicado, não?

 

“Pela iluminação espiritual do Shaka, fui ao Monte Osore, nos confins de Honshu.”

 

Kurumada: O período em que mais quebrei a cabeça foi justamente a época do Shaka. Afinal, por se tratar de um homem próximo de Deus, alguém que, de todo modo, atingiu a iluminação espiritual, durante a composição, eu pensava até mesmo num homem que dominou algo mais que o sétimo sentido. Então, parti para a leitura de coisas como sutras e obras como Buda, do mestre Osamu Tezuka. (Risos.) Porém, continuei sem entender muito bem o que era a “iluminação”. Em face desse beco sem saída, por volta de junho do ano passado, fui de carro até o Monte Osore, na província de Aomori. Malgrado o tempo extraordinariamente límpido, havia cata-ventos fincados por toda a extensão daquele terreno vulcânico; e eles ficavam girando ruidosamente por causa do vento… Era um cenário bizarro… Entretanto, mesmo lendo os livros de Buda e artigos do tipo num quiosque de lá, não compreendi nadica de nada… (Risos.)

Localizada na península de Shimokita, a Montanha do Medo é uma projeção da cosmologia budista, comportando em seu sítio o Lago de Sangue, vários infernos e também o Leito Seco do Rio das Almas, Sai no Kawara (situado às margens do rio Sanzu)

Koyama: Quando entender isso, o senhor mesmo acabará ascendendo à iluminação. (Explosão de gargalhadas.)

Kawata: O que me deixou impressionado quando vi o Shaka no mangá foram aquelas mandalas que ocupavam toda a tela. Bem, também pensei em como faríamos aquilo em anime e que precisávamos mostrar aquela intensidade… (Risos.) Mas o pessoal do estafe trabalhou maravilhosamente, tirando de letra.

Kurumada: No mangá, só fiz um desenho; o resto é fotocópia. Eu estaria perdido se desenhasse todas as imagens de um troço intrincado como aquele. (Risos.)

Os mestres Araki e Himeno se encarregaram pessoalmente da concepção do Leito Seco do Rio das Almas e das mandalas que ornamentam o ataque Tesouro do Céu

Mediador: Então, no final das contas, o senhor deve ter obtido a iluminação, não?

Kurumada: Ah, quem dera! Após retornar a Tóquio, refleti: “Mas o que é que eu vou fazer!?” Eu me questionava se os leitores não acabariam perdendo o interesse, se eu ignorasse que o Ikki estava duelando com um homem que era praticamente um deus e os colocasse para lutar da mesma forma que os demais. Sendo assim, fazendo o Shaka pensar que não existem bem e mal absolutos e que o Grande Mestre sintetizava esse tipo de existência, eu conectei essa ideia ao princípio da impermanência. No fim, foi apenas isso.

O mestre Kurumada se valeu do princípio da impermanência para justificar a devoção de Shaka de Virgem ao Grande Mestre

Koyama: Contudo, acho que o mestre pesquisa muito. Agora, com o senhor dizendo que foi até o Monte Osore para coletar informações, eu entendi; não admira que, para nós também, semana após semana, era um objeto de interesse saber que ideias o senhor traria. Quando se pretende fazer do anime algo superior ao mangá, não há outro modo senão compreender, de qualquer forma, a rota visada pela obra original. É por isso que, embora seja confortável quando há uma obra-base, pensamos em como fazer para não deturpá-la.

Mediador: Mais do que o apelo da história, quando se fala do charme do anime, não importa o que aconteça, creio que é impossível fazê-lo sem mencionar a sublimidade dos desenhos. Falemos disso também…

 

A “dança” de Hyoga, que encarna totalmente o charme do anime…

 

Kurumada: O que me deixou mais boquiaberto, admirado por eles conseguirem fazer até uma coisa assim em anime, foi a dança do Hyoga. Aquilo é absolutamente impossível em um mangá. Porque não se pode usar várias páginas para disparar uma técnica, não é? (Risos.)

Kawata: Aquilo pegava as pessoas de surpresa, não? Por outro lado, também era meio ridículo às vezes… (Risos.)

Kurumada: Isso, há uma linha tênue com o cômico, não é?

Araki: Bolamos aquelas poses ao discutir com o pessoal da direção de episódios, mas, no caso do mangá, acaba-se saltando no espaço entre os quadros. Como preencher esses espaços é o trabalho do animador, quando dá certo, sentimos que cumprimos o nosso dever. É apenas nessas horas que pensamos que talvez tenhamos superado o mangá… (Risos.)

Introduzido no episódio 9 da série, um capítulo dirigido pelo senhor Shigenori Kageyama, o balé do Cisne nasceu de um colóquio entre a equipe de animadores e a força-tarefa de diretores de episódios

Kurumada: Graças a vocês, os leitores que assistem ao anime assumem que o Hyoga está “dançando” com apenas um quadro daquela pose no mangá. (Risos.)

Mediador: Como é o design dos personagens na versão do anime?

Araki: Quanto aos 5 protagonistas iniciais, os desenhos saíram de forma tão tranquila que chegamos a nos perguntar se estava tudo bem, razão pela qual ficamos um pouco apreensivos até ouvir o parecer do senhor Hatano como inspetor do anime. Se eu tivesse de apontar o personagem cujos sentimentos são mais compreensíveis para mim entre os que estive desenhando depois de entrar na confecção da animação, seria o Seiya. No filme que estreou no verão também… Eu ouvi que a cena do Seiya chorando ficou popular, mas foi como se a expressão da minha própria devoção por ele acabasse saindo nos desenhos. (Risos.) O Shun e o Shiryu vêm em seguida, um passo atrás do Seiya. O Hyoga tem uma aura solitária, tendendo a se afastar do grupo e, a princípio, eu não conseguia compreender isso de jeito nenhum. Portanto, na hora das grandes telas, como nas composições em que desenhamos todos os 5 juntos, mesmo convicto de que sabia como posicionar o Ikki e o Hyoga, na verdade, eu não tinha mais do que uma ideia geral. No entanto, entre outras coisas, fui instruído pelas cartas de um grande número de pessoas que assiste ao seriado na TV, sabe?

Pungente, a cena do pranto de Seiya comoveu plateias do mundo inteiro

Kurumada: Mesmo no que tange às roupas da turma do Seiya… as que eu desenhava evocavam o jeans do gekiga e tal, mas, a despeito de acabarem assumindo esse formato, no caso do anime, as calças são um tanto ou quanto parecidas com collants, não?

A armadura de Pégaso é envergada sobre as vestes cotidianas de Seiya

É por isso que, no início, eu ficava meio envergonhado assistindo ao anime. (Risos.) Contudo, há o fato de eu ter mitigado a estranheza ao aproximar o mangá dessa configuração, não é mesmo? Vendo pelo prisma de eu continuar incorporando no meu próprio trabalho os aspectos realmente bons do anime, sinto que jamais recebi um bônus como o que venho recebendo do senhor Araki, do senhor Koyama e demais membros do estafe.

O aperfeiçoamento do design levou à adoção de uma malha sob as armaduras, contrastando com as cores dos trajes

 

“Quando há o mangá, conseguimos expressar o grau de tensão.”

Araki: Isto é algo que compreendi depois de entrarmos na saga original [Asgard], mas, de fato, conseguimos expressar melhor aquilo que chamamos de tonicidade da tela quando temos os quadrinhos como base. Não apenas a história, mas o lado da animação também… Quando existe um quadro do mangá, há o fato de conseguirmos um sem-número de aventuras à nossa própria maneira a partir dele. Mesmo nos animes, ação de dispositivos robóticos significa movimentos mecânicos, não é verdade? É que geralmente conseguimos prevê-los. Contudo, no que diz respeito à ação da turma de Seiya, como preencher os espaços entre os quadros do mangá? Ninguém conhece os verdadeiros movimentos, não é verdade? Desse modo, vamos pegar como exemplo as sequências em que os cavaleiros correm.

Baseando-se na corrida do protagonista da série Oitavo Homem, o mestre Shingo Araki engendrou o deslocamento sobre-humano dos cavaleiros

Já que um cavaleiro correndo é diferente de um humano normal correndo, existe a diversão de adicionarmos as poses segundo o nosso próprio arbítrio. Nessas horas, há o desafio de sermos obrigados a criar com a nossa própria imaginação. Ficamos conjecturando se a pose é daquele jeito…

Uma animação de 1963, Oitavo Homem inspirou o mestre Araki ao instituir a corrida com postura inclinada para projetar a sensação de velocidade

Hatano: Mas, mesmo que todos os programas de anime sejam assim no que se refere aos personagens, eles acabam mudando constantemente, não é? Quando um anime chega à marca de 100 episódios, os personagens já mudaram tanto que podemos dizer que estão completamente diferentes.

Araki: Eu também fico pasmo quando tento comparar a série de antes com a série de agora… Os corpos de toda a rapaziada ficaram mais delgados… (Risos.) Logo no início, ainda que não chegássemos ao patamar de um Kinnikuman, nós desenhamos os garotos com um bocado de músculos, mas, no decorrer da história, inesperadamente, eles acabaram afinando. Ao refletir sobre essa situação, estamos restaurando a forma original pouco a pouco.

Na primeira parte da série, os cavaleiros de bronze eram mais robustos

Kurumada: No mangá também. Sem colocar músculos em tipos como o Shun, eles praticamente ficam com braços de mulher… E também, quando colocamos músculos em personagens belos como o Mu, sentimos que tem algo fora do lugar. Um bombadão com uma face daquela… (Risos.)

As feições delicadas dos personagens formosos foram magistralmente convertidas em anime pelos mestres Araki e Himeno

Hatano: Já que também ocorre o fenômeno de os desenhos irem se aproximando da imagem da voz dos dubladores, eles vêm se modificando desde a inserção das vozes nos 13 primeiros episódios. Como Seiya passou dos 100 episódios em seu segundo ano, isso é algo irreversível, não?

Mediador: Creio que isto fica especialmente evidente nas histórias originais e segmentos do gênero, mas a força da roteirização também é ingente em Seiya, não é verdade?

Koyama: O que eu não entendo até hoje é por que diabo confiaram o roteiro a mim, tendo em mente que fui alcunhado de “Koyama, das piadas” por ter passado os 10 anos anteriores a Seiya engajado na área das comédias… (Risos.) Por causa da minha relação com o senhor Hatano e com os demais membros do estafe, fui transferido de Dragon Ball para Seiya e, como estávamos numa época anterior à transmissão televisiva, quando as configurações da história ainda não eram claras, também havia a insegurança por não conseguirmos vislumbrar os acontecimentos futuros. Acima de tudo, havia a maior de todas as incertezas: por que me escalar em um seriado de ação? Contudo, graças a Deus, a produção se tornou um sucesso e, se há alguém pensando “Oh, ele não se resume a comédias; ele também consegue escrever roteiros de ação”, posso dizer que virou um trabalho ao qual sou imensamente grato, não é?

Hatano: Mas uma pessoa que pode escrever comédias com certeza consegue escrever um drama ortodoxo.

Koyama: Como acabei introduzindo piadas sem me dar conta no início, houve ocasiões em que fui corrigido… (Risos.) Ainda assim, foi realmente a primeira vez que me permitiram escrever tanto e por um período tão longo para uma produção específica.

Kurumada: Mas o humor é mesmo de suma importância, não é verdade? Até no sentido de quebrar a tensão… Além disso, se não houver uma folga na adrenalina, mais cedo ou mais tarde, acaba ficando difícil acompanhar. Embora possamos dizer que isso é complicado no caso de Seiya. Neste ponto que estamos agora, não se pode mais introduzir piadas fora do lugar…

Koyama: Quando um personagem faz graça uma vez, é depois que vem o problema. Ele acaba ficando obrigado a fazer de novo.

Kurumada: Ora, se fizer palhaçada no meio da batalha, ele vai acabar sendo assassinado pelo oponente. (Risos.) Os cavaleiros de ouro desferem 100 milhões de socos por segundo… Se o Seiya ou outro qualquer der um espirro, já era… (Explosão de gargalhadas.)

Hatano: No caso em questão, fazer Seiya com personagens super deformed* seria a única alternativa, não é mesmo? (Risos.)

Os personagens ganharam uma versão miniaturizada no jogo Saint Seiya Paradise

Kurumada: Eu me pergunto se este anime não faria sucesso… (Risos.)

Kawata: Spin-offs e programas do tipo… Como produtor, ainda que eu queira fazer…

Koyama: Bem que eu queria ter uma chance de fazer tudo o que me desse na telha… Em contrapartida, a responsabilidade acabaria indo toda para o senhor Araki… (Risos.)

 

O estafe também vai chorar de felicidade? Personagens SD

Araki: Bem, eu ficaria feliz. Todo o pessoal do estafe também vai derramar lágrimas de felicidade. (Risos.) Contudo, no Seiya atual, se ficar assim de repente, vai ser um pouco… (Risos.)

Kurumada: Na história de agora, não dá, não é? (Risos.)

Koyama: Porque acabamos elevando o nível da produção de forma demasiada, não é?

Hatano: Não, se levássemos o projeto a cabo, talvez pudéssemos deixar claro que se trata de uma brincadeira. Embora não seja algo que possamos fazer de modo recorrente. (Risos.)

Mediador: Acho melhor encerrarmos por aqui, enquanto estamos extasiados e os personagens super deformed de Seiya ainda não viraram realidade. (Risos.) Obrigado a todos vocês.

*Nota do tradutor: muito populares em sátiras, os personagens super deformed são figuras miniaturizadas, caricaturas concebidas com as dimensões da cabeça ocupando um terço da área total do corpo.

Brilhem! 12 Constelações da Voz

A Resenha dos Dubladores dos Cavaleiros Dourados

   Os 12 cavaleiros da voz que, guiados pelas constelações eclípticas (?), interpretaram os cavaleiros dourados. Vamos registrar e transmitir ipsis verbis as impressões deles, que interpretaram cada personagem de forma única com suas vozes repletas de idiossincrasias. Para aqueles que curtem astrologia, também será interessante comparar as afinidades entre os signos dos cavaleiros dourados e dos dubladores (os depoimentos dos dubladores Kōji Yada e Hideyuki Tanaka foram compilados no último volume), certo?!

Kōji Totani

As falas trocadas com o Shiryu ficaram gravadas na minha mente.”

  A minha primeira impressão ao ver o Shura foi a seguinte: “Nossa, ele é jovem, não?” (Risos.) Como também era a minha primeira vez nessa modalidade de papel, eu até cheguei a me perguntar se realmente seria capaz de interpretá-lo e tal… (Risos.)

O senhor Kōji Totani interpretou o pragmático Shura de forma magistral

   Veja bem, creio que as produções formadas apenas por esses personagens bonitões também são raras, e ainda houve a repercussão dos fãs só pelo fato de eu fazer o papel do Shura. (Risos.)

   Mas, no que tange ao tipo de pessoa, o Shura talvez seja o meu oposto. É por isso que “Seiya” é um trabalho que eu ainda não havia conseguido fazer em minha trajetória.

O senhor Totani também deu voz a Jagi, o vilão mais pérfido do épico Hokuto no Ken

   Retornando ao Shura, quando ele luta com o Shiryu, no fim, os dois sobem aos céus e acabam se incinerando… mas aquela fala em que ele diz: “Protegeremos Atena ao nos transformar em estrelas, certo, Shiryu?” me marcou profundamente, sabe?

Rokurō Naya

“O Camus, que tinha um coração compassivo, foi um personagem de quem gostei.”

   Na hora que o Camus derrota o Hyoga, seu discípulo, quando ele diz: “É para o seu próprio bem” e, pelo menos, se dá ao trabalho de fazê-lo com suas próprias mãos, ele está pensando no pupilo, não é verdade? É por esse motivo que, não importava qual fosse a ocasião, eu tencionava imprimir no Camus os matizes de um papel humano. Nesse mesmo sentido, trata-se de um personagem pelo qual tenho um apreço extraordinário.

Protagonista de algumas das cenas mais emocionantes da animação, o senhor Rokurō Naya realizou um trabalho incomparável na construção do papel do Cavaleiro de Aquário

   Eu gostei da cena em que, por fim, os 2 se aniquilam mutuamente e também ficaria contente se os espectadores compreendessem o sentimento de consideração para com os amigos ou companheiros ao vê-la.

Graças à sublime atuação do senhor Rokurō Naya e do senhor Kōichi Hashimoto, o episódio 67 se consolidou como uma das obras-primas da animação japonesa

   O meu filho está lendo “Seiya” e, às vezes, ele me ensina algumas coisas, como a forma de ler os [nomes dos] cavaleiros. (Risos.)

   Além disso, ele também me perguntou: “Mesmo que morra, o Hyoga certamente voltará à vida; sendo assim, o que será do Camus, hein?” (Risos.)

   Na próxima, acho que vou tentar perguntar ao mestre Kurumada, não é? (Risos.)

O senhor Rokurō Naya também foi o intérprete do soturno Sensui, o grande vilão da segunda parte do seriado Yū Yū Hakusho

Kei’ichi Nanba

“Tentei introduzir um sorrisinho jocoso a todo momento.”

   Considerando que tive, comparativamente, uma profusão de papéis galantes até o advento da série, quando veio o papel do Afrodite, pensei que era algo que valia a pena fazer, entende?

Graças ao trabalho majestoso do senhor Kei’ichi Nanba, podemos sentir todo o narcisismo do personagem por intermédio de sua risada intimidadora

   Por isso, na hora do teste, tentei fazer uma voz diferente das impostações que havia realizado até então, mas, a princípio, talvez por ter alterado demais a voz, acabei sendo admoestado: “É que não é comédia, sabe?” (Risos.)

   No entanto, por ser um narcisista, ou melhor, um papel realmente fascinante, eu também tentei inserir um “pff” [interjeição de contempto] que provocasse aquela sensação de frio na espinha a todo momento. (Risos.)

   Embora o papel do meu rival tenha sido desempenhado pelo Shun, todos os dubladores que aparecem em “Seiya” surgem falando de forma trovejante, não? (Risos.)

O senhor Kei’ichi Nanba também foi o intérprete original do galante Freyr

   Apesar de também ter curtido o Afrodite como personagem, como agora farei o Posseidon, conto com o suporte de vocês.

A fúria de Posseidon ao ver o arrimo do Santuário Submarino destruído por Pégaso é uma boa amostra da perícia do senhor Kei’ichi Nanba

 

Kaneto Shiozawa

“Eu senti seu poder de luta quando ele confrontou o Máscara-da-Morte.”

   Como o Mu tem essa característica de espectador, ele meio que apenas observa as lutas da turma de Seiya… (Risos.) É claro, acho que ele acompanha os embates tendo ciência de tudo, mas, por causa disso, no que se refere à forma de interpretá-lo, é a de uma pessoa superior, ou melhor, nobre…

Amigo dileto do senhor Hirotaka Suzuoki, o ator Kaneto Shiozawa realizou uma interpretação primorosa do plácido Cavaleiro de Áries

   No entanto, como há uma porção que acaba ficando um pouco andrógina quando utilizamos essa forma de falar, isso foi uma preocupação.  

   O Mu mesmo jamais botou a mão na massa. Ele só assumiu a postura de que poderia vir a lutar uma única vez, na ocasião em que disse ao Máscara-da-Morte: “Vai querer abrir as cortinas da batalha com um duelo entre mim e você?”

Antes de intimidar Aiolia, no episódio 111, Mu também desafiou o maléfico Máscara-da-Morte

   Eu pensei com os meus botões que, se ele partisse para a briga, provavelmente seria um cara bem poderoso, sabe?

O senhor Kaneto Shiozawa mostrou toda sua versatilidade no papel de Rei, o irascível sucessor do gracioso Nanto Suichō Ken. O trágico amigo de Kenshirō tem um temperamento absolutamente distinto da personalidade fleumática de Mu 

Tesshō Genda

“Para mim, os papéis de personagens durões são mais fáceis de fazer.”

   Considerando que os papéis de fortões são mais fáceis para mim, não admira que o Aldebarã seja um personagem que eu aprecie, não é? Gargalhando, Ele surge diante do bando do Seiya com aquela panca que diz que ele não os deixará passar dali…

Expansivo, o altivo Cavaleiro de Touro gargalha ruidosamente

   Colocando a masculinidade para fora, eu o dublei de forma franca, e não houve nenhuma sensação de que algo está fora do lugar, não é? Por outro lado, às vezes, meu santo não bate com personagens bonitos… (Risos.)

   Como não poderia ser diferente, uma produção popular significa bons desenhos, não é verdade? Particularmente no caso dos conteúdos de ação, quando temos os desenhos, o som das vozes fica melhor na performance.

O senhor Genda também dublou o musculoso Toguro, o icônico vilão de Yū Yū Hakusho. Da mesma forma que o intérprete brasileiro, Luiz Feier Motta, ele é o dublador japonês de Sylvester Stallone e de outros fortões do cinema

   Contudo, sendo da parte dos convidados, como havia palavras que eu não conhecia, a exemplo do termo “cosmo”, também fiz um montão de perguntas ao Furuya (Tōru). (Risos.)

O senhor Tesshō Genda também emprestou sua voz imponente à Kyūbi, a mavórtica raposa-demônio que vivia alojada no corpo do ninja Naruto, protagonista da espetacular série homônima

Kazuyuki Sogabe

“Interpretar vilões é mais gostoso.”

   Na fase das 12 Casas, fiz o Saga maligno, mas, no filme do verão, me deixaram fazer o Saga do bem. (Risos.) Porém, como a identidade dele acabaria ficando evidente se a mesma pessoa fizesse o lado bom e o Grande Mestre*, os papéis foram divididos, entende? (Risos.)   

O senhor Kazuyuki Sogabe realizou um trabalho primoroso na composição do personagem. As falas proferidas por Saga marcaram gerações de fãs

   Nos filmes ocidentais e segmentos do tipo, eles têm interpretado um número surpreendente de papéis exóticos, como indivíduos com dupla personalidade e espécimes afins, mas, quando se tem a oportunidade de fazê-lo, não existe nada melhor. (Risos.)

   Além de ser absolutamente impossível na vida real… (Risos.) interpretar um personagem maquiavélico assim é mais prazeroso. (Risos.) Em contrapartida, quando o mal é derrotado, é melhor levar um pau federal… (Risos.)

Dono de uma voz pujante, o senhor Sogabe foi capaz de transmitir toda a perversidade de Saga

   Entretanto, no final das contas, quando retira a máscara de Grande Mestre, o Saga é um personagem boa-pinta, razão pela qual até pensei em mudar a voz… (Risos.)

A voz marcante do senhor Sogabe também abrilhantou a última fase da epopeia de Goku. Ele interpretou o diabólico Doutor Myū

*Nota: na versão nipônica, a projeção do Cavaleiro de Gêmeos (episódios 44, 45 e 46) foi dublada por Katsuji Mori. O ator Akio Nojima deu voz à personalidade benévola nos constantes diálogos internos do Grande Mestre. O senhor Nojima também foi o intérprete do Saga bondoso (episódios 71 e 73).

Ryōichi Tanaka

“É um papel gratificante por ter dado tudo de mim.”

   Por não haver seres humanos como o Máscara-da-Morte no mundo real, a possibilidade de virar esse tipo de pessoa é bem bacana no que diz respeito à forma de representar. Seria o fascínio característico do mundo do faz de conta?… Creio que, quanto mais desalmado ou legal é o personagem, mais interessante é o processo de interpretar e assistir. Por esse lado, na época do Máscara-da-Morte, como falei com tudo que tinha… (Risos.) Tenho a impressão de que fiz o meu melhor, sabe?

O senhor Ryōichi Tanaka expressou magistralmente todo o sadismo do Cavaleiro de Câncer. Embora seja um sociopata, Máscara-da-Morte sempre teve uma legião de fãs

   Além do mais, eu não estava fazendo personagens bonitões ultimamente e fazia muito tempo que não tinha um papel legal assim… (Risos.)

Ele também deu voz ao cavaleiro de prata Dios de Mosca

   Mesmo sendo um vilão, parece que ele é popular, não é verdade? Um dia destes, fiquei perplexo ao receber uma carta de um fã de Taiwan… (Risos.)

Yūji Mitsuya

“Foi complicado suprimir as emoções humanas.”

   Anteriormente, eu já havia feito o papel do Orfeu de Lira, no primeiro trabalho para o cinema, mas, na série de TV, o papel do Shaka foi o primeiro. Depois disso, na Epopeia do Anel Dourado, fiz o Mime de Benetnache.

Destinado a combater Ikki, o senhor Mitsuya também foi o intérprete do melancólico guerreiro-deus Mime e do cavaleiro-fantasma Orfeu de Lira, um herói corrompido por Éris

   No caso do Shaka, por se tratar de um ser próximo de Deus, mesmo nas falas, uma atuação contida era requerida. Até mesmo nos momentos em que os oponentes partem para cima num arroubo, ele acaba repelindo-os tenuemente, eximindo-se de ser engolfado pelo ritmo que o cerca…

   Até na hora de falar os nomes das técnicas, é como se ele recitasse um encantamento, não é verdade? É por esse motivo que a parte de dublar controlando as oscilações das emoções humanas foi dificílima.

O senhor Mitsuya deu voz ao icônico Shaka de Virgem, um dos personagens mais fantásticos da epopeia dos cavaleiros

   Entretanto, se alguém como o Shaka existisse de verdade, por ser excessivamente divino, a gente não teria muita vontade de ficar amigo dele, não é? (Risos.)

O senhor Mitsuya também integrou o elenco de Dragon Ball Z, interpretando o pacato Kaiōshin do Leste, outro ser divino

Shūichi Ikeda

“As expressões de filmes de época foram um prazer.”

   Ainda hoje, a cada 10 pedidos de autógrafo que recebo dos fãs, mais ou menos 2 são de crianças que pedem que eu assine como “Milo”. (Risos.) No entanto, a partir daí, podemos depreender o carisma do personagem. Quando comecei a dublá-lo, a galera me disse que ele logo morreria e tal (já que era um convidado), mas ele continua firme e forte, não é? (Risos.)  

Submetendo Hyoga a uma excruciante provação, o senhor Shūichi Ikeda proferiu falas memoráveis, transmitindo toda a intensidade do Cavaleiro de Escorpião

   Não apenas sinto como se ainda houvesse coisas a fazer mas também que chegará a hora de interpretá-lo novamente. As expressões de novelas de época características de “Seiya”… eu me senti muito bem enquanto as proferia. Eu dublava pensando se não havia problemas em atuar como se realmente fosse uma novela de época, sabe? 

Uma grande estrela da dublagem nipônica, o senhor Ikeda também deu voz ao vaidoso Seijūrō Hiko, o mestre de Kenshin Himura, protagonista da famosa série Rurōni Kenshin

    Já que todos esses personagens bonitos têm o rosto parecido, eu cheguei a me perguntar: “Ora, qual deles sou eu mesmo?” (Risos.)

Yūsaku Yara

“Como eu pensava que era um vilão, fiquei surpreso ao ver o desenho.”

Embora eu já tivesse ouvido que “Seiya” tem muitos personagens bonitos, na hora que recebi o papel, como eu pensava que era um vilão… (Risos.) eu fiquei perplexo quando vi um desenho do Aiolos pela primeira vez. (Risos.)

Detentor de um talento prodigioso, ele também deu voz ao portentoso guerreiro-deus Thor e ao General Kaiser, um vilão marcante de Hokuto no Ken 2

        Por causa disso, acho que talvez até demore um tempo para papéis de personagens bonitões aparecerem… (Risos.) Contudo, na época do teste, mesmo pensando que havia algo errado, ao realizar a performance, eu esqueci esse fato e atuei com o pensamento “Eu sou este personagem”.

Ele também é o dublador de Senbei Norimaki, um dos protagonistas de Dr. Slump 2

  O Aiolos só apareceu em cenas de reminiscências; entretanto, ele não somente foi um personagem fácil de pegar mas consegui interpretá-lo de forma direta. A fala “Jovens, Confio Atena aos seus cuidados!” ainda continua muito viva na minha mente.

Perfeito para o papel de Aiolos, o senhor Yara emocionou todos os telespectadores com as falas antológicas do episódio 64

Registros Violentos! Comentários sobre Seiya II

   Senhores do estafe! Confiamos Seiya a seus cuidados!! Água mole em pedra dura tanto bate até que fura… Surge o segundo volume da coletânea de comentários preciosos, uma seção que ouviu os veteranos e os novatos do universo do anime, homens forjados por uma pertinácia indestrutível!! 

   Queremos que vocês prestem atenção nas opiniões sinceras prospectadas no lugar onde tudo acontece, vozes que encampam as agruras e as alegrias da confecção do anime!

Hiroshi Takeda — Produtor Executivo

“Também há muitas pessoas apaixonadas por Seiya no estafe.”

   Seiya consiste na força do mangá e nos personagens do senhor Araki (Shingo) e, uma vez que existem componentes como os cenários do estúdio Mukuo, não há como negar o impacto elevado do senhor Morishita (Kōzō), que refina esses elementos naquele estilo, mas creio que se trata de uma produção obtida pela sinergia dessas várias forças.  

   A minha função, de encarregado da produção, se traduz na coordenação de toda a operação concernente à realização, ou melhor, mais propriamente no gerenciamento de todos os passos compreendidos entre o recebimento dos roteiros dos produtores do planejamento e a finalização do filme preliminar.  

   Como podem imaginar, trata-se da pessoa que determina a equipe a cargo da operação em si e se incumbe da inspeção do progresso dos trabalhos e coisas do tipo; no entanto, no caso de Seiya, como utilizam efeitos especiais e fazem coisas extremamente trabalhosas na área da fotografia também, até mesmo produzir conforme o cronograma é bastante complicado.

   Mas isso não significa que podemos estourar o orçamento e, em meio a essa coordenação, às vezes acabo entrando em conflito com o pessoal da direção de episódios e outros profissionais. (Risos.)

   Contudo, se não puderem gastar seu tempo, eles não podem criar grandes cenas. Como existem aspectos sem os quais não seria a produção de nome Seiya de forma alguma, nessas partes, são utilizadas mais técnicas avançadas em setores como a fotografia do que nas outras produções.

   Consequentemente, o fato de conseguirmos uma produção deste nível se deve à existência de um monte de pessoas apaixonadas por Seiya dentro do estafe, não é verdade? Na animação, no acabamento…

   No entanto, exatamente por haver pessoas assim, há o fator de eu também estar fazendo pedidos bem impossíveis, não é? Recentemente, o filme do verão… aquilo foi difícil, viu? Como se trata de uma produção que fizemos simultaneamente à série de TV, na etapa final da elaboração, já acabei preso no trabalho por 3 ou 4 dias, passando as noites na empresa… (Risos.)

Dono de uma pertinácia digna de um cavaleiro, o senhor Hiroshi Takeda atuou como produtor executivo em todos os 114 episódios da animação. Ele também trabalhou nos 4 filmes da década de 80

   Ainda assim, trabalhando dessa forma, já ultrapassamos 100 capítulos e, mesmo na direção dos episódios, vêm surgindo jovens profissionais por meio da substituição dos diretores do início. É uma coisa auspiciosa, não é verdade? Entre as produções das quais fui encarregado até hoje, penso que Seiya não apenas é o trabalho que fez mais sucesso mas também é aquele que me marcará mais profundamente.

   Em relação ao conteúdo, o Ikki é o personagem de quem gosto mais. Quando nos perguntamos se ele não vai aparecer, ele surge, não é mesmo? (Risos.)

   Aquela coisa de filmes de época… Como sou do tipo que sequer consegue assistir a 47 Rōnin sem chorar (Risos.), mesmo que saiba a conclusão, me deleito com o padrão, entende? É que adoro trabalhos como Yabure Gasatō-Shū, que eu fazia na TV… (Risos.)

Toshio Shirai — Diretor de Fotografia

 

“É uma série de TV com qualidade comparável à das produções para o cinema.”

   Apesar de fazer as mesmas fotos, Seiya é uma produção que demanda paciência, entende? Quando a transmissão óptica (efeito especial para a expressão da luz) é alta, uma só sequência chega a comportar 3 ou até 4 modalidades do recurso. Então, fazemos um trabalho bem complexo. Afinal, na direção de episódios da série, ninguém se satisfaz com efeitos ópticos que meramente brilham… (Risos.)

   De fato, há ocasiões em que temos 1 ou 2 sequências por dia. Não se fazem tantas assim numa série de TV convencional, não é mesmo? (Risos.)

   Não existe uma diferença substancial entre as coisas que estou fazendo em Seiya e o que se faz numa produção para o cinema, sabe? Ainda por cima, as dificuldades também variam de acordo com os personagens que fotografamos… Creio que o mais complicado de todos seja o Hyoga. Pois tem neve e cristais de gelo flutuando, a armadura cintilando e efeitos de difusão óptica em cada um dos quadros, não é mesmo? Ele e o Shiryu… Como eram particularmente trabalhosos, esses dois eram odiados… (Risos.) Apesar de ser o contrário na votação dos fãs comuns, não é verdade? (Risos.)

De acordo com o senhor Shirai, os efeitos fotográficos dos ataques glaciais de Hyoga são particularmente trabalhosos

   Por outro lado, o Seiya é o mais fácil. Mas, nesse filme recente (do verão), houve umas sequências do Meteoro de Pégaso, não é? Mesmo enquanto fotografava, eu gostei bastante dos efeitos e tudo mais… Além disso, também há o fato de a qualidade da fotografia ficar tão boa quanto os belos desenhos, não é verdade? Não admira que, também no que se refere à forma de tirar fotos, meu objetivo é fotografá-las de forma tão bela quanto os desenhos.

Os efeitos luminosos do Meteoro de Pégaso foram magistralmente renovados pelo senhor Toshio Shirai no longa-metragem

   Quando os desenhos do senhor Araki (Shingo) chegam, além de ser arrebatado pelas imagens em si, o processo fotográfico flui melhor, não é? (Risos.)

   Em contrapartida, quando estou fazendo as fotos, mesmo que eu me afaste do trabalho e fique vendo um anime, isso não acontecerá. Em vez de acompanhar a história, acabo vendo apenas os desenhos, e minha atenção acaba se desviando para quesitos como a inspeção da qualidade da fotografia… (Risos.)

   A despeito das dificuldades que acabei de mencionar, vamos supor, por exemplo, que haja fotos da cosmoenergia característica de Seiya… Embora aquele efeito, similar a uma aura, leve bastante tempo, eu o recebo com o sentimento de que o pessoal da direção deve utilizá-lo porque também está se esforçando daquela forma.

Os efeitos característicos da cosmoenergia também são propiciados por técnicas de alta complexidade

   No caso dos animes, é comum que o nível se deteriore em 1 temporada (13 episódios), mas Seiya não apenas mantém a qualidade; o nível da série como um todo, incluindo a fotografia, está subindo, não é?

   Fazendo uma produção assim, ainda que seja difícil, nós também temos o sentimento de que não podemos pegar leve, entende?

Hiroshi Kimura — Diretor da Columbia Records

“O momento de trocar a música do tema sonoro foi complicado.”

   Quando falamos do estrato de fãs de Seiya hoje em dia, apregoamos em alto e bom som que se trata de um público incrivelmente extenso, mas, 2 anos atrás, quando lançamos um disco com a música-tema pela primeira vez, não podíamos antever que faixa de idade haveria de se tornar o público-alvo; assim, se fosse instado a falar, lembro-me de que estávamos inseguros, sabe? Acho que eu posso contar agora, que se tornou um grande sucesso… (Risos.)  

   Então, foi decidido que faríamos uma coisa ousada, tentando com uma rock band. Convidamos algumas bandas aspirantes e, no fim, a escolhida foi a Make-Up.

    Com os arranjos também sendo de autoria deles, não surpreende que tenha feito tanto sucesso que até eu mesmo fiquei surpreso, mas, em abril deste ano, foi determinado que mudaríamos o tema musical, e isso foi um martírio, sabe? É por esse motivo que trocar uma canção de sucesso de uma produção exitosa é um risco.

   Embora as preparações para a música tenham começado por volta de dezembro do ano passado, como a banda Make-up, infelizmente, acabou se dissolvendo, chamamos o Matsuzawa (Hiroaki), que era o líder do grupo, para os arranjos e, com o Kageyama (Hironobu) no vocal, finalizamos o novo tema.

   Como ele fatalmente seria comparado com o tema anterior logo de saída, havia uma tremenda pressão… Mas a reação foi positiva, não é?

   Levando em conta que havíamos pedido ao maestro Yokoyama (Seiji) que se encarregasse do resto da trilha sonora desde o início de Seiya, estando familiarizado com a excelsitude que provém da suntuosidade das canções, do estilo das melodias do maestro e tal, eu já estava tranquilo nesse sentido, entende? 

   Numa nova empreitada com a orquestra, a próxima fase, a “Saga de Posseidon”, vai ter um concerto de bandolins, sabe? Tendo a música clássica como base, faremos uso da qualidade dos próprios instrumentos acústicos, sem recursos eletrônicos…

   Além disso, sendo aprazível por contar também com um quê de ritmo pop, a despeito de sua relação simbiótica com as imagens, a música não apenas evoca o tempero dos desenhos mas também agrada aos ouvidos quando apreciada de forma independente. De fato, não há muitos compositores como o maestro Seiji Yokoyama, não é verdade?

   E também, em virtude do grande interesse do pessoal do estafe, a exemplo dos produtores e demais profissionais, as músicas foram muito bem utilizadas dentro da produção; então, é um alívio quando conseguimos entregar a trilha sonora mais apropriada para o trabalho, entende?

   É por isso que, embora eu pense que a música também tenha evoluído constantemente, quando comparamos com o início, a forma de produção do anime, seguindo a expansão do estrato de fãs, também se aperfeiçoou ainda mais. Sinceramente, sinto que acabamos chegando a um ponto em que não podemos voltar atrás, não é?

Michi Himeno — Character Designer

“Em contraste com os mechas lineares, ajustamos as armaduras mediante curvas.”

  Apesar do privilégio de ser encarregada do character design do anime ao lado do senhor Araki (Shingo), no meu caso, eu avançava da seguinte forma: primeiro, o senhor Araki tinha a bondade de me fazer um rascunho, depois eu o finalizava, completando os detalhes finais.

   No que concerne às armaduras, haja vista o meu apreço pessoal por vestimentas, não tive tantos problemas com o design e coisas do tipo, sabe? Como há muitos seriados com mechas retilíneos entre os programas de anime, fizemos o uso deliberado de curvas para ajustar as armaduras, ou melhor, ainda que as chamemos de indumentárias, tentamos fazê-las de forma que transmitissem uma sensação de aderência direta à pele…

A consecução da aderência das vestimentas à pele foi obtida mediante a utilização de formas curvilíneas, diferindo do design linear dos trajes robóticos de Gundam

   Se eu fosse compelida a dizer qual das armaduras consumiu mais tempo de trabalho, acho que seria a do Docrates, que tinha muitos ornamentos… E não foram apenas as fichas de criação; também era terrível na hora de desenhar as imagens-chave. (Risos.)

   Contudo, quando se fala dos cavaleiros, há momentos em que penso se as faces não seriam ainda mais sólidas que as armaduras, sabe? (Risos.)  

Um dos primeiros personagens originais do anime, Docrates é um cavaleiro da fase original do projeto, época em que o próprio conceito de cavaleiro era dúbio

   Quando estou assistindo à difusão televisiva, ainda que não consiga ver de forma objetiva os episódios que eu mesma desenhei (Risos.), desfruto todos os outros sem nenhum problema.

   Entre as personagens femininas, a Marin e a Shaina são interessantes à sua própria maneira, mas estão sempre de máscara, não?… (Risos.) Penso que a Shunrei é a que daria a melhor noiva.

   Quanto à ala masculina, antes o Ikki era fantástico, mas agora suas falas estão cafonas. Como posso dizer… ele até mesmo tem sido salvo pelo Shun, não é verdade? (Risos.) O Shun também é o Shun; fica chamando o irmão mais velho até do outro mundo… (Risos.)

Shun tenta proteger o irmão

   Em vez deles, tenho gostado de personagens como o Kiki. Tipos um pouco diferentes, como o Jamian, também são os meus prediletos.

   Como se poderia esperar de uma série na qual estou atualmente envolvida, mesmo na qualidade de obra, estou muito apegada a Seiya.

   Se tivesse de apontar uma parte memorável que fiz, apesar de acabar se tornando uma cena penosa, seria a parte que a armadura dourada de Sagitário é envergada pelo Seiya no primeiro trabalho para o cinema. Adicionando minuciosamente as sombras, cores e afins a cada unidade, as imagens-chave, só naquela cena, somaram umas 40 peças. Se incluirmos as imagens intermediárias, no total, aquela cena chega a algo em torno de 180 folhas de desenho. “É o Inferno!” — foi o que todos nós pensamos naquelas horas… (Risos.)

A mestra Himeno se recorda do trabalho exaustivo no primeiro filme. A cena em que Pégaso enverga a armadura dourada de Sagitário foi alicerçada em 4 dezenas de imagens-chave, peças incrivelmente pormenorizadas

Minoru Ōkouchi — Cenografista

“Mesmo quando a animação se eleva, o cenário deve ficar impassível.”

   Quando falamos do trabalho nos cenários, nas ocasiões em que é rápido, desenhamos 20 ou até mesmo 30 imagens por dia, mas, como também há ocasiões em que desenhamos 1 imagem por dia, não existe um padrão.

   Embora seja menos experiente que o Shikano, em Seiya, eu não desenho os cenários como fotos; eu o faço  esperando que, ao ser refletido pela TV, caso se trate de uma árvore, o desenho seja visto como algo que se pareça com uma árvore.

Geralmente relegada pelos espectadores, a cenografia é um segmento crucial

   No caso do conteúdo da série, por exemplo, é comum que o volume de desenhos se intensifique com a passagem para a segunda metade dos episódios, mas, nessas horas, no que tange ao cenário, é complicado apertar o passo.

   Afinal, desenhar com a maior serenidade, sem provocar uma sensação de estranheza, é a missão da cenografia.

Yoshiyuki Shikano — Cenografista

“A simples variação das cores do céu no lapso de meio dia da Saga das 12 Casas possui uma infinidade de matizes.”

   No que se refere ao cenário de Seiya, acho que há umas 2 centenas de imagens por episódio; no entanto, como nós dois dividíamos o trabalho de desenhá-las, depois que entramos na “Epopeia do Anel Dourado”, eu e o Ōkouchi fomos encarregados do cenário, integrando o estafe principal.

   Como o setor que chamamos de cenário também deve representar coisas como imagens e a passagem do tempo, mesmo na Saga das 12 Casas… ainda que seja apenas a coloração do céu, expressamos a transição da tarde para a noite das 12 horas nas quais a fase se passa por meio do desenho de uma infinidade de variações.

A rotina extenuante dos designers artísticos pode ser depreendida da infindável variedade de matizes do céu

   Além disso, uma vez que até o mesmo lugar varia sutilmente de acordo com a pessoa que o desenha, uniformizar tal diferença é algo ainda mais importante que a função de desenhar em si.

Hiromichi Matano — Diretor de Episódios

“O meu mundo acabou mudando ao fazer Seiya.”

   A primeira vez que me engajei na direção de um episódio de Seiya foi no capítulo 64, “Jovens! Confio Atena a seus cuidados”, mas, além de ter sido muito difícil ir introduzindo outras formas de derrotar a turma de Seiya, o número de sequências também era demasiado elevado…

O senhor Matano dirigiu o episódio 64, um capítulo que exala uma atmosfera feérica, distinta da tonicidade da obra original

   Considerando que, no meu episódio seguinte, o capítulo 68, eu pude me concentrar nas partes em que deveria mostrar o Afrodite de forma espalhafatosa, comparado a isso, aquele primeiro foi um inferno, sabe… (Risos.)

Antípoda dos brutamontes de Hokuto no Ken, o espalhafatoso Afrodite foi apresentado ao público num episódio dirigido por Hiromichi Matano

   Apesar disso, também aconteceu um fato inusitado no episódio 68: sabe-se lá o porquê, nenhum animador homem conseguia desenhar rosas direito… (Risos.)

   No que se refere aos cinco protagonistas, não é que o Hyoga não seja totalmente maneiro; ele tem aspectos que não entendi direito…

   O Saga, por outro lado, eu entendo claramente; e também, como vocês podem imaginar, vilões singulares e afins são mesmo mais fáceis de operar. Até pensei que talvez pudesse haver mais um episódio nos capítulos finais da Saga das 12 Casas.

Outro talentoso epígono do senhor Kōzō Morishita, o diretor Matano se encarregou da direção do episódio 73, o epílogo da saga mais bem-sucedida de Saint Seiya

   Saint Seiya é a maior produção com a qual já lidei, o apogeu da minha carreira. Pelo fato de ter trabalhado com todo o afinco até agora, também se tornou um ponto de virada, digo. É por isso que, graças a esta produção, meu mundo acabou se transformando de uma hora para outra… (Risos.)

   Afinal, há também a influência do senhor Morishita (Kōzō), que determinou a rota de Seiya; e, como tenho tido o privilégio de receber vários de seus ensinamentos, eu me vejo como um pupilo dele.

   No entanto, como ainda existem muitas e muitas partes que me levam a pensar que deveria ter feito as coisas de uma forma diferente ao assistir às exibições prévias, as lamúrias têm sido uma constante… (Risos.)

Um dos diretores mais prolíficos do épico seriado Hokuto no Ken, o senhor Matano capitaneou o último capítulo da epopeia de Kenshirō, fechando as cortinas do clássico da Tōei 

Katsumi Minokuchi — Diretor de Episódios

“Se eu puder mudar por intermédio do trabalho, será uma grande recompensa.”

   Eu embarquei em Seiya na Saga das 12 Casas e, como o universo da obra já estava estabelecido, não pensei tanto assim no método de direção, compreende? É claro que, apesar disso, o período específico de adaptação à produção foi complicado.

   Por algum motivo, enquanto trabalhava, alguém frequentemente morria nas lutas (Risos.), a exemplo do primeiro episódio que dirigi, o 58, no qual o Shaka e o Ikki morrem juntos, e o episódio 67, que tem o acerto de contas entre o Camus e o Hyoga…

Provando sua perícia na direção do antológico episódio 67, o senhor Minokuchi exibiu um estilo mais fluido que o do renomado Tomoharu Katsumata, que havia dirigido o episódio 47, palco do primeiro confronto de Camus e Hyoga

   Depois de entrarmos na Epopeia do Anel Dourado, também fiz o capítulo em que o Thor é derrotado pelo Seiya, mas fiquei com a impressão de que não entendi completamente aquele episódio 77; há uma parte de mim que diz que foi insuficiente, sabe?

Fruto de outra parceria com o diretor de animação Masahiro Naoi, o episódio 77 é marcado, sobretudo, pela cena em que Seiya trespassa o corpo do portentoso Thor

   Talvez seja porque os personagens que compõem o foco da história se alternam em dois ou três episódios, mas, nas vezes em que dirijo, vira e mexe, caem os mesmos personagens. É por isso que os capítulos em que o Hyoga aparece são a maioria, sendo também, comparativamente, um personagem mais fácil de fazer.

   Se tiver de apontar um personagem difícil de entender, no meu caso, talvez seja o Shiryu. Sinto que é o mais prudente; ao passo que o Seiya é simplório… (Risos.)

   Ainda não posso me dar ao luxo de acompanhar o show em função dos personagens, mas, como não é possível escapar do universo de Seiya, significa que o que é demandado pela série não é fácil, não é?

O senhor Katsumi Minokuchi também dirigiu o célebre episódio 71, capítulo no qual a identidade do Grande Mestre é revelada

   Mesmo pensando que o trabalho com animes é realmente muito difícil, acho que, se eu puder mudar por causa deles, será uma grande recompensa.

Masahiro Hosoda — Diretor de Episódios

“Quero que vejam o Shun ‘virar homem’ sem falta.”

   Acho que, em Seiya, há o atrativo de que, se não fosse um anime, não poderíamos representar as lutas em si, não acham? Por gostar disso, Seiya é a produção mais apropriada para mim também.

   As lutas são batalhas mortais, é claro, mas, por se tratar de uma fantasia, ou melhor, sendo uma ficção científica, vistas de fora, são belas… É por isso que tenciono continuar mostrando a série desta forma.

Outra estrela em ascensão do universo da animação dos anos 80, o senhor Hosoda dirigiu o lendário episódio 57 ao lado do diretor Shigeyasu Yamauchi. Essa parceria seria reeditada em vários trabalhos, inclusive nos 13 primeiros OVAs de Hades

   Particularmente, o Seiya é o meu personagem predileto, mas, geralmente, acabo sendo encarregado da direção de episódios em que o Shun aparece. O Shun é um personagem que, à primeira vista, é fraco; no entanto, na verdade, ele é mentalmente forte e, mesmo no que diz respeito ao cosmo, ele é aquele que mais o possui, não?

   Com isso, sinto que, enfim, tenho conseguido entender os sentimentos do Shun em relação à luta nos últimos tempos.

Graças à direção ágil do senhor Masahiro Hosoda e ao formidável trabalho do diretor de animação Eisaku Inoue, o episódio 84 se tornou um dos capítulos preferidos dos fãs

   Agora já estou engajado na direção de episódios da Saga de Posseidon, mas estou me certificando de atrair os oponentes ao mundo do Shun e fazer com que lutem dentro desse universo. Nesse sentido, é perfeito para um anime… Em outras palavras, creio que podemos representar o mundo fantástico de Seiya. É por isso que ficarei feliz se o Shun passar a conseguir seus próprios combates, sem ser salvo pelo Ikki.

   Incutindo na produção o ponto de vista individualizado de tal personagem, quero expressá-lo de forma clara e, quando ele vier a lutar, pretendo fazer algo pirotécnico, vistoso o bastante para deixar a tela toda branca…

Habituado a retratar Shun, o diretor Hosoda foi incumbido do episódio 103

   Mas, antes de tudo, quero que vejam a consolidação do Shun como homem. (Risos.)

           

A História Secreta de Excalibur: Saga! O Prelúdio da Ambição

   1 ano antes da descida de Atena à Terra, Shura regressava ao Santuário após realizar um treinamento na Espanha. No entanto, a felicidade dura pouco. Uma crise se aproximava da pessoa do Grande Mestre, e uma terrível conspiração estava urdida nela. O segredo de Saga, um homem envolto em mistérios, agora será revelado!

 

O Reencontro

   Retrocedemos 1 ano em relação ao advento de Atena. As chuvas são escassas no verão grego; de forma que, se chover por 3 dias durante um mês, já é muito. O Santuário, erigido no topo de uma montanha que contempla ao longe a cidade de Atenas, também estava totalmente árido, com o solo revolvido por todo lado.

   Como sempre, a colina da Acrópole estava apinhada de turistas estrangeiros. Mas o Santuário, como se permanecesse assim desde tempos imemoriais, estava imerso numa atmosfera divina que rechaçava as pessoas em seu exterior. É claro que, de anos em anos, sempre havia alguém metido a repórter tentando se infiltrar no famigerado refúgio ateniense, mas todos os seus esforços eram em vão.

   Dada a naturalidade desse tipo de atitude, a barreira erguida em volta do quartel-general para prevenir intrusos, que se tornariam obstáculos ao santo ofício do Papa e de seus acólitos, é um envoltório constantemente reforçado.

   Apenas por ficarem de pé diante dessa couraça, os turistas que se aproximavam inadvertidamente eram incapacitados de dar um só passo à frente, sendo fortemente repelidos quando tentavam avançar à força; e os eventos em que se feriam eram menos que esporádicos.

   Tal qual uma barreira, o grandioso cosmo do Mestre está tensionado em volta do Santuário na forma de um campo de força. Similar a uma sagrada resplandecência de 7 cores, essa barreira chegou a ser alcunhada pelo mundo exterior de “Arco-Íris de Deus” e, ao que parece, exortava o povo a reverenciar o refúgio como um solo absolutamente inviolável desde a era dos deuses.

   Como o vento, a figura de um rapaz trespassava essa barreira inexpugnável sem nenhum problema. Os olhos desse jovem, cujos cabelos negros eriçados ondulavam ao sabor do vento, abrigavam uma luz tão afiada que chegava a ser insueta para sua idade, contrastando com sua juventude. Seu porte só poderia pertencer a um cavaleiro.

— Minha terra natal, o Santuário… não mudou absolutamente nada…

   Erguida no centro do Santuário, a torre do relógio de fogo capturava seus olhos. No lado oposto, as moradas guardadas pelos doze cavaleiros dourados estendiam-se numa fila de mesmo número. Eram as célebres 12 Casas, as casas zodiacais dos cavaleiros de ouro.

— A décima morada é Capricórnio.

A voz estava carregada de nostalgia.

   O jovem pousou seus olhos na Sala do Mestre e no Templo de Atena, erigidos além das 12 Casas.

 — Eu me pergunto se Atena já terá descido à Terra…

   Quando o rapaz, absorto na maior de suas preocupações, voltou a atenção a sua própria localização, estavam perfilados diante dele o centro de treinamentos e o Coliseu, onde suara sangue nos tempos de aspirante a cavaleiro. Os pés do jovem o guiaram espontaneamente à arena.

   Quadro a quadro, ele revivia de forma cristalina as cenas de dois anos atrás, quando, neste lugar, se bateu violentamente com o último rival que restara pela glória de ser um cavaleiro e sua respectiva prova, a armadura. O rapaz havia se sagrado vencedor. Até hoje, seu coração palpitava a cada recordação desse momento de triunfo.

— A sorte me favoreceu naquele dia; foi apenas isso… mas, se fosse hoje, eu poderia vencer com a minha habilidade.

Não havia mentiras nessa convicção. Decerto, esse exíguo período de 2 anos, o treinamento em meio à cordilheira dos Pirineus, na Espanha, terá sido inestimável. Foi daí que essa crença inabalável surgiu.

   Depois de insuflar morosamente seus pulmões, o jovem segurou a respiração e, cerrando os olhos como se concentrasse toda a sua consciência, armazenou sua energia. No átimo seguinte, como a neve derretida que desce uma corredeira, ou puros-sangues irrompendo da porteira, jorrou o cosmo emanado de cada centímetro de seu corpo.

   O rapaz abriu os olhos lentamente, mirando um monte acutilado que se elevava atrás do longínquo Templo de Atena, Star Hill. Por alto, A distância devia ser de uns 3 quilômetros…

— Uohhh!

   Seu punho direito, que visava Star Hill, foi desfechado numa fração de segundo. Com a pressão do ataque fendendo o ar a olhos vistos, a investida rugiu, viajando pelo espaço numa arremetida à velocidade da luz. Era como se a atmosfera chorasse.

   O ataque, que chegou ao destino sem perder qualquer potência, atingiu o teto da construção no cume do monte, um observatório onde o Papa vaticinava o futuro mediante a leitura das estrelas. O impacto levantou duas colunas de fumaça.

   O jovem, que não teve problemas para testemunhar o evento a olhos nus, ainda assim, mostrava descontentamento em sua fisionomia; entretanto, no instante seguinte, ele detectou um cosmo esplendoroso às suas costas.

— Hum? Este cosmo…! — com um sorriso no rosto, o jovem se virou.

   Com um olhar afetuoso, Aiolos, o Cavaleiro Dourado de Sagitário, revelava um sorriso íntimo.

— Aiolos!

— Shura! Quando você voltou?

Sem responder uma só palavra, o jovem chamado Shura correu para os braços de Aiolos.

   O Cavaleiro de Sagitário segurou Shura, proferindo uma exaltação: — Shura, parece que seu cosmo se aperfeiçoou ainda mais.

— Ainda não sou rival para você.

— Não, provavelmente já está no meu nível.

— Isso… No seu nível… Imagine! — Shura exibia pela primeira vez uma timidez compatível com sua idade.

   Estendendo seu braço para congratular o companheiro com um aperto de mãos, Aiolos exclamou: — É o retorno triunfal do guardião da décima casa zodiacal, o cavaleiro de ouro Shura de Capricórnio. Parabéns, meu amigo!

Aiolos ficou sem palavras ao apertar a mão do jovem, pois parecia que ela havia sido forjada em aço, transmitindo todo o rigor de seu treinamento.

— Que mão é esta!? Isso significa que ele treinou até ficar assim… Fantástico, Shura! — pensou o cavaleiro da nona casa.

— Há algo errado, Aiolos?

   O Cavaleiro de Sagitário voltou a si com as seguintes palavras:

— Shura, agora a Casa de Capricórnio já está intransponível, não é?

— Aiolos!!…

   Com um olhar que parecia fitar seu próprio irmão mais novo, Aiolos assentiu em silêncio.

— Nada me deixa mais feliz que ouvir isso de você, Aiolos. Afinal, foi tendo você como meta que eu pude suportar todos os treinamentos, a despeito das dificuldades…

— Shura, a partir de agora, eu decidi esquecer que você é 4 anos mais novo que eu. Vá saudar o Grande Mestre. Vamos passar esta noite em claro para colocar os assuntos em dia.

   Shura deu um grande sorriso. Ele estava realmente alegre. O fato de ter sido reconhecido por Aiolos, o Cavaleiro Dourado de Sagitário, o homem que ele tinha como modelo…

   Como o Mestre do Santuário era uma existência que figurava no topo de todos os cavaleiros, por gerações, consolidara-se a tradição segundo a qual aquele entre os cavaleiros dourados que excelia em compaixão, sabedoria e coragem era escolhido por Deus, herdando seu posto do Grande Mestre anterior.

   Além disso, era comum que a substituição do Papa ocorresse logo antes do início de uma guerra santa. Desde a invasão do Imperador do Oceano à Terra, o termo “guerra santa” tem designado os conflitos deflagrados por forças que desenvolveram a “Grande Vontade”, a volição divina.

   Quando o mal assolava este mundo, a vinda de Atena prenunciava o introito de uma guerra santa, e os cavaleiros dispersos pelo mundo sob as ordens do Papa começavam a se arregimentar no Santuário. Até agora, incontáveis guerras santas se repetiram em intervalos de 230 a 250 anos.

   A guerra santa mais recente ocorreu há 229 anos e, apesar de contar com o maior contingente de cavaleiros da história, 79 combatentes, foi uma batalha atroz, um jihad ao qual pouquíssimos sobreviveram.

   Um dos cavaleiros sobreviventes à última conflagração é o preceptor de Shiryu de Dragão, o Cavaleiro Dourado de Libra, o Mestre-Ancião (Dōko) dos Cinco Picos Antigos, em Rozan. O outro é o atual Mestre do Santuário.

— Oh, Shura! Retornou em boa hora! — sentado em seu trono, o Papa, que ocultava sua figura envelhecida com a máscara e um distinto paramento sacerdotal, deu as boas-vindas a Shura.

— Vossa Santidade está animado! — Shura respondeu à saudação do Mestre com reverência, seguindo o protocolo.

— Tire esta noite de folga para relaxar.

— Shura, você ficou muito forte, hein…

Era uma saudação do irmão caçula do Grande Mestre, Arles, que se mantinha postado ao lado do trono.

— É muita gentileza sua, mestre Arles…

   Auxiliando o pontífice, que, além da idade avançada, tinha ficado com o corpo debilitado, Arles o representava em uma parte das obrigações impostas pela função. Apesar de não estar qualificado para ascender ao posto de Grande Mestre em virtude de ser um cavaleiro de prata, sua personalidade confiável e sua ilimitada reverência ao Papa conquistaram a confiança dos cavaleiros, amealhando tanto apoio e respeito quanto o próprio irmão mais velho.

— Agora o cavaleiro dourado da Casa de Capricórnio também está perfeito…

— Arles, vamos transmitir a missão de Shura amanhã — disse o Papa, levantando-se lentamente do assento.

— Sim, Vossa Santidade!

— Shura, já pode se retirar. É melhor você se recolher para que tenha um bom descanso — disse Arles, aquiescendo à ordem do Mestre.

— Muito obrigado.

 

O Incidente

   Quando Capricórnio fazia uma reverência e se preparava para deixar o recinto, ele sentiu um cosmo possante e agressivo às suas costas, fazendo com que todo o seu corpo se retesasse num reflexo incontinente.

— Que cosmo é esse?! — bradou o Papa.

— Saga!?

— Hã? — Shura se virou.

   Com um sorriso frio nos lábios, Saga, o cavaleiro dourado de Gêmeos, avançou lentamente e, como dita a etiqueta, saudou o Mestre com mesura: — Vossa Santidade aparenta estar muito bem… Saga, o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, vem a sua presença.

   Tencionando confirmar se o cosmo anormal provinha de Saga, Shura fechou os olhos. No entanto, de Saga emanava apenas uma sublime cosmoenergia, mais que perfeita para um cândido cavaleiro dourado.

— Que estranho… Quem diabos emitiu aquela cosmoenergia?! Será que alguém nocivo se infiltrou no Santuário? — questionava-se o guardião da décima casa.

— Você é?…

— Sou Shura, o Cavaleiro Dourado de Capricórnio.

— Oh, você é…

— Eu detectei um cosmo poderoso e agressivo agora há pouco. E você?

— Oh, eu não senti nada…

— Verdade?

Os dois se encararam de forma implacável, e a colisão de seus olhos afiados gerou faíscas.

— O… O que será essa luz suspeita irradiada no fundo das pupilas dele?…

Os dois insistiam em se encarar, mas o Papa dirimiu a tensão:

— Saga, e os movimentos de Posseidon?

— Até o presente momento, não houve nada em particular…

— Saga, observar Posseidon é de suma importância. Não podemos negligenciá-lo nem mesmo por um instante. Já se passaram 229 anos desde a última guerra santa. O dia em que Atena descerá à Terra se aproxima.

— Sim, Vossa Santidade!

— Saga, depois de tanto tempo longe, é melhor você passar esta noite no Santuário.

— Sou muito grato a Vossa Santidade!

   Tornando a fitar Saga, que se curvava polidamente, Shura refletia: — Saga… que sujeito insondável…

   O véu da noite foi envolvendo o Santuário. Seria o fulgor do manto estrelado a corporificação de um anjo de beleza eterna?…

   Acomodado numa cadeira no terraço enquanto projetava as estrelas no cálice que trazia na mão, Shura pergunta a Aiolos:

— Aiolos, que tipo de cavaleiro é o Saga?

— O Saga?… Bem, temo que ninguém, nem mesmo o Papa, tenha sido capaz de perscrutar suas entranhas… Eis um sujeito que jamais revela suas verdadeiras intenções. Algo me diz que ele é o tipo de homem que carrega uma sombra sinistra…

— Hum…

   Quando as pupilas enigmáticas de Saga emergiram na mente de Shura, embora tênue, ele pôde captar novamente aquele cosmo hostil.

— Aiolos?!

— Sim! — Aiolos também sentira.

— É isto! Foi este o cosmo que eu senti antes!

— Vamos, Shura! — exortou o Cavaleiro de Sagitário, colocando-se de pé logo em seguida.

— Hein!? — Shura não compreendeu.      

   Aiolos já estava correndo quando disse: — Shura, Sua Santidade corre perigo!!

— Hem!?

Aiolos corria em direção ao Salão do Mestre, e Shura o seguia.

— Maldição… Ainda não estou no mesmo nível do Aiolos…

   Galgando os degraus de pedra num piscar de olhos graças a um sprint sobre-humano, digno de um cavaleiro dourado, a dupla chegou ao Salão do Mestre sem nem mesmo perder o fôlego. No arcôntico recinto, Arles atuava como um escudo humano para proteger o Mestre do assassino que atentava contra sua vida.

   O fato é que Arles também era um cavaleiro de prata, e suas habilidades eram louváveis. No entanto, ele já havia sofrido alguns ferimentos. Por outro lado, o assassino estava incólume. É por isso que talvez se tratasse de alguém superior a um cavaleiro de prata. Como o rosto estava coberto por uma máscara, sua identidade era uma incógnita.             

— Mestre Arles!

— Oh! É você, Aiolos?!

   Shura vociferou para o sicário: — Quem é você, miserável?! Só mesmo o mais mentecapto dos homens ousaria invadir a sala do Grande Mestre do Santuário… Além disso, brandiu os punhos contra o Papa… Diga logo o seu nome!

— …

Entretanto, o sicário não emitiu uma só palavra.

   Num aparente insight, Arles gritou: — Você… Será que você é?!…

— Você reconhece a vestimenta desse sujeito? — pergunta Shura a Aiolos.

— Não, é a primeira vez que a vejo.

   A vestimenta do assassino que visava o Papa sem trégua era absolutamente diferente das armaduras, os trajes envergados pelos cavaleiros.

— Lembra vagamente as escamas de um peixe — pensou Shura.

   O atacante nada respondeu, mas o Papa logo revelou a resposta: — Esse traje é chamado de escamas, as vestimentas envergadas pelos sequazes de Posseidon, os marinas.

— Marinas?! Escamas!? — era a primeira vez que Shura ouvia essas palavras.

— São indumentárias confeccionadas com o raríssimo oricalco.

— Então, você é um matador a serviço de Posseidon?!

   Impassível também à inquisição de Shura, o assassino disparou um abrupto ataque à velocidade da luz contra o irmão do Grande Mestre. E, como já era esperado, mesmo Arles foi incapaz de eludir o ataque.

— Ughhh! — pressionando o abdome, Arles tombou de rosto no chão.

   Sem perder um só segundo, o sicário saltou no ar e se aproximou do Papa.

— Oh, não!…

Quando Aiolos gritou, o assassino já estava diante do egrégio pontífice.

   Contudo, apesar da idade avançada e, ainda que sua saúde estivesse fragilizada, em princípio, o Mestre também era um cavaleiro dourado. Não se trata de um homem que sucumbiria ignominiosamente nas mãos do assassino. O líder dos cavaleiros se esquivou facilmente da ofensiva do ferino atacante.

— Vossa Santidade!! — aos gritos, Aiolos e Shura saltaram em auxílio do Papa.

   Nem mesmo um assassino com tamanha confiança em suas habilidades seria idiota o bastante para desafiar dois cavaleiros dourados em atividade. Dando um grande salto no espaço, ele se virou em direção às costas do Mestre.

— Oh, não!

   O próprio Mestre não havia percebido que suas costas tinham sido tomadas. Com o Papa transformado em escudo humano, nem Aiolos nem Shura era capaz de interferir. Tudo que os cavaleiros podiam fazer era esperar um erro do assassino, permanecendo em posição de luta e sem mostrar qualquer brecha. Como era de se esperar, o suor derramava pela testa dos dois.

   À semelhança do gato que brinca com o rato, o malfeitor, que usufruía de uma posição de completa vantagem, arrostava Aiolos e Shura com uma postura ameaçadora.

   Nesse momento, Shura captou um cosmo possante e agressivo. Era idêntico ao que ele havia sentido no crepúsculo, no Salão do Mestre.

— É o cosmo daquela hora!!

   Aiolos também o sentiu: — Esse… Esse cosmo… Será?!…

O defensor da nona casa do zodíaco se recordava dele.

— Se quiser sair vivo daqui, solte o Mestre agora mesmo! — bradou Aiolos, apontando o dedo indicador da mão direita para o assassino.

— Pff! — um murmúrio zombeteiro escapou da máscara.

   O cosmo de Aiolos se elevou, e um pulso foi emitido de seu dedo indicador, atacando o sicário; entretanto, sem qualquer sinal de intimidação, o assassino se esquivou do ataque.

   No instante seguinte, o facínora ergueu seu punho direito, fixando o Papa como alvo.

— Arff!! — Shura arfava o oxigênio circundante.

   Estirado no chão, Arles levantou a cabeça e bramiu:

— A… Aiolos, conto com você!

   Sem perder tempo, o Cavaleiro de Sagitário também vociferou: — Saga, pegue-o! É um atentado!

— Hum!?

No lapso efêmero de um piscar de olhos, uma diminuta hesitação foi percebida enquanto o matador projetava seu punho em direção ao Grande Mestre.

   Como se expedisse um decreto ao Cavaleiro de Capricórnio, o Papa gritou: — Shura, dispare um golpe usando a mão como espada!

   A mão direita de Shura se converteu prontamente numa espada, relampejando no braço direito do assassino.

— Ugh!

   Foi um golpe de mão aberta completamente diferente do pretendido por Shura. Um movimento com a faca da mão que só poderia ser descrito como se algum poder externo tivesse operado nele, e seu braço, agido por conta própria. Mas a potência não foi menos que feérica. A ofensiva dilacerou o braço do sicário.

— Urgh!! —  o sangue fresco gotejava pelo cotovelo do invasor.

   O próprio Shura manifestou seu estupor: — O quê?! Que diabo foi isso?!…

   Não foi uma surpresa quando Aiolos disparou um golpe à velocidade da luz contra o assassino, uma investida que poderia ser chamada de segunda flecha.

    Pego com a guarda baixa, o assassino foi incapaz de se esquivar, recebendo a pesada e lancinante pressão do ataque na ombreira das escamas. Como esperado de uma vestimenta constituída de oricalco, a proteção não foi estilhaçada, mas voou pelos ares ao ser seccionada dos ombros.

— Urgh!!

Sem tempo para recompor sua postura de luta, o vilão foi alcançado por Shura, respondendo com um grande salto. Atuando em sincronia, Aiolos puxou o pontífice para perto de si e agiu como seu guarda-costas.

    O assassino arremessou Shura no ar como se aplicasse a técnica de projeção tomoe-nage e logo se reergueu, mas Shura, que havia aterrissado depois de uma vivaz revolução aérea, e Arles, que usara todas as suas forças para se levantar, já estavam em posição de luta.

   Enquanto protegia o Papa às suas costas, Aiolos fazia seu cosmo queimar. O invasor não tinha alternativa senão desistir. Afinal, ele não era tolo o bastante para se digladiar com quatro oponentes, dois cavaleiros dourados na ativa, um cavaleiro de prata e um antigo cavaleiro dourado.

     Nitidamente frustrado, o sicário se virou e jogou seu corpo contra o vidro da janela. Tal qual o estrondo, os contornos do vilão foram esmaecendo na escuridão. Shura tentou sair em seu encalço, mas Arles o deteve:

— Shura, não vá atrás dele! 

— Por… Por que não?!

— Lá fora está um breu absoluto… Se você cometer algum deslize e ele se aproveitar da escuridão, vamos acabar numa situação irremediável.

 — É como Arles disse. 

Ouvindo as palavras do Mestre, Aiolos trocou um olhar com Shura, assentindo com a cabeça para que o amigo obedecesse.

— Eu compreendo. Ainda assim, quem será aquele sujeito?!

   Balançando a cabeça, Aiolos retorquiu:

— Supor que se trata de um assecla de Posseidon seria a conclusão natural, mas… 

   Arles continuava em silêncio.

— Aiolos, Shura, lamento por lhes causar problemas — disse o Mestre, abaixando sua cabeça.

— Mestre, por favor, não diga uma coisa dessas. Vossa Santidade jamais causa problemas.

— Exatamente.

Aiolos e Shura sentiram-se infinitesimais diante do Papa, que abaixara sua cabeça com tamanha humildade.

 Na hora que Saga — que trajava uma camisa de manga longa ligeiramente incompatível com a temperatura que fustiga a Grécia em meados de outubro — chegou correndo, tudo já havia terminado.

— Saga, o assassino que acabou de atacar o Mestre…

 A compleição de Saga mudou com as palavras de Shura.

— Como é!? Atacou Sua Santi… Quem diabo?!…

— Parecia um marina, de Posseidon.

— Um marina?!

— Saga, volte à vigília de Posseidon imediatamente.

— Sim, Santidade! — o Cavaleiro de Gêmeos curvou-se com deferência.

 

A Suspeita

   Introspectivo, parecendo ponderar algo, o irmão do Mestre fitava atentamente cada ação de Saga.

   Quando Saga, que já havia percebido e parecia desconfortável, lançou um olhar para Arles, o Mestre fez um anúncio importante:

— Cavaleiros, ouçam com atenção.

   Aiolos e os demais ficaram em posição de sentido.

— Atena logo descerá à Terra.

— Hã?! — a convulsão foi geral.

— Atena finalmente descerá…

O coração de Shura palpitou mais que na ocasião em que ele fora agraciado com sua armadura.

   Nesse momento, Arles não deixou de perceber um sorriso frígido emergindo na face de Saga.

— Saga…

   O Papa prosseguiu:

— Como vocês bem sabem, a vinda de Atena se traduz nas primícias de uma guerra santa. Posseidon não é a única entidade que almeja este mundo. É provável que Hades, do Mundo dos Mortos, e Ares, o deus da guerra, ainda não tenham se desvencilhado de suas ambições. É imprescindível que nos preparemos para as guerras sagradas que estão por vir.

    A tensão percorreu a face de Shura.

— É também por esse motivo que Saga deve se devotar de corpo e alma à vigilância dos movimentos de Posseidon! — continuou o Papa.

— Sim, Vossa Santidade!

— Além disso, Aiolos deve fortificar as defesas do Santuário.

— Como desejar, senhor.

— Shura, você deve apressar o treinamento dos cavaleiros pelo mundo.

— Sim, Vossa Santidade!

— Partam agora mesmo!

— Sim! — o cosmo dos três se incendiou.

— Shura, o golpe de mão aberta que você desferiu foi formidável.

— Sim, meu senhor. Nem eu sei ao certo o que aconteceu. Parece até que minha mão se moveu sozinha…

— Aquela foi uma dádiva oculta que Atena lhe concedeu…

— Hã? Uma bênção de Atena?!

   A perplexidade não aturdira apenas Shura; o fato também deixara Aiolos, Saga e Arles atônitos.

— Sem dúvidas, a determinação divina é batizá-la de Excalibur, a espada sagrada.

— Excalibur?…

— Dedique-se ainda mais a fim de transformá-la numa técnica mortal. Para que você possa proteger Atena com a sua vida no advento da encarnação…

— Sim! Eu sou muito grato a Vossa Santidade.

   Os olhos marejados de Shura, que fitava seu braço direito, verteram dois fios de lágrimas.

— Atena…

As lágrimas eram a prova até então inaudita de sua genuína gratidão a Atena.

— Que bom, Shura — disse Aiolos, segurando com firmeza o braço direito do amigo em felicitação.

— Obrigado, Aiolos.

— Parabéns, Shura! — congratulou Saga, que segurava o ombro do Cavaleiro de Capricórnio.

   Os olhos de Arles cintilaram. Uma mancha escarlate tingia o punho da manga da camisa de Saga.

— Será… Será mesmo que o Saga?…

— Cavaleiros, é melhor vocês se retirarem.

   Aiolos e os demais anuíam às palavras do Mestre.

— Saga, gostaria que fosse aos meus aposentos depois. Lamento pelo incômodo.

— Arles, algum problema?

—  Só quero conversar um pouco…

 Mostrando seu descontentamento nos ombros, Saga foi deixando o recinto a passos largos.

   De volta a sua alcova, Arles estava absorto em seus próprios pensamentos: — A barreira do Santuário é fortalecida constantemente. Com exceção dos cavaleiros de ouro, não deveria haver ninguém capaz de trespassá-la. Se aquele assassino for um autêntico marina, o fato de a barreira acabar sendo quebrada… Mas, mesmo que fosse um cavaleiro de ouro, o Saga chegou atrasado. Além disso, a camisa de manga longa… Será que o sangue que parecia manchar o punho da camisa foi uma ilusão de óptica?…

   Batiam à porta. Saga entrou. Alojando no fundo dos olhos um brilho de suspeição, Arles continuou em frente.

— Sobre o que você queria conversar?…

   No instante que Saga quebrou o gelo, Arles agarrou o braço direito do cavaleiro dourado, arregaçando a manga de sua camisa com todas as forças de seu corpo.

— O… O que você está fazendo?!

   No braço, puxado às pressas por Saga, saltava aos olhos um ferimento recente, a ferida infligida por Excalibur, de Shura.

— Eu sabia, Saga… Temo que ninguém além de mim tenha percebido. Se foi apenas um arroubo, vamos esquecer…

— Hu, hu, hu… Arles, se não atinasse com coisas que não lhe dizem respeito, teria conseguido viver uma vida um pouco mais longa…

— O quê?!

   Os olhos de Saga foram completamente matizados de uma cor sanguinolenta, sedenta de sangue. Era uma personalidade totalmente diferente.

— Não me leve a mal. Tudo isto é para que eu, o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, possa governar este mundo em nome de Atena. Agir agora, na iminência da descida da deusa à Terra, é crucial. Como havia acabado de fulminar o pobre coitado de um marina, eu me apoderei de suas escamas… Tome isto! A maior técnica de Saga, Explosão Galáctica!!

   A técnica mais possante de Saga explodiu. Ante essa ofensiva, o indefeso Arles iniciou sua jornada para o outro mundo. Mirando com desdém o corpo sem vida de Arles, Saga sorriu friamente.

— Hu, hu, hu! A partir de agora, serei o mestre Arles!

O ominoso cavaleiro removeu a máscara de Arles.

— Se o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos percorrer os 7 mares para observar as ações de Posseidon… Em seu devido tempo, se eu cuidar do Papa e assassinar Atena, o Santuário será meu! Hu, hu, hu!!

 

O Advento de Atena

   Um ano depois, a deusa tomou forma no Templo de Atena. Arles (Saga), que, após a morte do Grande Mestre, assumira o poder como papa interino até a eleição formal do pontífice, sussurrava com perfídia no ouvido de Shura, que, depois de 1 ano fora, retornara ao Santuário em meio ao frenesi da celebração.

— Aiolos conspira para assassinar Atena, e eu gostaria que você impedisse esse atentado de qualquer jeito.

— Como… Como é?! Isso é ridículo! O Aiolos não é esse tipo de homem!!

— Não se importa com o que acontecerá a Atena?

— Absurdo! Nós cavaleiros existimos para proteger Atena e combater a maldade neste mundo!

— Sendo assim, não há razão para digressões, não é verdade?

   Shura hesitou. Afinal, era absolutamente inconcebível que Aiolos fizesse algo tão idiota.

— Mesmo que haja um substituto para o Cavaleiro Dourado de Sagitário, Atena não pode ser substituída, Shura!

— Muito bem. Eu confirmarei com Aiolos!

— Tolice!

— O quê?!

— Você acha que alguém responderia positivamente se fosse inquirido sobre suas intenções de matar Atena?!

— …

No mar do coração de Shura, tão impoluto quanto um espelho, foi arremessada uma grande rocha, o germe da desconfiança.

   Nessa noite, sob a forma de uma menina recém-nascida, Atena (Saori) dormia no templo dedicado à deusa. Uma sombra se aproximava da criança, que não tinha como saber da existência de alguém que tencionava tirar sua jovem vida. Empunhando uma adaga com força, essa sombra trajava paramentos sacerdotais.

   A silhueta que emergiu na fraca luz crepuscular era a de Arles, ou seja, Saga. Ao se aproximar do berço, ele ergueu a adaga acima da cabeça. Sem saber de nada, Atena continuava dormindo. Em meio ao resquício de luminosidade do ocaso, a adaga resplandecia.

— Morra, Atena!!

Mirando Atena, a adaga foi projetada para baixo em linha reta. Quando a lâmina estava a milímetros da criança, o punho de Arles foi agarrado firmemente por alguém.

— Urgh! Você… é Aiolos!

— Mestre Arles, mas que diabo… O senhor ficou louco?!

— Ehh… Solte-me!

   Depois de puxar seu braço, o impostor tentou apunhalar o bebê mais uma vez; no entanto, com um átimo de diferença, Aiolos apanhou a criança, segurando-a em seus braços. Atena nem mesmo chorara…

— Mestre Arles, esta criança é a encarnação de Atena, que Deus nos envia de séculos em séculos. O senhor sabe!!…

— Não interfira, Aiolos!!

— Pare agora mesmo!

O punho do Cavaleiro de Sagitário explodiu em Arles, derrubando a adaga. A máscara também caiu no chão.

— Mas o quê?! — ao vislumbrar a face de Arles, o rosto de Aiolos se convulsionou em frêmitos de espanto.

— Sa… Saga!! Que diabo você…

— Uhh… Então, você viu, Aiolos! Não posso permitir que alguém que tenha visto o meu rosto continue vivo… Você também morrerá junto com Atena!!

   Saga estendeu seu punho direito, e uma pressão digna de um cavaleiro dourado assaltou Aiolos. Com a manta que embrulhava o bebê nos braços, Aiolos conseguiu evitar a investida por muito pouco.

   A pressão do ataque que Saga errou acabou demolindo a parede de pedra atrás do alvo. Esgueirando-se, Aiolos saltou pelo rombo que o golpe deixara.

— Alguém… Peguem-no!!… Aiolos tentou uma insurreição!!

   Aiolos fugiu em desespero. Diante dos cavaleiros e soldados reunidos, Saga, novamente disfarçado de Arles, informou que o Cavaleiro de Sagitário havia tentado matar Atena e ordenou que partissem em seu encalço de imediato. 

   Ao ouvir o comunicado, Shura pensou que as palavras que Arles lhe confidenciara anteriormente eram verdade, passando a perseguir o guardião da nona casa sem demora.

— Aiolos, mas o que você…

Enquanto Shura seguia o paradeiro de Aiolos, a imagem do homem que ele reverenciava como um irmão mais velho bruxuleava em sua mente.

   Com o bebê nos braços e a urna da armadura dourada de Sagitário nas costas, Aiolos correra até a parte exterior do Santuário. Mas seus pés haviam se detido. É que o Cavaleiro de Capricórnio se colocara em seu caminho.

— Aiolos, você acha que pode escapar tão facilmente?

— Espere, Shura! Ouça-me, por favor!

— Tentar dar desculpas a essa altura não combina com você. Eu o derrotarei. Vou fazê-lo com a espada sagrada que me foi concedida por Atena, Excalibur!

   A figura do jovem que idolatrava Aiolos como a um irmão mais velho não estava mais ali. Banhada nas lágrimas de Shura, Excalibur talhou sucessivas fendas no solo…

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Aficionado sectário de Saint Seiya desde 1994, sou um misoneísta ranzinza. Impelido pela inexorável missão de traduzir todas as publicações oficiais da série clássica, continuo a lutar. Abomino redublagens.

15 Comentários

  1. Amigo, que trabalho soberbo!! Este é o melhor site da história, o mais completo da web. O conteúdo do Jump Gold Selection é muito mais interessante do que eu imaginava vendo as imagens. Muito obrigado pela tradução.

  2. Oi, meus parabéns. Nunca pensei que veria os Jgs traduzidos. 30 anos e ninguem nunca fez isso. Fiquei boquiaberta com as ilustrações dos Cavaleiros de Ouro, as entrevistas e a fichas dos personagens. Muito obrigada.

  3. Rapaz… que surpresa achar esse material na internet. Há anos “coleciono” imagens referentes à Saint Seiya. Literalmente “garimpo” imagens raras em alta resolução, com qualidade. Feliz de ter achado seu site (que não conhecia) e poder ter acesso à esse acervo magnifico. Ganhou minha admiração pelo seu trabalho. Espero que não deixe de fazê-lo. Nós, fãs da “velha guarda” agradecemos. MUITO OBRIGADO MESMO.

  4. Estupendo trabajo amigo y agradezco muchísimo el esfuerzo y el tiempo que has dedicado para traducirlos. Soy de México y el idioma portugués se me facilita un poco. Yo tengo la fortuna de poseer los 3 mooks y el de Hades y 3 de los 4 panfletos de las películas y desde que pude adquirirlos siempre tuve la inquietud por descifrar sus páginas. Ojalá continues con el JGS 3 pronto para tener la trilogía completa y harás a todos los fans de corazón, yo incluyéndome, muy contentos. Gracias!! Obrigado!!

    • Me alegra que hayas disfrutado de mi trabajo, amigo. Aunque no hay una versión en español, creo que no tendrá problemas para entender la traducción. Pronto publicaré el tercer mook.

  5. No te preocupes amigo. De hecho acabo de comentar en el tercer volumen, asi que aprovecho este espacio para agradecerte de nuevo por la traducción. Ojalá te animea a traducir mas adelante el artbook de Hades los anime comics o los panfletos, el primero y los últimos los podría compartir contigo si es que no los tienes. Cuidate mucho y que estes muy bien!!

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