“’Isto aqui é uma luta com espadas de verdade, é matar ou morrer! Não vou perder para o senpai!’ — eu dublei com este pensamento.
ENTREVISTA Nº 2 — O DUBLADOR DE SEIYA DE PÉGASO
— Para começar, gostaríamos que o senhor nos contasse como se envolveu na produção.
Obviamente, foi por intermédio de uma audição, mas o formato consistia em organizar times com cerca de 10 pessoas, fazendo cada uma delas representar um papel diferente. O papel do Seiya já havia sido definido para mim, assim como o papel do Suzuoki, que estava no mesmo time, e os papéis dos demais dubladores.
Como eu também lia a Jump naqueles tempos, fui à audição a caráter, fantasiado de Seiya. É uma política própria, meu ritual de construção dos personagens. Afinal, é mais fácil encampar a personalidade dos personagens e, além disso, também acaba se tornando um apelo para angariar a simpatia do pessoal do estafe, não é verdade?
Mas, na realidade, como eu era fã do Shiryu (Sorriso amargo.), me submeti à audição com o coração cortado. Eu ficava pensando “Ah, eu quero mesmo é fazer o Shiryu…” (Risos.)
No entanto, ao ouvir o Shiryu do Suzuoki na audição, até mesmo eu consenti: “De fato, o Suzuoki está perfeito…” (Risos.)
— Na hora de dublar, havia algum aspecto ao qual o senhor devotava uma atenção especial ou coisa do tipo?
Até então, eu vinha fazendo os heróis sempre na mesma linha… Colocando em outras palavras, eu pensava “Para este, o estilo do Hyūma serve, não?”
É que havia bastantes pontos em comum. Quanto ao Seiya, é uma história que diz que, não importa quantas vezes seja derrubado no fundo do poço, em nome de sua amizade com Shiryu e os demais, ele se inflamará e subirá rastejando, não é verdade? As configurações e cenários eram diferentes, mas havia segmentos que os ligavam pela parte sentimental.
Depois que o papel foi decidido, solicitei vários materiais sobre o personagem. O produtor da TV Asahi era tão dedicado que reuniu para mim todos os dados que conseguiu coletar, desde documentos do planejamento e tudo mais.
Os produtores da Tōei Animation também eram assim. Eu tenho a sensação de que todo o contingente envolvido na obra Saint Seiya estava queimando seu cosmo ao extremo. Cada pessoa em sua posição, sabe?
— O senhor poderia nos dizer qual foi seu episódio favorito durante a produção?
O meu preferido… a luta com o Aiolia. O episódio em que o Seiya arrisca a vida para proteger a Shaina. Aquela é a cena de que mais gosto. É que eu acho galante (Risos.) e também gosto tremendamente da voz do senhor Hideyuki Tanaka, que faz o papel do Aiolia.
Por esse motivo, eu dublei com um pensamento fixo: “Isto aqui é uma luta com espadas de verdade, é matar ou morrer! Não vou perder para o senpai!”
E o senhor Hideyuki me honrou correspondendo a essa competitividade… Naquele momento, enquanto cruzávamos as nossas espadas — as nossas falas —, foi um episódio no qual minha alma exultou: “Estou feliz por fazer animes!”
Não admira que, por causa do embate, o interior do estúdio parecesse uma arena de artes marciais. Afinal, um veterano sem igual estava atuando como convidado. Quando isso acontecia, eu dublava com uma coisa em mente: “Vou lutar contra essa pessoa e roubar alguma técnica valiosa dela!”
É por isso que a qualidade da produção se elevou nessas ocasiões. Sempre que havia oportunidades como essa, nós todos nos orgulhávamos da produção, partilhando da convicção de que aquele não era só mais um anime comum. Nós pensávamos “Sou um felizardo por aparecer nesta produção”, sabe?
— Creio que esses “duelos” entre os atores sempre transpareceram na tela em histórias como a das 12 Casas…
Isso mesmo. E não falo das minhas cenas. Por exemplo, em tomadas como aquelas do duelo entre o Hyoga e o Camus, eu ficava no fundo, ouvindo cada sussurro em absoluto transe… Eu me questionava: “Mas que tipo de falas o senhor Rokurō Naya vai proferir, hein?”
Nesse sentido, como são raríssimas as produções com tantos veteranos no elenco, pretendemos que o trabalho seja visto pelos fãs, é óbvio, e, com certeza, pelos jovens dubladores também. Quero que eles perguntem: “Como é que são as falas comoventes?”
— Entre os convidados, há algum personagem que o tenha impressionado mais?
O cavaleiro de prata Misty, feito pelo Yū Mizushima. Eu o achei meio lascivo, bonito, hein… (Risos.)
Eu meio que pensei “É que esse sujeito tem um sex appeal masculino…” (Risos.)
— Por fim, gostaríamos de saber como o senhor está se sentindo ao voltar a dublar o Seiya nesta nova série, uma produção tão esperada.
Eu me sinto muito bem dublando o Seiya. Em termos de personagem, ele é tosco, mas pode esquentar a cabeça e também botar tudo para fora.
Fiquei feliz pelo fato de a maioria dos fãs meninos se projetar no Seiya. Assim como os cavaleiros do amor e da justiça, acho que consegui transmitir às crianças a mensagem para que jamais deixem de lutar por aquilo em que acreditam.
— Muito obrigado.
2002 — entrevista concedida no estúdio de gravação Tavac