ENTREVISTA Nº 1 — MÚSICA
“(…) Saint Seiya é um trabalho de suma importância.”
— Por favor, conte como o senhor se envolveu em Saint Seiya.
Tudo começou quando fui contatado pelo senhor Hidetoshi Kimura, da Nippon Columbia (atual Columbia Entertainment). “É que agora vamos fazer um trabalho chamado Saint Seiya…” — ele telefonou dizendo.
Como não tenho o hábito de ler mangás, só soube da existência de Saint Seiya quando a obra chegou na forma de uma oportunidade de trabalho. Eu me recordo que ele disse: “Já que vou lhe confiar este trabalho, faça-me boas músicas, hein”.
— E como foi o progresso da composição das músicas de Saint Seiya?
No início, eu peço fotos em cores dos personagens. Também leio um pouquinho do mangá, mas, inclusive na época de “Seiya”, afixei as fotografias do Seiya, da Saori, do Ikki e do Shiryu no meu local de trabalho e acabei escrevendo as músicas com a imagem mental que a contemplação das fotos trazia à tona.
O fato é que, ao adentrar muito a história, as músicas se tornam canções anódinas, um mero auxílio. Como sou do tipo que defende a música como um aparato autônomo, a música por si só, acabo concebendo os temas e demais canções com base em imagens introjetadas, com esteio na minha própria imagem mental.
Felizmente, tive a honra de as melodias agradarem também ao mestre Kurumada, de quem recebia mensagens encantadoras ocasionalmente. No caso dos filmes, no entanto, eu componho de acordo com o storyboard recebido.
— Naquela época, as coletâneas e artigos do gênero chegavam às lojas num ritmo frenético, não é? Penso que, pelo menos em Saint Seiya, o senhor estava bastante assoberbado…
Aqueles eram tempos em que todos os discos encalhavam nas prateleiras. Entretanto, por algum motivo, Saint Seiya vendia bastante, colocando uma coletânea à venda a cada 2 ou 3 meses. Considerando que eu também estava engajado em algumas outras produções, não há como negar a sobrecarga, mas, se olhar além disso, são lembranças nostálgicas.
O produtor Hatano me honrou ao dizer: “Quero que escreva a seu gosto. Como não falaremos de dinheiro, deixarei tudo com você, incluindo o número de instrumentistas”. Não poderia haver um trabalho tão aprazível assim, não é?
— São as impressões dos 2 anos em que esteve participando prolificamente de Saint Seiya…
Isso. Mesmo escrevendo melodias para outras produções, é como se Seiya ficasse piscando em algum lugar da minha cabeça. Quando estava no meio de uma refeição ou no banho, e qualquer lampejo musical me vinha à mente, eu pensava “Ah, vamos colocar isto em Seiya”. (Risos.) Curiosamente, o material obtido nesses insights costuma fazer sucesso, sabe?
— Entre as músicas de Saint Seiya, há melodias que marcaram o senhor?
Os volumes batizados com os títulos dos filmes usavam os temas da TV, mas, na época de A Lenda dos Jovens Carmesins, eu pedi permissão para escrever a chamada trilha original do filme ao diretor Yamauchi.
Eu fiquei grato pela imediata aquiescência do diretor Yamauchi. Este é um bom álbum. Gostaria que vocês o ouvissem.
Sublime, a melodia O Dilúvio de Deucalião foi composta para o primeiro longa-metragem da série
— A Lenda dos Jovens Carmesins tem a reputação de ostentar o maior grau de perfeição entre todos os filmes.
É mesmo? Antes de morrer, gostaria de fazer um filme de Seiya veiculado internacionalmente [superprodução]. Uma hora e meia seria uma extensão apropriada. Eu também troquei umas ideias com o mestre Kurumada a esse respeito. O problema é que um filme de animação demanda bastante dinheiro, sabe… (Sorriso amargurado.) Mas que eu queria, queria…
Inspirado na atmosfera da Grécia, o maestro fez uso de bandolins no terceiro filme da série
Isto ocorreu após o encerramento de Seiya, quando reunimos a Orquestra de Paris e os maiores instrumentistas da Europa para gravar a sinfonia de Power Rangers Zeo* na Cidade-Luz. Levando em conta que transmitiam Seiya na França, ao ser apresentado como “Yokoyama, o compositor”, fiquei aturdido quando uma menina da orquestra gritou: “Yokoyama!!” Foi o sétimo céu. (Risos.)
— Por favor, fale de suas impressões acerca da obra Saint Seiya.
Saint Seiya é uma produção de suma importância para mim; tão importante que eu faço questão que executem [a trilha sonora] nas minhas exéquias. (Risos.) Se bem que, após Seiya também, na hora de fazer novos trabalhos, vou ficar pensando que as melodias são para o funeral… (Risos.)
Ainda assim, mesmo após tantos anos, eu realmente gostaria que tocassem Saint Seiya. Sobretudo, não podem faltar de jeito nenhum as músicas de A Grande Batalha dos Deuses que têm sua abertura entoada por um coro masculino.
Retumbante, o coro masculino do segundo filme marcou o maestro Yokoyama
Eu pensava em me aposentar quando fizesse 65 anos, mas, mesmo agora, quando farei 68, continuo engajado em várias coisas. Se for convocado por animações e demais programas audiovisuais, pretendo trabalhar de novo.
2003 — entrevista concedida na casa do senhor Yokoyama, em Hiroshima