Detalhes das Produções
Tal qual o mangá de Masami Kurumada, a animação televisiva Saint Seiya (1986-1989) se tornou uma das produções icônicas dos anos oitenta. O primeiro filme original estreou cerca de nove meses após o início da difusão, no período ideal, exatamente quando as coisas estavam para pegar fogo. Em outras palavras, pouco antes da “Batalha das 12 Casas”.
Um dos médias-metragens do Tōei Manga Matsuri do verão de 87, o trailer do filme não contém imagens exclusivas da produção
A direção ficou a cargo do senhor Kōzō Morishita, o diretor de núcleo da série de TV, e o enredo, do sr. Yoshiyuki Suga, roteirista de diversas produções cinematográficas de animes da Tōei, a exemplo de Akuma-Kun (1989), Magical Tarurūto-Kun (1991) e Slam Dunk (1994).
O senhor Suga, que participava da série como um substituto eventual do senhor Takao Koyama, da composição, desempenhou um papel de suma importância na produção, sendo responsável por várias histórias originais do seriado e por 3 filmes. Posteriormente, ele acabaria se encarregando de B’TX (1996), outra produção do senhor Kurumada.
O filme também arregimentou os membros do estafe principal da série de televisão, como o senhor Shingo Araki, na direção de animação e character design, e o senhor Seiji Yokoyama, na trilha sonora. O senhor Araki acabaria trabalhando em 3 filmes, encerrando sua participação em A Lenda dos Jovens Carmesins, ao passo que o senhor Yokoyama se engajou na produção de todos os filmes de Seiya.
Para a concepção dos personagens antagonistas, o diretor Morishita e os produtores Yoshifumi Hatano e Masayoshi Kawata se congregaram em Izu Kōgen. A fim de evitar que os inimigos se tornassem meros “bois de piranha”, foram dadas a eles personalidades e armas correspondentes às dos heróis.
Os vilões, por sinal, eram liderados por Éris, a deusa da discórdia, que também aparece nos mitos da Grécia. Trata-se do mesmo ser que utilizou o pomo de ouro para deflagrar a cizânia entre Atena e outras duas deusas (a propósito, Éris também é a gêmea secundogênita de Ares, o deus da guerra).
Além disso, a luz emanada da maçã dourada, que haveria de se tornar a chave da história, utiliza efeitos especiais como o da propagação luminosa de câmeras estenopeicas, técnica empregada nas cordas de Orfeu.
Dando-se a luxos como a regravação da trilha sonora por uma orquestra completa, o filme consumiu um orçamento extraordinário para os padrões de uma produção do Tōei Manga Matsuri.
Dessa forma, o média-metragem deixou os fãs extasiados. Este frenesi foi desencadeado não apenas pelo grau de perfeição da produção em si, mas pela sinergia com o mangá e a série de TV. O filme foi batizado de Saint Seiya; contudo, em função da conversão para o formato DVD, o senhor Kurumada sugeriu a inserção do subtítulo “Éris, a Deusa Maligna”.
Outra parceria do maestro com a senhora Kawashima, a divina canção O Amor de Atena foi, indubitavelmente, o grande momento do primeiro média-metragem
O segundo especial da série, A Grande Batalha dos Deuses (1988), estreou na primavera do ano seguinte. Com o período de lançamento coincidindo com o clímax da Saga das 12 Casas, mais do que nunca, os fãs de Kurumada e de Seiya de todo o País voltaram sua atenção à animação.
Um dos 4 médias-metragens exibidos no Tōei Manga Matsuri da primavera de 88, o trailer de A Grande Batalha dos Deuses utilizou cenas do primeiro filme e algumas imagens preliminares de Dorbal e dos guerreiros-deuses
A direção foi delegada ao senhor Shigeyasu Yamauchi, que já havia trabalhado na direção de episódios como o trigésimo capítulo, O cosmo flamejante do amor*. O roteiro, por sua vez, ficou a cargo do senhor Takao Koyama, responsável pela composição da série semanal.
A utilização da mitologia nórdica foi fruto de uma proposta do produtor Yoshifumi Hatano, e o flexível conceito de admitir outras mitologias apontou uma potencialidade latente na versão animada de Seiya.
No filme, aparecem personagens da mitologia escandinava como o filho dileto de Odin, Balder (Dorbal), Loki, Ull e os irmãos Freyr e Freya (Frea). Como no mito, o martelo Miollnir empala o corpo de Hrungnir (Rung), e Freyr acaba perdendo a vida por uma mulher. Também é desnecessário dizer que esta obra serviu como protótipo da produção da “Saga de Asgard” para a TV.
No verão do mesmo ano, foi apresentado ao público o terceiro filme, Saint Seiya: A Lenda dos Jovens Carmesins. A despeito de ser o primeiro longa-metragem da animação, como o projeto foi chancelado em fevereiro, trata-se de um trabalho produzido em apenas 5 meses (dizem que o diretor recebeu a demanda do produtor executivo, Hiroshi Takeda, no dia da primeira exibição privada de A Grande Batalha dos Deuses).
Seguindo o trabalho anterior, o sr. Shigeyasu Yamauchi continuou na direção, ao passo que o senhor Suga reassumiu o enredo. Desenhadas pelo senhor Araki, a graciosa aparição de Abel e a ressurreição de Saga e dos demais cavaleiros dourados acabaram virando assuntos obrigatórios entre os fãs.
Uma música-tema original foi composta para este trabalho, e, após uma audição, a cantora Hitomi Tōyama foi escolhida para interpretá-la.
Sabe-se que, na confraria dos 88 cavaleiros, 12 são de ouro, 24 são de prata e 48 de bronze; contudo, é igualmente notório que existem 4 cavaleiros cuja classe é um enigma até hoje. Seriam os cavaleiros da coroa do Sol, que aparecem na produção, a resposta para preencher essa lacuna?… Bem, o interesse ainda perdura.
Fazendo jus a um dos melhores filmes da história da animação, o trailer oficial de A Lenda dos Jovens Carmesins [A Batalha de Abel] é magnífico
O último filme produzido durante a difusão do seriado, Os Guerreiros do Armagedom, foi lançado em março de 89, quando a série entrava em sua etapa final. Considerando que o Seiya da TV ainda estava no Templo Submarino, os cavaleiros de bronze acabaram derrotando Posseidon um pouco antes no filme.
Para fechar as cortinas do show, o produtor Hatano convocou o diretor Masayuki Akehi, uma parceria que remontava a Ken, o Menino-Lobo (1963). Diretor dos episódios 15, 32, 56, 86 e 107 da série de TV, o senhor Akehi mantinha uma estreita relação com os capítulos protagonizados por Ikki, razão pela qual seu desvelo para com a representação do Cavaleiro de Fênix também foi incutido na direção desta produção (vide entrevista na página 13).
Como o senhor Araki, que se encarregara da animação dos 3 filmes anteriores, devotava todo o seu empenho ao epílogo da série de TV, a supervisão da animação e o character design foram confiados ao senhor Masahiro Naoi.
Produzido por uma equipe liderada pelo senhor Masayuki Akehi e pelo jovem diretor de animação Masahiro Naoi, o trailer do quarto filme contou com um acabamento esmerado
Além da parceria sacramentada nos episódios 15, 36, 41, 56, 86 e 96 do anime, o senhor Naoi trabalhou com o senhor Akehi em várias produções da Tōei, a exemplo de Hokuto no Ken (1984) e Slam Dunk (93).
Por sugestão do sr. Suga, optou-se por basear a história na Divina Comédia, de Dante Alighieri. A título de digressão, é importante salientar que, devido a seu engajamento na direção de Devilman (1972), o sr. Akehi até conhecia o autor, mas, como não havia chegado a dedicar-se à leitura do longo épico, é dito que se encarregou de ler o livro às pressas pelo trabalho.
Em consonância com o teor da obra, foram encomendadas ao senhor Yokoyama melodias com forte conotação religiosa e, para marcar a conclusão das longas batalhas, foi composta para o encerramento uma canção que refletia a Sinfonia do Novo Mundo, de Dovrak.
A atmosfera divinal do quarto filme foi magistralmente engendrada pela trilha sonora composta pelo maestro Yokoyama
Com essa produção, a versão animada de Saint Seiya chegou ao fim da linha. Por enquanto, era o fim do espetáculo. Contudo, os filmes e a série de TV continuaram guardados nos corações dos fãs, e os sentimentos dessas pessoas finalmente culminaram na realização dos OVAs de Hades: A Saga do Santuário (2002) e na produção do novo filme, Prólogo do Céu (2004).
Bibliografia:
Saint Seiya Anime Special (Shūeisha),
Saint Seiya Cosmo Special (Shūeisha).