Detalhes da Produção
Introdução ao Phoenix Box
Aqueles que haveriam de se tornar os capítulos finais da obra constituem a Saga de Posseidon, compilada neste volume. Sucedendo a Asgard, que chegou a 24 episódios, o arco do Imperador do Oceano era uma fase concomitante ao mangá; porém, como o fim da difusão já havia sido decretado, a produção ficou limitada à cota de meros 15 episódios.
A Saga de Posseidon se inicia no epílogo da Epopeia do Anel Dourado, no episódio 99. No encalço de Saori, que foi tragada pelo mar, e sem qualquer tempo para se recuperarem dos ferimentos sofridos nos embates com os guerreiros-deuses, Seiya e Shun abrem as cortinas da batalha rumando para o Santuário Submarino; e o desenvolvimento de toda a saga ocorre numa velocidade sem precedentes.
A execução acelerada também foi um produto da decisão de encerrar a transmissão no episódio 114, decisão essa que contrariava as expectativas iniciais. No entanto, o fato de a produção ter culminado num trabalho que não permite que sintamos esse afã se deve à sublimidade da composição da série, que merece uma menção especial.
Esse esplendor da roteirização foi demonstrado no episódio final, parte em que não podemos deixar de louvar a perícia do senhor Yoshiyuki Suga, que empreendeu uma estupenda harmonização das narrativas, ainda que se trate de um texto posterior à completude do esqueleto do mangá.
Apesar de a cena final destoar bastante dos quadrinhos, por intermédio da inserção da passagem da sereia — que aparenta ser a verdadeira forma de Tétis — saltando entre as ondas, o seriado foi finalizado como um conto ainda mais feérico.
Tétis se transfigura em sereia
A priori, por não haver um estoque de quadrinhos no período inicial da difusão, Saint Seiya foi um programa levado a cabo quando ainda não era possível vislumbrar a diretriz a ser seguida; no entanto, na época da Saga de Posseidon, além de o processo de animação, assim como o plano de direção de episódios, já estar consolidado, tratava-se de uma produção cujo curso já havia sido confirmado, razão pela qual a história foi projetada num passo extremamente próximo da obra-mãe.
Se a Saga de Asgard viu a plenitude de Saint Seiya como anime, poder-se-ia chamar a Saga de Posseidon, na qualidade de animação do mangá produzida com esse know-how, de versão perfeita.
Contando com uma profusão de capítulos com a animação dirigida pelo senhor Shingo Araki e também com os flancos guarnecidos por episódios com direção de animação a cargo de Eisaku Inoue e Tomoko Kobayashi, altamente populares entre os fãs, a qualidade da Saga de Posseidon figura entre as mais altas de toda a série.
Com um acabamento comparável ao das produções para o cinema, os capítulos finais, em especial, não parecem nem um pouco datados, mesmo quando vistos à luz dos tempos atuais.
Devido à exígua quantidade de episódios e por se tratar do desfecho do seriado, a reputação da fase do Imperador do Oceano não se sedimentou, mas, assistindo a todos os capítulos desta caixa do início ao fim, o espectador há de obter uma identificação diversa da auferida à época em que acompanhava a difusão em tempo real.
Por fim, como um episódio desconhecido da Saga de Posseidon, gostaríamos de fazer uma referência a um incidente relacionado ao terceiro volume da Jump Gold Selection. Originalmente, mesmo no que tange ao cronograma de produção do anime, as ilustrações do encerramento do seriado jamais ficariam prontas a tempo para a publicação do último volume da coletânea (de fato, os trechos dos capítulos finais não foram veiculados nas páginas coloridas); contudo, dizem que, graças à extrema solicitude da Tōei Dōga (atual Tōei Animation), aos 45 minutos do segundo tempo, na hora de enviar o material para a impressão, as tomadas dos capítulos derradeiros, incluindo a sequência da última cena, foram entregues, sendo registradas às pressas na seção reservada às páginas monocromáticas.
Foi o sentimento de que as ilustrações finais deveriam ser publicadas no livro que adornava o desfecho da produção que realizou essa brilhante façanha, um feito que também pode ser considerado um milagre.
Como também podemos depreender desse evento, não é nenhum exagero creditar o sucesso da série ao fato de todos os envolvidos na produção terem cooperado como os cavaleiros da trama, a começar pelo contingente alocado diretamente na confecção filmográfica, a exemplo dos escritores, da força-tarefa de diretores de episódios, do plantel da animação e dos dubladores, assim como a emissora de TV, os patrocinadores, a editora e demais membros.
Indubitavelmente, havia “algo” ali que ia além de um mero negócio. Os sentimentos das pessoas ligadas ao trabalho foram incutidos na imagem e nos produtos, transformando o que deveria ser um programa infantil de segunda categoria numa lenda que ecoa na eternidade.
É desnecessário dizer que, extrapolando o microcosmo dos envolvidos na animação, esses sentimentos ficaram gravados nas almas dos espectadores que os receberam e hoje, no introito do século 21, tornaram-se a força motriz da produção da fase de Hades, que jamais havia sido animada, e da Saga do Céu, tachada até mesmo de devaneio.
O mito dos cavaleiros ainda não chegou ao fim, e todos sabem por quê. Quando este mundo estiver ameaçado pelo mal, os guerreiros da esperança se levantarão.