“(…) ainda que a obra também seja esplêndida, nós animadores somos gratos por ter podido fazê-la enquanto nos divertíamos.”
ENTREVISTA Nº 1 — CHARACTER DESIGN
Para começar, o senhor poderia nos contar como se deu seu envolvimento em Saint Seiya?
Como foi logo na época em que a serialização do mangá havia começado na Shōnen Jump semanal, eu não tinha nem ideia do que era Saint Seiya. Num belo dia, recebi um telefonema do senhor Yoshioka, diretor da Tōei Animation, que me perguntou: “Não quer experimentar este tipo de personagem?” Foi assim que a oportunidade apareceu.
À primeira vista, ao conseguir fazer os desenhos lançando mão da experiência amealhada nos trabalhos do passado, eu aceitei despreocupadamente. Primeiro, desenhei uma amostra para a avaliação do mestre Kurumada. Quando o produtor Hatano, que me fez a gentileza de levar os desenhos ao mestre Kurumada, disse que consegui causar uma boa impressão no autor, fui capaz de obter a autoconfiança de que estava no caminho certo.
O design das armaduras sofreu alterações na versão animada. Diga-nos como isso ocorreu.
A princípio, como nos baseamos no mangá nos modelos que desenhamos, as armaduras também traziam o design dos quadrinhos. No entanto, à medida que o projeto avançava, vieram com a história da conversão em brinquedos, e fizemos incontáveis ajustes em relação às miniaturas com o pessoal da Bandai. Por esse motivo, levamos muitas e muitas horas para chegar àquele design.
A partir daí, prosseguimos em consonância com o mangá ou de acordo com os protótipos concebidos pela Bandai e coisas do tipo, mas, é claro, passamos por um calvário no início.
Atributos como um leiaute poderoso pareciam sobressair em Saint Seiya…
Eu tencionava conseguir a forma de compor aqueles leiautes. Eu queria desenhar coisas com um leiaute realmente apologético. E, justamente nessa época, uma obra chamada “Seiya” se interpôs no meu caminho para me dar essa oportunidade.
Como o daquela corrida em alta velocidade…
Na verdade, adotando a postura inclinada para frente, parece rápido. Ainda que, na prática, aquele sprint seja totalmente impossível… Na hora de correr, os braços provavelmente se moverão também, mas, como este deslocamento consumiria imagens-chave, nós nos valemos de expedientes como deixar de movimentar os membros superiores… (Risos.)
Trata-se de uma sensação de velocidade oriunda da economia de energia. O fato é que a restrição do número de desenhos também se torna um auxílio para o animador. Quando nos dizem: “Neste trabalho, vocês não podem usar mais que 3.000 imagens-chave”, nós ficamos aliviados.
Fazendo das tripas coração para diminuir os quadros desse limite, se a quantidade ficasse em 2.000 folhas, nós éramos elogiados naqueles tempos, sabe? A graça está justamente em como fazer para mostrar [os movimentos] reduzindo a quantidade, entende?
Se o senhor tivesse de apontar um personagem predileto, quem seria?
Como devem imaginar, é realmente o Seiya. Os protagonistas das obras que fiz no passado estão todos ínsitos no Seiya. Kyojin no Hoshi, Ashita no Joe… todos os elementos dos personagens principais dos trabalhos dos quais eu havia participado até então estavam incutidos no Pégaso.
O mesmo ocorre com os outros quatro, mas, no Seiya, essas características aparecem de forma mais conspícua. E também há o fato de eu ter feito um montão de desenhos dele… (Risos.)
Também surgiram os personagens originais do anime. Qual foi o mais marcante para o senhor?
O Cavaleiro de Cristal. Além do fator de ter sido o primeiro cavaleiro original, até então, não tinha aparecido um personagem desse estípite em “Seiya”. É que, quando você cria esse tipo de personagem e o deixa de molho por um episódio, eventualmente passa a querer colocá-lo para fora novamente.
Era um personagem difícil de desenhar, mas… (Sorriso amargurado.) depois disso, creio que ele se tornou o paradigma para os personagens autóctones que foram aparecendo em seguida.
Existem episódios que ficaram gravados na mente do senhor?
Como não poderia ser diferente, o primeiro episódio. É bom quando aquele sentimento de que algo está para começar vem à tona, não é? E também o episódio em que o domador de corvos Jamian aparece (episódio 30). Naquele capítulo, havia uma cena em que o Seiya saltava com todas as suas forças. No início, mesmo olhando o storyboard, eu não compreendi o que ele estava fazendo. Mas, vendo a cena finalizada, eu consegui entender: “Ah, então era isto…”
Eu inferi que o diretor de nome Yamauchi era alguém que fazia o storyboard pensando em cada detalhe, até nessas nuances. Já que ele está sempre ciente de tudo, mesmo empilhando um close após o outro, também deve estar bem consciente do mundo exterior, não?
Para terminar, gostaríamos de uma mensagem aos fãs.
Mesmo que a obra Saint Seiya também seja esplêndida, nós que estamos engajados nos desenhos somos gratos por ter conseguido fazê-la enquanto nos divertíamos.
Uma vez que o objetivo primordial do artista é, sem dúvida, a diversão do espectador, além de ficar extremamente contente com um reconhecimento desta magnitude, ele ainda se converte em forças para o próximo trabalho.
Muito obrigado.
2003 — entrevista concedida num lugar não especificado da área metropolitana