Tetsuo Daitoku
“Ultimamente, tenho andado preocupado com essa enxurrada de fanzines de paródia. Será que você não teria alguma solução para este problema?” Foi há uns 15 anos. Essa consulta se deu numa época em que eu havia me desligado da editora em que trabalhara e estava batendo perna por aí. Meu interlocutor era o senhor Kazuhiko Torishima (atualmente, exerce a função de chefe do 3º departamento editorial da Shūeisha), que ganhara fama como editor encarregado de Dr. Slump, do semanário Shōnen Jump, da Shūeisha.
Se questionado, eu diria que a transposição das obras da Jump é uma coisa boa; no entanto, o processo dá origem à proliferação dos fanzines de paródia. Considerando que, entre essas publicações, há títulos que também vendem dezenas de milhares de cópias, revistas com o repulsivo conteúdo yaoi e aquelas que simplesmente veiculam os documentos de criação do anime, tenho ouvido que as consultas dos autores das obras originais também vêm aumentando. Nesses contatos, eles reivindicam providências das editoras, como empresas responsáveis.
Os fanzineiros são, invariavelmente, jovens entre os 15 e 25 anos. Além de haver um constrangimento das editoras em acioná-los judicialmente por violação de direitos autorais, sabe-se que as companhias não tencionam adotar uma postura antagônica à atividade dos fanzines. As obras Captain Tsubasa e Saint Seiya eram exemplos lapidares dessa dicotomia.
Se bem me recordo, minha resposta ao senhor Torishima foi mais ou menos assim: “Como a Shūeisha é a editora, ela pode lançar publicações do anime! Afinal, a falta destes livros também tem o condão de compelir as pessoas, na qualidade de fãs, a criar seus próprios fanzines. À primeira vista, pode parecer que estamos jogando óleo no fogo, mas creio que esta seja, a despeito das aparências, a medida mais eficaz para coibi-los. Ameaçá-los com medidas legais só vai gerar oposição. Isso provavelmente seria inútil”.
A resposta do senhor Torishima foi sucinta: “Entendi. Neste caso, vamos lançar um anime mook. Como você estava trabalhando na edição de revistas de animes, faça-nos um livro do anime de Saint Seiya”.
O Saint Seiya Anime Special nasceu desse colóquio. A edição foi capitaneada pelo antigo editor-chefe da Shōnen Jump semanal Toshimasa Takahashi, que infelizmente faleceu precocemente há pouco tempo, e pelo atual editor-chefe da Super Jump, o senhor Kensuke Itō. Analisando pelos paradigmas atuais, eram membros galácticos.
Contando com uma prolífica colaboração do mestre Masami Kurumada, o autor do mangá, nós conseguimos construir um livro ilustrado de anime que só a Shūeisha pode fazer.
Resultado do sincretismo dos belos personagens do mestre Kurumada e de um maravilhoso universo que tem a mitologia como base, Saint Seiya mesmerizou uma legião de entusiastas logo no início da serialização. E nós estávamos de olho nessa febre.
Levando em conta que os quadrinhos foram convertidos com o recrutamento de um plantel onírico da Tōei Animation e de Shingo Araki & Michi Himeno, os papas da animação, não havia razão para que a publicação não chamasse a atenção das pessoas. Aliás, seria até estranho não transformar este conteúdo em livro.
Entretanto, como seria o primeiro anime mook do departamento editorial da Jump, durante a fase preparatória, tivemos de confeccionar protótipos, testar padrões de design…
A aguardada Jump Gold Selection fez um tremendo sucesso, desaparecendo dos estoques das lojas num átimo. Tratando-se também de um divisor de águas na minha carreira, as reminiscências das publicações de Saint Seiya, ainda hoje, são cristalinas para mim.
Atua na produção editorial e como representante da editora Kisōsha. Tornou-se independente ao passar pela chefia do mensário OUT. Participou, posteriormente, do projeto e da edição de vários livros ilustrados de animes. No que se refere a Saint Seiya, engajou-se na edição das coletâneas Anime Special [volume 1, volume 2 e volume 3] e Jump Anime Comics e do almanaque Cosmo Special